Rogério Schmitt*
Essa é a segunda e última coluna dedicada a examinar a avaliação do eleitorado brasileiro sobre o desempenho do Congresso Nacional a partir das melhores evidências empíricas disponíveis.
Na semana passada – após avaliar as abstenções e os votos brancos e nulos nas quatro últimas eleições legislativas – defendi a tese de que o Congresso definitivamente não está sendo assombrado pelos espectros da apatia, da indiferença ou da rejeição dos eleitores.
Nesta quarta-feira, convido os meus leitores a refletir um pouco mais sobre esse assunto com base em um outro tipo de estatística. Dessa vez, vamos examinar os resultados das pesquisas de opinião pública sobre a popularidade do Congresso.
Vou utilizar como fonte as pesquisas que vem sendo feitas regularmente pelo instituto Datafolha há mais de quinze anos. Selecionei 31 pesquisas realizadas entre 1996 e 2009 – um período quase que inteiramente coincidente com os dados eleitorais vistos na coluna anterior.
Essas pesquisas do Datafolha basicamente perguntam aos eleitores como eles avaliam o desempenho do Congresso. As respostas são agrupadas nas categorias “avaliação positiva” (ótimo/bom), “avaliação negativa” (ruim/péssimo) e “avaliação regular”.
Os números a seguir se referem às médias das taxas de avaliação positiva e negativa do Congresso em cada ano. Em alguns anos, consegui localizar apenas uma pesquisa. Mas na grande maioria deles havia duas ou mais pesquisas disponíveis. Infelizmente não foi possível encontrar nenhuma pesquisa realizada no ano 2000.
Tabela 1: Média (%) da avaliação positiva e negativa do Congresso Nacional
Ano | Av. Pos. | Av. Neg. |
1996 | 21,0 | 26,0 |
1997 | 16,5 | 31,5 |
1998 | 19,0 | 31,0 |
1999 | 13,0 | 37,0 |
2000 | 15,3 | 35,0 |
2001 | 17,0 | 32,5 |
2003 | 24,0 | 22,0 |
2004 | 17,0 | 28,0 |
2005 | 13,0 | 43,6 |
2006 | 14,2 | 40,0 |
2007 | 14,5 | 37,5 |
2008 | 16,5 | 35,0 |
2009 | 16,0 | 37,0 |
Os dados revelam aquilo que todos os analistas políticos já cantaram em verso e prosa: há muito mais eleitores que avaliam negativamente o desempenho do Congresso do que o contrário. Mas esse não é absolutamente um fenômeno recente, pois essa tendência se repetiu em doze dos treze anos dessa série histórica.
De fato, a avaliação negativa do Congresso costuma oscilar entre 25% e 40% dos entrevistados. Ao mesmo tempo em que o intervalo de variação da avaliação positiva costuma ser entre 10% e 20% dos eleitores.
A boa notícia é que – desde o desgaste causado pela crise do mensalão em 2005 – a (baixa) popularidade do Congresso recuperou-se gradativamente nos quatro anos subseqüentes. A ligeira queda observada em 2009 provavelmente se deve ao fato de que o Datafolha realizou apenas uma única pesquisa até o momento.
De um modo mais geral, esses números também não são preocupantes. Se isolarmos as taxas de avaliação negativa do Congresso, observaremos que elas são sempre inferiores a 50%. Em outras palavras, sempre houve mais eleitores que classificam o desempenho do legislativo como “positivo” ou “regular” do que como “negativo”.
As conclusões mais importantes são duas. Em primeiro lugar, parece haver bastante estabilidade nos números das pesquisas sobre avaliação do Congresso. Esse padrão não deve mudar (para melhor ou para pior) no futuro próximo. Em segundo lugar, o predomínio da avaliação negativa sobre a positiva também não se traduz em aumento das taxas de abstenção ou de votos brancos e nulos. Assim como seria de se esperar numa democracia, os eleitores são críticos do desempenho do Congresso mas continuam depositando nele as suas esperanças a cada nova eleição.
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