O maior dilema da oposição, incluindo a não-partidária, em relação à presidente Dilma Rousseff, é como calibrar as críticas à sua gestão, de modo a enfraquecê-la na disputa de 2014, porém sem inviabilizá-la como candidata. As razões para tanto são muitas e são analisadas neste texto.
Já ficou provado, nestes dois últimos anos, que denúncias de corrupção no governo não dão liga. Apesar delas, a popularidade da presidente continua crescendo. A oposição, que insiste no denuncismo e na judicialização da política, não apresenta projeto alternativo de poder nem dispõe de lideranças com igual potencial eleitoral dos candidatos do PT, o que só amplia seu dilema.
O PT, para os próximos dois pleitos presidenciais, dispõe de dois candidatos fortes: Dilma, para a reeleição em 2014, ou Lula – que deseja que seu último julgamento seja feito pelas urnas – para 2014 e/ou 2018. Para além de 2018, o partido espera poder credenciar Fernando Haddad, com boas gestões na prefeitura e posteriormente no governo do estado, para dar continuidade ao projeto de poder.
Esse cenário para 2014 deixa os opositores e seus defensores apavorados, sem saber exatamente o que fazer, incluindo alguns articulistas e proprietários da grande mídia, porque inviabilizar Dilma significa ressuscitar a candidatura de Lula, contra quem têm feito uma campanha massacrante.
De fato, Dilma é uma executiva, possui perfil mais técnico e, do ponto de vista da economia, não faria nada muito diferente de Lula, mesmo sendo mais flexível às parcerias com a iniciativa privada. Política e eleitoralmente, porém, há uma diferença abissal. Ele possui grande liderança e carisma. Ela se elegeu graças aos resultados do governo e o prestígio pessoal de Lula e, aparentemente, não se sustentaria politicamente divorciada do projeto político liderado por ele.
A lógica é simples. A percepção corrente é de que o prestígio da presidente Dilma se exaure em quatro ou, na hipótese de reeleição, em oito anos. O de Lula, uma liderança carismática, se mantém no tempo, com ou sem mandato, mesmo com as reiteradas tentativas de denúncias para envolver seu nome em escândalos.
Politicamente, Lula parece uma espécie de água viva (Turritopsis dohrnii) que rejuvenesce em momentos de crise ou quando ferida e não morre nunca. Quanto mais batem nele, mais ele consolida seu prestígio entre os eleitores, notadamente os mais humildes, segundo as recentes pesquisas.
Em razão disso, tudo leva a crer que 2013 será um ano em que a presidente deixará de ser poupada, como em certa medida o foi em 2011 e 2012, numa tentativa de fragilizá-la na disputa em 2014. Mas os ataques, que vão mirar os problemas de gestão, as falhas na infraestrutura e uma suposta intervenção estatal na economia, serão dosados para não inviabilizá-la como candidata.
Por mais irônico que isto possa parecer, um bom cenário para a oposição e seus defensores na mídia será ter a presidente Dilma como candidata à reeleição, preferencialmente enfraquecida, já que não tê-la na disputa significa enfrentar Lula, uma candidatura com fortes laços e vínculos populares, além de ter deixado grande legado no combate às desigualdades.
Além das dificuldades naturais de enfrentar uma candidatura carismática como a de Lula, com quem os mais pobres têm uma grande dívida de gratidão, setores da oposição preferem disputar com Dilma porque imaginam que ela, na hipótese de reeleição, não faria alterações no marco legal das comunicações, como fez recentemente Cristina Kirchner na Argentina, poderia promover mudanças nas relações de trabalho, bem como ampliar o processo de transferência de atividades produtivas e de prestação de serviços estatais para a iniciativa privada.
É claro que ainda é cedo para especular sobre 2014. Entretanto, mantido o cenário de crescimento econômico, ainda que modesto, e se a oposição não adotar uma agenda positiva, capaz de transmitir esperança e confiança (esperança de que o status quo mudará para melhor e confiança de que o candidato dela e sua equipe transformação isso em realidade), dificilmente o projeto de poder da atual coalizão no governo será interrompido.
As candidaturas fora do PT são poucas e problemáticas. Pela oposição, o PSDB parece que vai de Aécio Neves, mas não existe unidade partidária, e Marina Silva aguarda a criação de um partido, para poder viabilizar sua candidatura. Eduardo Campos, que é da base do governo federal, tem sido lembrado como potencial candidato, mas tudo leva a crer que marche com Dilma ou Lula na expectativa de que possa concorrer em 2018.
O debate sobre a sucessão de 2014, portanto, já está posto e, a julgar pelo fracasso do denuncismo, terá conteúdo programático. Isso fará com que a presidente tenha clareza sobre quem são seus aliados e adversários nesse processo.
Nessa perspectiva, a tendência é que a presidente, além do setor empresarial, ao qual tem dado uma atenção especial, também busque dialogar com seus verdadeiros parceiros, tanto nos movimentos sociais, com os quais mantém uma relação fria e distante, quanto com os partidos programáticos da base.
No momento em que os projetos forem colocados e a grande mídia começar a questioná-la diretamente, como já dá os primeiros sinais na questão da energia elétrica (crítica à questão das tarifas versus suposto risco de apagão) e no episódio do fechamento do superávit fiscal de 2012, a presidente precisará de sustentação e, caso assuma suas bandeiras e reivindicações, poderá contar com parcela majoritária dos movimentos sociais.
Mantida a trajetória política atual e sem problemas graves na economia, as candidaturas de oposição em 2014 servirão mais para alavancar novos nomes e partidos para 2018, além de promover um debate em bases programáticas – o que efetivamente não aconteceu na eleição de 2010 – do que propriamente ganhar o pleito, derrotando Dilma ou Lula, dependendo de quem seja o candidato da situação. A aposta, portanto, irá para 2018, quando esperam que nem Dilma nem Lula estejam na disputa.
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