Sylvio Costa e Renaro Cardozo
Segue a relação dos 15 candidatos mais ricos apontados pelo levantamento, de acordo com os valores informados pelos próprios candidatos. O critério adotado tem a desvantagem de desconsiderar omissões de bens, como os R$ 14 milhões em cabeças de gado às quais o senador José Maranhão (PMDB-PB), que disputa o governo paraibano, atribuiu valor zero.
Se o procedimento fosse seguido, José Maranhão apareceria em sexto lugar nesta relação e não em 15º. Em compensação, seu patrimônio seria avaliado de modo diferente que o dos demais concorrentes, já que, na maioria dos casos, não há condições de retificar as informações fornecidas pelos candidatos (sobretudo quando se referem a bens protegidos por sigilo legal ou comercial, como aplicações e depósitos bancários, valor de mercado de participações societárias etc.)
No caso dos seis primeiros mais ricos, que concentram 73% do patrimônio total, apresentamos um perfil um pouco mais detalhado de cada um, com foco na questão da origem patrimonial.
1) Ronaldo Cezar Coelho (PSDB-RJ) – candidato a senador – R$ 492,6 milhões de patrimônio – origem da fortuna: mercado financeiro.
Atualmente no quarto mandato de deputado federal, o ex-banqueiro não apresenta sinais de ter enriquecido com a política. Em 1983, quando tinha apenas 36 anos e era o próspero dono do Multiplic, vendeu o banco pelo valor de US$ 600 milhões, segundo ele próprio disse à imprensa. Considerando a atual cotação do dólar, isso corresponde a duas vezes e meia a mais que o seu patrimônio declarado à Justiça eleitoral, que está concentrado em aplicações financeiras.
2) João Lyra (PTB-AL) – candidato a governador – R$ 235,6 milhões – origem da fortuna: setor sucroalcooleiro.
Deputado federal, Lyra, 75 anos, pertence a uma família que é proprietária de usinas de açúcar em Alagoas há mais de cem anos. É considerado um dos homens mais ricos do estado ("se não for o mais", como diz uma fonte alagoana). Comanda pessoalmente um império formado por fazendas de cana-de-açúcar, usinas de álcool e açúcar, empresas de comunicação, de transportes e de revenda de veículos.
3) Orestes Quércia (PMDB-SP) – candidato a governador – R$ 111,5 milhões – patrimônio concentrado nas áreas de imóveis, comunicação e hotelaria.
A origem da fortuna de Quércia, 67, foi várias vezes questionada publicamente. A maior parte das acusações está relacionada com contratos firmados pelo governo de São Paulo na época em que ele chefiou o Executivo paulista (1987-1991). Nenhuma delas resultou em condenação judicial. De família humilde, o ex-governador e ex-prefeito de Campinas tem uma trajetória de raro sucesso empresarial. Saindo praticamente do nada, formou um patrimônio constituído principalmente de participações societárias em diversas empresas. De 2002 para cá, seu patrimônio cresceu quase 73%. Seus negócios incluem o jornal Diário do Comércio e Indústria (DCI), o site Panorama Brasil, a rádio Nova Brasil FM, o tradicional hotel Jaraguá, além de empreendimentos imobiliários e atividades agropecuárias.
4) Blairo Maggi (PPS-MT) – candidato a governador – R$ 33,4 milhões – patrimônio concentrado no setor de produção, beneficiamento e exportação de soja.
Candidato à reeleição, Blairo Maggi, 50, se tornou conhecido nacionalmente como o "rei da soja" ao transformar um negócio de pequeno porte antes tocado pelo pai em uma das maiores potências agrícolas do país. Formado em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, Blairo Maggi constituiu um complexo empresarial responsável por 1,5 mil empregos diretos e pelo cultivo de 50 mil hectares de soja, 12 mil de milho e 2,5 mil de algodão. O grupo também investe em navegação fluvial e geração de energia elétrica. Como governador, Maggi se transformou no inimigo número um dos ambientalistas, por permitir o desmatamento de terras destinadas à expansão agrícola. O fenômeno conferiu ao Mato Grosso o título de atual campeão nacional em destruição de áreas florestais.
5) Geraldo Melo (PSDB-RN) – candidato a senador – R$ 33,015 milhões – bens concentrados no setor de açúcar e álcool.
Ex-governador e ex-senador, Geraldo Melo, 71 anos, alternou, ao longo das últimas décadas, momentos de dedicação integral aos seus negócios privados e períodos em que se voltou prioritariamente para a atividade política. Ex-técnico da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), ganhou dinheiro como consultor contratado pela própria autarquia por meio de uma empresa que criou no Recife, a Adiplan. Hoje, suas atividades empresariais se concentram na Cia. Açucareira Vale do Ceará Mirim, uma das principais companhias do Rio Grande do Norte, que também está entre as maiores agroindústrias do Nordeste.
