Marcelo S. Tognozzi*
Barack Obama nunca tuitou. Para espanto dos seus 2,6 milhões de seguidores, e o mundo, ele reconheceu durante viagem à China: “Eu nunca usei o Twitter, mas defendo a tecnologia e o uso irrestrito da internet”. Sua excelência poderia ter deixado claro desde o início que jamais tuitou na vida. Seria mais correto, mais transparente, mais honesto. Como não o fez, corre o sério risco de arranhar sua reputação digital transformada em modelo para os políticos. Até os peixes do Potomac, o rio que corta Washington, sabem que o presidente dos EUA não tem tempo para tuitar. Mas o caso de Obama é intrigante: por que será que ele, o maior político ponto com do planeta, nunca teve curiosidade de dar uma tuitadazinha?
Essa verdade pode até não significar muita coisa no momento. Mas no futuro terá consequências, porque o ambiente digital na política é antes de tudo o ambiente da confiança. Grande parte dos 2,6 milhões de seguidores de Obama no Twitter está lá porque confia nele. Se são informados que Obama na realidade não é Obama, mas uma equipe de tuiteiros amestrados, podem começar a desconfiar que estão sendo manipulados. E isso não costuma acabar bem.
Os políticos e os marqueteiros ainda não sabem direito como manejar as novas ferramentas da internet. Tudo é meio intuitivo. Principalmente no caso das redes sociais. Elas são um ambiente tão novo que se alguém disser ser especialista no assunto estará mentindo. Ninguém é imune a derrapadas, nem mesmo Obama. Mas existem alguns fundamentos básicos que, se respeitados, podem evitá-las. O primeiro é a transparência: se o Twitter de um político é tocado por uma equipe, ele deve dizer isso.
Jamais esconder, porque, se as pessoas perderem a confiança, vão criar uma onda negativa. Da mesma forma que, se gostam e confiam, criam uma onda positiva. Não é por acaso que o Google incorporou por inteiro o conceito de onda ao lançar seu mais novo produto, o Google Wave.
O segundo fundamento é o da interatividade, pilar da Web 2.0. Se as pessoas sabem que não estão interagindo com o Obama real, perdem o estímulo de segui-lo. Elas não querem tuitar com intermediários, mas com o verdadeiro Obama. Neste caso – e isso serve para todos os políticos tuiteiros –, seria mais eficiente se ele publicasse apenas um ou dois posts por dia. O mínimo necessário.
Talvez Obama não tenha previsto o tamanho do risco quando decidiu revelar que não é tão ponto com quanto seus eleitores imaginavam. Felizmente para ele, a eleição acontecerá em 2012 e no meio do caminho poderá consertar a mancada dizendo ter sido sincero. Mas aqui no Brasil as eleições acontecem no ano que vem e qualquer derrapada pode ser fatal. O melhor é não abusar da sorte nem da confiança do eleitor.
* Jornalista e consultor político, é diretor da A+B Comunicação.
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