Os deputados darão à sociedade nesta semana seu parecer sobre o futuro do Brasil. A votação do novo Código Florestal brasileiro está prevista para iniciar nesta terça-feira (10). A nova legislação de florestas vai apontar os rumos do desenvolvimento para o país. A partir do texto final aprovado, será possível saber que caminhos o Brasil pretende seguir.
Na semana passada, nos corredores do Congresso, um pequeno produtor rural do interior de São Paulo se aproximou de um grupo de jornalistas para defender seu ponto de vista sobre o projeto do deputado Aldo Rebelo, que modifica o Código Florestal. A conversa foi emblemática. Mostrou que as discussões passam pelos pares de sapatos…
Bem alinhado, com terno impecável e acompanhado de colegas de profissão, o pequeno produtor defendeu que as áreas de preservação permanente (APP) na beira dos rios estão inviabilizando a produção agropecuária nas pequenas propriedades do país. Essas áreas são espaços de vegetação às margens de cursos dágua que, por lei, devem ser preservados, sem a permissão de corte raso (desmatamento).
Segundo o produtor, se o dono de uma propriedade com muitos córregos for obrigado a deixar a largura mínima de 30 metros de vegetação em cada margem de cada córrego, é melhor ele deixar a terra e ir viver na periferia da cidade grande. Ele justificou que as APPs estão levando à perda significativa de área produtiva, o que impede o plantio e, por sua vez, acaba com o sustento do agricultor.
Na conversa, o agricultor paulista defendeu que é preciso aumentar a produção agropecuária no Brasil e justificou: Minha esposa, por exemplo, tem por baixo uns 200 pares de sapato. Como é que a gente vai dar conta de todo esse consumo se não mudar o Código Florestal?
Aí está a linha de raciocínio de boa parte dos argumentos para mudar o Código Florestal: o consumismo. Passou a ser mais importante elevar a escala de produção para acompanhar o aumento insano do consumo, ao invés de proteger recursos naturais para evitar a escassez de água, de solo fértil, de ar puro e garantir a preservação da vida na Terra.
O consumismo, numa cultura mais preocupada em ter do que em ser, está por trás das mudanças do novo Código Florestal. Mas o problema é que não se fala nisso. A mentalidade louca de que o modelo de sucesso social é ter 200 pares de sapato domina. Mas é um equívoco achar que esse padrão de consumo deve ditar nossa escala de produção.
É preciso atentar que o novo Código Florestal vai apontar o modelo de desenvolvimento que o Brasil vai seguir. Somos, ao mesmo tempo, o maior produtor agrícola e detentor de grandes áreas de preservação do mundo. Neste contexto, devemos nos questionar: queremos continuar a perseguir a mesma lógica falida de crescimento econômico ou vamos estabelecer um novo parâmetro de desenvolvimento?
O breve diálogo com o pequeno produtor rural mostrou que, por trás de argumentos convincentes sobre a necessidade de rever a legislação ambiental, está uma lógica ultrapassada para o futuro. No nosso presente, ainda há espaço para pessoas como a ex-primeira-dama filipina Imelda Marcos, com seus 3.000 pares de sapato. Mas no futuro, espera-se que os ídolos e musas sejam outros. Portanto, precisamos trabalhar essas mudanças do Código Florestal sob outra lógica, que passa obviamente pela redução do consumo.
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