As três representações que o presidente do Senado terá de enfrentar nos próximos dias são os menores problemas para Renan Calheiros (PMDB-AL) daqui por diante. Aliados admitem que o desgaste sofrido pelo senador desde o início do processo de cassação de seu mandato não terminou com a sua absolvição no plenário ontem (12). Renan precisará de tempo, um ano e meio ou talvez o mandato inteiro, avaliam, para recuperar o poder acumulado ao longo de toda a carreira política.
“Não há como escapar. O desgaste, esse prejuízo ao prestígio do presidente, aconteceu”, admite Wellington Salgado (PMDB-MG), integrante da tropa escalada para defender Renan no Conselho de Ética. Para o peemedebista, o placar apertado pela absolvição aponta o tamanho da sangria que o presidente da Casa terá de estancar. Salgado e os aliados previam pelo menos oito votos a mais dos que os 46 obtidos na votação secreta, computadas aí as seis abstenções.
Mesmo assim, eles entendem que a vitória foi importante para iniciar a recuperação política de Renan, inclusive na relação com o Palácio do Planalto. “O negócio é ganhar, mesmo que seja com gol de mão aos 45 do segundo tempo”, comemorava Salgado, em telefonema ao líder do seu partido, Valdir Raupp (RO).
Outro aliado de primeira hora de Renan, Almeida Lima (PMDB-SE) comemorou o fato de a opinião pública não ter determinado o resultado da votação. “Deveríamos fazer ouvidos de mouco, porque a população não teve acesso aos autos do processo. Eu só abriria os meus ouvidos se estivéssemos tratando da legalização do aborto ou de qualquer outro assunto de relevância social”, argumentou ele, um dos três relatores do caso – o único a inocentar o colega.
Para Almeida Lima, as outras representações contra o presidente do Senado não irão prosperar. A opinião é compartilhada em parte pela oposição. A denúncia de que Renan fez lobby para a cervejaria Schinchariol é fraca, na avaliação tanto do autor do relatório derrotado ontem em plenário, Renato Casagrande (PSB-ES), quanto do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Entretanto, ambos depositam esperanças nas outras duas representações, que envolvem o senador com laranjas em empresas de rádio e no relacionamento com outro lobista. “A terceira e a quarta representações são mais consistentes, mas precisam ser energizadas”, afirma Casagrande (leia mais sobre as denúncias).
Virgílio diz que os tucanos se debruçarão na apuração desses fatos. Mas integrantes do seu partido duvidam que as representações cheguem de novo ao plenário. “Não acredito que os outros processos retirem Renan do Senado”, admite Sérgio Guerra (PSDB-PE). “Nós perdemos, mas os 35 votos contra Renan vão lhe trazer muita dificuldade”, completa.
Conversa e habilidade
Por isso, o presidente absolvido terá de gastar muita conversa com os colegas para restabelecer, devagar, o seu domínio. Ontem à noite, ele já indicava isso na nota em que comemorava o resultado do julgamento. “A partir da decisão madura e soberana do Plenário do Senado, já comecei a procurar os líderes e presidentes de partidos para prosseguirmos na agenda legislativa que de fato interessa ao país, à população” (leia a íntegra).
Valter Pereira (PMDB-MS), que disse ter votado contra o colega de partido, acredita que o presidente vai tentar “cicatrizar as feridas” abertas. “Ele vai depender de muita habilidade, muita conversa. Ele não pode deixar de levar em conta que o Senado está dividido.”
Salgado acredita que Renan conseguirá atingir esse objetivo. “Ele não foi eleito presidente do Senado duas vezes à toa. O Renan é muito bom, ele conversa, liga, articula”, elogia o aliado. No que depender do líder do governo, o presidente do Senado terá apoio. “O desafio de todos os políticos é fazer com que o Senado volte a funcionar”, ressalta Romero Jucá (PMDB-RR).
Antes mesmo da confirmação do resultado da votação, aliados e opositores já descartavam qualquer hipótese de renúncia na presidência da Casa. Renan não largaria o posto, como fez durante todo o processo. “Eu vou dizer a ele para tirar 15 dias de férias, mas ele não vai aceitar”, brinca Salgado.
Estratégia
Mas, a despeito do alívio momentâneo de Renan, a crise da instituição continua, avaliam aliados e opositores de última hora. Garibaldi Alves (PMDB-RN) se disse preocupado com a má imagem do Senado. O peemedebista, que anunciou anteontem que votaria contra Renan, mostrou-se surpreso com as abstenções. “Foi uma estratégia bem pensada”, disse ao se referir à tática de esconder os votos a favor do presidente da Casa.
Arthur Virgílio também se indignou com as seis abstenções. “Eu estava preparado para perder ou para ganhar, mas não para isso. Não aceito um canalha votar pela abstenção”, disparou. Na mesma linha, Sérgio Guerra acusou o PT de liderar o movimento dos neutros. O petista Eduardo Suplicy (SP) saiu em defesa dos colegas. Afirmou que houve abstenções em todos os partidos, inclusive entre tucanos e democratas.
Apesar disso, petistas discordavam da decisão da liderança do partido no Senado de liberar a bancada. Um dos mais irritados era o deputado Paulo Rubem Santiago (PE), que acompanhou a sessão. “Agora, a oposição vai navegar em céu de brigadeiro e, com razão, colocará a culpa no partido. Não entro no mérito da acusação, mas nunca poderíamos ter liberado a bancada e ter deixado a sessão ser secreta”, protestou.
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