Apesar de não acreditar (ou acredito?), vivo trombando com coincidências. Dias atrás fui convidado para participar de um debate no “Fórum Soja Brasil”, em Londrina-PR. Por não ser uma área em que atuo, não entendia bem por que fui convidado, mas aceitei. Depois do debate, imaginei pelas perguntas que me foram feitas, que fui convidado por ser um crítico ao uso de agrotóxicos (venenos).
De pronto, aceitei o convite, pela importância do tema: “Uma política para os insumos agrícolas”. Tema relevante para todos, mas principalmente para os pequenos e médios agricultores.
A coincidência ocorreu na viagem. No avião, como leitura de bordo, encontrei a revista “Brasil: Almanaque de Cultura Popular”, nº 162, cujo diretor editorial é o paranaense Elifas Andreato.
Parênteses: todo brasileiro e toda brasileira deveriam ler este almanaque.
As páginas 36 e 37 do almanaque trazem uma matéria sobre o mangarito (Xanthosoma violaceum), planta que também existe (existia?) no norte do Paraná, apesar de que não me lembro de ter conhecido ou mesmo de algum dia ter ouvido falar. A planta, que corre perigo de extinção, agora vem causando sensação na culinária.
Segundo a matéria, o “mangarito” já é citado por Gabriel Soares de Souza no Tratado Descritivo do Brasil, publicado em 1587. Era comida de pobre, agora é prato de rico. Quem sabe assim esta planta não escapa de desaparecer? Mas não é do mangarito que quero falar, e para quem quiser conhecer mais sobre a planta recomendo ler o site mangarito.blogspot.com.
Estava viajando para participar de um debate sobre políticas para os insumos agrícolas e entre os insumos (além de fertilizantes e agrotóxicos) estão as sementes, cada vez mais caras e por isso inacessíveis aos pequenos produtores rurais. Cada vez mais caras porque há um oligopólio ou monopólio dominando o comércio, a oferta de sementes. Com este predomínio, muitas plantas, como por exemplo o milho crioulo, poderão ser extintas, a menos que se tenha uma política de Estado para a sua preservação. Ou, desculpem a ironia, a menos que o milho crioulo vire um prato nobre como o mangarito.
A Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) informa que na última safra o mercado brasileiro de sementes movimentou cerca de R$ 4 bilhões. Segundo ela, esse valor deve crescer nos próximos anos pelo aumento dos royalties pagos à indústria de biotecnologia. Essas empresas devem também lançar uma gama de novos transgênicos no país, já a partir da próxima safra. Só a Monsanto, com suas novas variedades de soja geneticamente modificadas, deve quintuplicar a taxa cobrada dos agricultores pelo uso de sua tecnologia.
Estudo elaborado por Flavia Londres e Paula Almeida, da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, em outubro de 2009, mostra que o mercado de sementes no Brasil sofreu um forte processo de concentração a partir da década de 1990. A Monsanto, que desde 1995 é a maior empresa sementeira do mundo, investiu pesadamente no Brasil, comprando empresas importantes de sementes de milho, soja e algodão. É também a líder na produção de sementes transgênicas.
A DuPont, maior grupo industrial dos Estados Unidos, entrou na área de sementes em 1999, comprando a Pioneer Hi-BredInternational, e é hoje a segunda maior sementeira do planeta. Em 2000, a fusão das empresas Novartis Agribusiness e Astra Zeneca formou a Syngenta, hoje terceira maior empresa de sementes do mundo. Há outras fusões. Veja o perigo que o mundo corre.
É fácil perceber que a agricultura brasileira está correndo risco: tornar-se completamente dependente das sementes fornecidas por não mais que meia dúzia de empresas estrangeiras e perder as sementes crioulas, como por exemplo o milho. Há informações de que no México, berço do milho, mais de 60 espécies de milho crioulo já desapareceram e foram substituídas por duas ou três espécies transgênicas.
E ainda por cima há de se pagar royalties.
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