Melck Aquino*
Ao longo de pouco mais de duas décadas, das mais de três de vida que o Partido dos Trabalhadores possui, ele sempre foi olhado com certo ar de diferencial no cenário político. E, independentemente de quem gostasse ou não do perfil mais à esquerda que o partido trazia da sua formação embrionária, ele era mesmo diferente. Logo na primeira disputa eleitoral em 82 apresentava-se para um eleitorado que alimentava grande desconfiança no partido. Mas muitos nutriam admiração pelos ideais voltados para o povo, em particular a tão propagada “classe trabalhadora”.
E, na ponta desse partido, a figura emblemática de um líder sindical que colocou em xeque o processo de abertura do general Figueiredo, o poder econômico das multinacionais do setor automobilístico e, de quebra, mudou a cara da política brasileira do final dos anos 70 e início dos 80. E o que é melhor, o PT acabou servindo como guarda-chuva para um série de facções políticas de perfil à esquerda, e mesmo para setores da igreja católica ligados à teologia da libertação, que já sofriam a pressão vinda do Vaticano.
Mas esse tempo ficou no passado. No comando do país desde 2003, a legenda foi abolindo posições radicais para facilitar a composição com outras siglas, revendo conceitos, fazendo alianças com os inimigos de outrora, aceitando ou fazendo vista grossa para ações antes consideradas execráveis e dignas de pedido de prisão e punição exemplar.
Em verdade, a questão das composições, não há nem porque condenar, senão, se tornaria inviável o sucesso eleitoral e mesmo a governabilidade. Veja que hoje cerca de 14 partidos dão sustentação ao governo de Dilma Rousseff. Mas a tolerância com a corrupção que marcou boa parte do governo Lula, o comportamento de Pilatos na discussão da cassação de Jaqueline Roriz, e mesmo o expurgo de militantes históricos e a acomodação de outros envolvidos em sérias denúncias, colocaram a ética petista em xeque. E isso lhe confere hoje muito mais uma identidade de partido centrista, e dos mais pragmáticos, do que de esquerda, nada ideológico. Trocou o perfil militante, para o de partido de servidores públicos comissionados em cargo de confiança.
O certo é que o PT chega aos seus 30 anos, às vésperas das eleições municipais de 2012, na berlinda, sabedor que vai ter que se repensar, olhar-se no espelho e fazer a autocrítica. Vai ter que decidir se a roupa e a maquiagem de agora lhe servem para os encontros e desencontros futuros, ou se terá que tomar um bom banho e futricar muito o guarda-roupa. Da minha parte, uma certeza, o macacão surrado, a bolsa de couro e a boina estilosa a la Che Guevara já foram comidas pelas traças.
*Jornalista e consultor político, mantenedor do www.blogdomelck.com.br
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