Thomaz Pires e Fábio Góis
Um palhaço em São Paulo, um jogador de futebol no Rio, veteranos de eleições, filhos de políticos conhecidos no Paraná e em Alagoas. Esses são alguns dos personagens que acordarão no domingo na eventual disputa de um recorde. Em 2002, Enéas Carneiro, atrás da barba espessa e da cara enfezada, foi eleito deputado federal com mais de um milhão de votos, puxando com ele outros cinco desconhecidos militantes de seu partido, o Prona (um deles, o médico Vanderlei Assis de Souza, foi eleito deputado por São Paulo com apenas 275 votos!).
Veja a lista dos campeões de votos em cada estado
Agora, Tiririca, candidato pelo PR em São Paulo; Paulo Maluf, candidato do PP em São Paulo; Romário, candidato pelo PSB no Rio de Janeiro; Anthony Garotinho, candidato do PR também no Rio; Zeca Dirceu, candidato do PT no Paraná e filho do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e Renan Filho, filho do senador Calheiros e candidato pelo PMDB em Alagoas, são alguns dos nomes que despontam nas eleições para deputado federal como potenciais campeões de voto no domingo.
Levantamento do Congresso em Foco apresenta uma lista com 90 candidatos que devem consagrar-se no domingo (3) nas eleições proporcionais dos 26 estados e no Distrito Federal. A consulta levou em consideração pesquisas recentes e a avaliação de institutos especializados, embora não seja possível antecipar o resultados diante do alto número de candidatos.
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O complexo sistema proporcional de votos estimula os partidos a buscarem celebridades, nomes conhecidos, para se tornarem candidatos. No sistema proporcional, cada candidato precisa atingir um coeficiente eleitoral preestabalecido em cada estado, um cálculo que leva em conta o número de votos válidos e o número de cadeiras a serem preenchidas. Os votos que o candidato consegue além do coeficiente são repassados para o segundo candidato mais votado da sua coligação. Quando ele também alcança o coeficiente, o que sobra é passado para o terceiro e, assim, sucessivamente. Assim, um candidato bem votado “puxa” com ele outros candidatos. É isso – e não qualquer tipo de preocupação cívica dessas celebridades com o país – que explica a entrada na disputa de jogadores de futebol, radialistas, artistas de TV, radialistas e capas de revista de mulheres nuas.
Previsão Possível
Coordenador do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz avalia que as eleições proporcionais deste domingo deverão seguir a velha lógica da combinação entre popularidade e influência política. “Não é possível fazer previsões de nomes. Mas sem dúvida, é possível afirmar que os campeões de votos nesta eleição estarão ancorados pela popularidade ou parentesco familiar com políticos já consagrados. Assim tem sido”, avalia.
Seguindo o princípio da eleição proporcional, o critério estabelecido permite efeitos muitas vezes questionados, como o fato de candidatos que conquistam muitos votos puxarem outros menos expressivos. Em todas as eleições, há casos de concorrentes que, embora com mais votos que alguns dos eleitos, ficam de fora devido à votação recebida por sua coligação.
“Os partidos estão cada vez mais atentos a esses puxadores de votos. Eles passaram a ser peça fundamental nas eleições, seguindo as regras das eleições proporcionais”, explica Antônio Augusto de Queiroz do Diap.
Colado nos candidatos campeões de votos, também aparece uma grande diversidade de nomes que podem surpreender e chegar ao pódio, mesmo que no segundo lugar, na corrida de votos. O ex-goleiro do Grêmio Danrlei, filiado ao PTB do Rio Grande do Sul, reforça o time dos atletas que buscam trocar os gramados pelo Salão verde. O ex-atacante Marcelinho Carioca (PSB-SP) também está na lista.
Na ala artística, aparecem nomes como o cantor Kiko (DEM-SP), do grupo KLB – a propósito o “L” do grupo, Leandro, irmão de Kiko, também é candidato, a uma vaga de deputado estadual.
Estreantes e veteranos
De acordo com os registros nos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), neste ano 407 deputados tentam a reeleição. Em alguns estados, como na Bahia, o vencedor repetirá desempenhos anteriores, caso de ACM Neto (DEM). Em outros, será um estreante. Caso do Distrito Federal, onde as pesquisas indicam vitória de dois deputados distritais: José Antonio Reguffe, do PDT ou Paulo Tadeu, do PT. De acordo com o instituto de pesquisa Dados, Reguffe pode obter no domingo mais de 200 mil votos. O recorde na capital é do ex-governador José Roberto Arruda, que em 2002 obteve mais de 300 mil votos quando se elegeu deputado federal.
Mesmo com mais de 10 mil entrevistas nas diferentes regiões administrativas da capital durante o período eleitoral, o diretor de Marketing do instituto Dados, Renato Riela, afirma ser difícil antecipar números. “É muito difícil fazer projeções do número de votos que os candidatos podem somar. Por incrível que pareça, o cenário pode apresentar mudanças consideráveis na semana que antecede a eleição”, afirma.
Seguindo as votações recordistas nas eleições, o candidato Paulo Maluf, também cotado para repetir a dose neste domingo, foi o deputado mais votado com 739.827 votos (3,63% dos votos válidos) em 2006.
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