6) Ivo Cassol (PPS-RO) – candidato a governador – R$ 19,5 milhões – patrimônio concentrado nas áreas de geração de energia e produção de materiais destinados a empresas do setor elétrico
Ivo Cassol, 47, se elegeu governador de Rondônia, em 2002, pelo PSDB. Em 2005, deixou o partido para evitar uma possível expulsão, após divulgar vídeos em que aparecia conversando com vários deputados estaduais que queriam negociar o pagamento de propina. Desde então, está no PPS. Catarinense de Concórdia, iniciou sua fortuna no Norte do país. Hoje, seu bem mais importante fica em Marília (SP), a Hidrossol, indústria de tubos e conexões especializada em venda de materiais elétricos. Possui ainda várias pequenas centrais hidrelétricas na região Norte. Reúne também uma razoável coleção de denúncias criminais. Responde processo sob a acusação de ter praticado fraudes em licitações quando era prefeito do município de Rolim de Moura (RO). É investigado pela Polícia Federal por retirada ilegal de madeira, e já foi acusado de ter ligações com quadrilhas de contrabando de pedras preciosas.
Conforme os valores atribuídos aos bens pelos próprios candidatos, o sétimo mais rico é Luiz Carlos Novaes (PSDC-RJ), candidato a governador, com um patrimônio de R$ 19,1 milhões. A posição dele no ranking, no entanto, decorre de um erro no lançamento (a maior) do valor de um apartamento em Guarapari (ES). Alertado para o equívoco pelo Congresso em Foco, Novaes disse que não via razão para fazer qualquer retificação. Empresário da Baixa Fluminense e ex-aliado de Brizola, Novaes atua no ramo imobiliário.
Seguem, em ordem decrescente, os demais integrantes da lista dos 15 mais ricos:
8. Omar Resende Peres Filho (PDT-MG) – candidato a senador – R$ 16,3 milhões – empresário com atuação nas áreas de turismo, comunicação e empreendimentos imobiliários.
9. Ney Suassuna (PMDB-PB) – candidato à reeleição para o Senado – R$ 15,7 milhões – empresário do setor educacional, é dono do colégio Anglo-Americano, que funciona no Rio de Janeiro. É acusado de envolvimento com a chamada "máfia das ambulâncias".
10. Téo Vilela Filho (PSDB-AL) – hoje senador, é candidato ao governo – R$ 14,4 milhões – herdou um patrimônio concentrado no setor sucroalcooleiro, mas que também inclui fábrica de beneficiamento de coco, produção de leite e criação de cavalos de raça.
11. Jayme Campos (PFL-MT) – candidato ao Senado – R$ 14,1 milhões – valorizou e ampliou o patrimônio que herdou da família, que inclui várias fazendas, utilizadas em atividades agropecuárias.
12. Guilherme Afif Domingos (PFL-SP) – candidato a senador – R$ 11,7 milhões – empresários, seu patrimônio se concentra em participações societárias em empresas das áreas de construção e administração de imóveis e de investimentos em negócios de saúde.
13. Antonio Carlos Sontag (PSB-SC) – candidato ao governo – R$ 11,4 milhões – seu maior patrimônio é a empresa EBV, que atua em toda a região Sul e em São Paulo prestando serviços de terceirização de mão-de-obra para órgãos públicos e para o setor privado (áreas de segurança, conservação, limpeza e de terceirização de mão-de-obra).
14. Newton Cardoso (PMDB-MG) – candidato ao Senado – R$ 10,9 milhões – patrimônio concentrado no setor agropecuário (ex-governador, foi acusado de várias irregularidades, mas não tem nenhuma condenação judicial).
15. José Maranhão (PMDB-PB) – candidato ao governo – R$ 7,4 milhões – patrimônio concentrado em imóves rurais e urbanos (não inclui cerca de R$ 14 milhões em cabeças de gado às quais o atual senador atribuiu valor zero. Em 1998, Maranhão declarou possuir R$ 2,1 milhões. Em 2002, R$ 6,4 milhões.
Observações:
1) Se o fluminense Novaes fosse excluído da listagem, em razão da óbvia superestimativa que fez do seu patrimônio, o 15º mais rico seria Fernando Bezerra (PTB-RN). Candidato à reeleição para o Senado, seu patrimônio - de R$ 7,1 milhões - está concentrado no setor de construção civil. Ele controla uma tradicional empresa desse segmento em seu estado e já presidiu a Confederação Nacional da Indústria, CNI.
2) Depois de publicada esta matéria, um leitor de São Paulo nos escreveu para registrar a falta de referência àquele que seria um dos mais valiosos bens do ex-governador paulista Orestes Quércia, o Centro Empresarial de São Paulo (Cenesp), "cujo controle ele comprou por R 45 milhões à vista, segundo divulgado à época". Na relação completa dos bens declarados pelos candidatos a governador e senador do Sudeste (clique aqui para acessar), o ex-governador faz referência, de fato, às cotas que ele e a mulher possuem na Sol Investimentos Centro Empresarial Ltda. Atribui, porém, à participação do casal o valor total de R$ 210 mil. Outro caso de subavaliação milionária?
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