Marcos Magalhães*
Ainda estão pela frente as prévias do PMDB, a fumacinha branca do alto tucanato e até mesmo o esperado fim da novela sobre a recandidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto. Mas cada portador de uma cédula eleitoral já sabe o que não vai encontrar pela frente na urna eletrônica em outubro: um candidato decididamente capaz de empolgar o país.
O enredo do Brasil de hoje não combina com as imagens de um presidente criativo e audacioso que conquista corações trinta anos depois de sua morte. Ao contrário, a disputa pelo comando do país se encaminha cada vez mais para figuras que são ou se tornaram mais opacas, apesar dos reconhecidos atributos políticos que os levarão à ante-sala do gabinete presidencial.
Depois do fim do regime militar, não faltaram candidatos a uma nova liderança. Estavam ali homens do porte de Mário Covas e Leonel Brizola, colocando sua história à disposição dos eleitores. Começava a despontar o líder operário que precisou disputar quatro eleições para se tornar presidente. Mas acabou vitorioso o governador de um pequeno estado que até então era quase um desconhecido. Dono de uma moratória inflamada, Fernando Collor contagiou um eleitor ávido por modernidade, mas acabou se tornando antigo menos de três anos depois, quando foi removido do cargo por denúncias de corrupção.
Em 1994 e 1998, o grande eleitor foi o Plano Real. Fernando Henrique Cardoso teve vitórias fáceis depois de atrelar a sua imagem à do político que havia conseguido domar a inflação. Podia não ser carismático. Mas empolgou boa parte da população pela perspectiva de virar uma página tão dolorosa quanto a de privação da liberdade.
Quatro anos depois da reeleição de Fernando Henrique, porém, a fadiga política com o modelo tucano e os precários resultados econômicos abriram o caminho do Palácio do Planalto para o metalúrgico que já havia rodado todo o país, vendendo a imagem de grande transformador, durante três campanhas anteriores. A eleição de Lula foi um momento de comoção nacional, de encontro histórico com as possibilidades de um Brasil diferente, mais justo e menos desigual.
É quase certo que a foto de Lula esteja mais uma vez na urna eletrônica, em outubro. Mas o candidato à reeleição em 2006 terá pouco a ver com o Lula empolgante de 2002. O desabamento moral de seu partido vai aparar boa parte do carisma do presidente-candidato. E os escassos resultados econômicos dos últimos três anos limitarão a largura de seu sorriso.
Do outro lado, novos e velhos atores que buscam espaço no primeiro e no segundo turnos procuram se mostrar à vontade no papel de protagonistas. Nenhum deles, porém, parece até o momento ter condições de assumir com tranqüilidade a condição de grande motivador do país. O voto será mais mental em 2006. Se ainda tiver algo de emocional, estará mais para cobrança das promessas perdidas. Nas urnas não haverá nenhum caçador de marajás, domador de dragões ou herói popular. Esta será a eleição dos normais.
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