Não sei quando “peguei o gosto” de observar as pessoas. Sei que, em um dado momento da minha vida, ainda jovem, antes dos trinta anos de idade, passei a gostar de sentar em bancos de praças, parques, ruas e jardins e ficar observando as pessoas que passam. Não importa se homem ou mulher, se criança ou adulto, e tampouco a etnia: observo, penso e não tiro conclusões.
Observo a roupa, o jeito de andar, como olham as coisas. Se a pessoa está falando sozinha, gesticulando, procurando algo.
Neste observar, notam-se os costumes de uma época e, às vezes, é possível ter alguma ideia da cultura. Exemplo: um homem de turbante, uma mulher de rosto coberto, um sorriso cheio de ouro nos dentes.
A diferença entre o passado recente e o momento atual é bastante grande. Hoje, encontrar alguém “falando sozinho” é mais presente.
Coloco o “falando sozinho” entre aspas por que essa é a impressão que se tem quando passamos por alguém que fala ao celular usando um fone de ouvido e o aparelho está em algum bolso.
O respeito entre povos, entre seres humanos, só se faz pelo conhecimento da história e o reconhecimento da cultura. Conhecendo por meio de livros, filmes e visitas locais, aprende-se a respeitar.
Às vezes, aproveito uma viagem a serviço para, nos intervalos, visitar algum museu ou alguma localidade que jamais imaginaria conhecer.
Recentemente fui a Zâmbia e a tradutora que me acompanhava propôs que, no intervalo do trabalho, fosse visitar uma tribo que vivia ali perto. Fui e a simples visita de meia hora me ensinou: conheci a casa (de taipa e coberta de palha) onde o rei recebe as visitas.
Vi as mulheres, todas com seus vestidos de panos coloridos, construindo uma outra sala, com o mesmo material, para guardar as oferendas e, acima de tudo, um guia me dando uma aula de história de seu povo. O ver e o ouvir ensinam o respeitar.
Às vezes faço algumas anotações para “consumo próprio”, como a acima. Anoto e deixo no computador, sabe-se Deus para quê. Hoje, momento em que escrevo este texto, as recolhi para este artigo pela simples razão de que último dia 11 li, em um site de notícias, duas matérias intrigantes, alegres, humanas, belas e de grande valor cultural.
Intrigante porque me puseram a pensar como, em pleno século XXI, há seres humanos vivendo na simplicidade e na pureza, sem a contaminação do capital.
As matérias são “Amondawá: Em Rondônia, uma tribo que vive fora do tempo” e a outra é “O mistério do rosto humano. Beleza pura nas imagens de povos que desaparecem”.
O primeiro texto informa que os índios Amondawá “não conhecem o conceito de tempo e nem sequer possuem uma palavra para designá-lo. Na sua cultura não existe nada similar aos meses ou aos anos. Ela não possui relógios ou calendários”.
Fico feliz por eles que, em pleno século XXI, vivem o tempo olhando para o sol e para a lua. Não têm relógio-ponto, nem celular: jamais perdem a hora.
A segunda matéria são fotos lindíssimas como arte e uma demonstração de beleza e cultura. Elas fazem parte do livro Before They Pass Away (Antes que eles desapareçam), do fotógrafo Jimmy Nelson.
Conta Jimmy Nelson, na palestra em que apresenta as fotos, que quando foi à Sibéria fotografar o povo Chukchi, disseram a ele: “Não pode tirar nossas fotos. Terá que esperar até que nos conheça, nos entenda e veja como interagimos uns com os outros”.
Há declaração semelhante a essa feita por Sebastião Salgado quando pela ocasião do lançamento de seu livro “Gênesis”. Salgado disse que, antes de fotografar, vive algum tempo com o povo a ser fotografado. Entendo que essa prática é importante para que o povo fotografado compreenda que ele não está sendo roubado. Que sua cultura e identidade, mesmo após a foto, continua lhe pertencendo.
Termino dizendo para aqueles e aquelas que não respeitam os que pensam diferente e que constroem o ódio que leiam a palestra de Jimmy Nelson.
Ela ajuda a entender o que é belo, solidário e humano. E a respeitar o diverso.
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