Renata Camargo
A edição da revista Forbes que elegeu a Monsanto como a empresa do ano chega às bancas na próxima segunda-feira (18). A multinacional foi escolhida como a companhia “vencedora” por estar no “topo da concorrência no segmento de sementes biotecnológicas na maior parte da década”. A empresa, apesar de seus “problemas de imagem”, conseguiu superar os “inimigos” e ter lucros invejáveis. Mas quem paga o preço é o consumidor, que é desrespeitado diversas vezes pela Monsanto.
No ano passado, o valor de mercado da Monsanto foi de US$ 44 bilhões, com venda de US$ 7,3 bilhões de sementes e tecnologias – três bilhões a mais do que a concorrente direta DuPont. Nos Estados Unidos, 90% de toda a soja cultivada no país e 80% das culturas de milho e algodão “são plantadas com sementes que contêm a tecnologia da Monsanto”.
O reconhecimento à Monsanto, segundo a Forbes, se dá também pela capacidade da empresa de se espalhar pelo mundo. As sementes transgênicas já ocupam 8 milhões de hectares na Índia com a cultura de algodão, 14 milhões de hectares de soja no Brasil e 17 milhões de hectares também de soja na Argentina, segundo informações da Forbes. A América do Sul, a Ásia e a África estão sendo tomadas pela biotecnologia patenteada da Monsanto.
Na reportagem que consagra a Monsanto como a empresa do ano, a Forbes exalta as conquistas econômicas da multinacional e ressalta que, na maior parte do tempo, a empresa trabalhou para “alimentar melhor a humanidade”, mas “foi alvo de duras críticas”. Segundo a revista norte-americana, a empresa foi tratada como “o Satã da agricultura” por “ousar modificar os genes do milho e da soja” e agora enfrenta uma “nova leva de inimigos” por seu “suposto pecado” de produzir “sementes boas demais”.
O Planeta versus a Monsanto
The Planet Versus Monsanto
Ousar modificar os genes e produzir sementes boas demais não é o pecado original da Monsanto na visão de vários cientistas, pesquisadores, agricultores e outros “inimigos”. A Monsanto carrega o título de ‘Satã da agricultura’ pelo nobre prodígio de ser reconhecida, entre outras coisas, por falsificar mais de 170 mil estudos científicos, por abusar da publicidade do herbicida Roundup sem alertar que o produto é altamente cancerígeno e por introduzir sementes transgênicas contrabandeadas em países que optaram por não ter essa biotecnologia.
Os alicerces da empresa, segundo ela, são calcados nos valores “honestidade, decência, consistência e coragem”. Mas para expandir seus negócios a empresa não tem medido “ousadias” em suas estratégias. O primeiro produto geneticamente modificado da Monsanto, por exemplo, o hormônio bovino Posilac, provocava mastite nas tetas das vacas. A mastite produzia pus nas tetas e o leite comercializado trazia os sedimentos.
O leite com Posilac e outros antibióticos usados para neutralizar os efeitos causados pelo hormônio nas vacas foi comercializado durante anos e a Monsanto pressionou até o último segundo na Justiça para continuar a vender o produto salvador. O presidente da Monsanto de 1986 a 1993, Earl Harbison, admite em entrevista a Forbes que “provavelmente, este não foi o melhor produto a ser lançado primeiro”. Erro estratégico apenas. E assim a Monsanto vai passando por cima de seus compromissos de respeito ao consumidor, transparência nas informações e diversos outros princípios.
Não precisa ir muito profundo. É só acompanhar superficialmente a história da multinacional para perceber sua trajetória de desrespeito ao consumidor. Diversas publicações são boas fontes para conhecer quem é a empresa do ano da Forbes. O livro “Transgênicos: as Sementes do Mal – a silenciosa contaminação de solos e alimentos”, da editora Expressão Popular, organizado por Antônio Inácio Andrioli e Richard Fuchs, é uma delas.
Outra fonte interessante é o documentário O Mundo segundo a Monsanto, da jornalista francesa Marie-Monique Robin. O documentário está no Youtube, dividido em 11 partes e com legendas em português.
Assista aqui ao documentário O Mundo segundo a Monsanto
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