Cláudio Versiani*, de Nova York
Férias de verão no hemisfério norte, tempo de curtir um inverno tropical, quase primavera. Chego ao Aeroporto Internacional de Guarulhos e descubro que por lá os vôos internos estão mais do que escassos. Sem a Varig no mercado, a TAM e a Gol andam maltratando os consumidores. O jeito é pegar um ônibus para o outro aeroporto da cidade. O ônibus estaciona em Congonhas, longe do terminal que está em obras. Não existe carrinho nem carregador, a calçada está invadida pelas obras, um tapume avança sobre ela. Você que se vire para chegar ao terminal. Bem-vindo ao Brasil.
O aeroporto de Congonhas é uma confusão só. A primeira impressão é que a TAM não estava preparada para absorver os passageiros da Varig. A toda hora os portões de embarque são trocados. É gente indo pra lá e gente vindo pra cá. O meu vôo estava atrasado e nem os funcionários da TAM sabiam informar alguma coisa.
Em Belo Horizonte percebo que a obra de duplicação da avenida que leva ao aeroporto de Confins tem níveis diferentes de cuidados. Quando se está perto de uma área pobre, é tudo uma esculhambação. Mais perto do centro da cidade, e ao lado de áreas de classe média, tudo vai ficando mais arrumado. Estou sonhando, delirando ou cheguei ao Brasil? Nova York não é primeiro mundo – pode ser segundo -, mas é uma sociedade infinitamente mais justa ou menos injusta.
Tentei renovar minha carteira de habilitação no Detran de Belo Horizonte. Perdi duas tardes preciosas das minhas férias. Não consegui. Kafka não faria melhor. O Detran é um poço de ineficiência e falta de profissionalismo. Os mortais ficam nas filas e os despachantes se misturam aos funcionários numa relação literalmente promíscua.
Passei uma semana em Búzios e quase só escutei espanhol – ou argentinos falando uma língua que se parece com a língua de Castela. Nem parece que saí de Nova York.
Nos noticiários da TV e nas páginas dos jornais, é só lama que se vê. Sanguessugas e saúvas roubando ambulâncias e merenda escolar. Isso é gente sem coração. Eu ainda me lembro que no Brasil todo mundo tinha coração, até bandido. Fosse em Cuba ou na China, a família teria que pagar as balas. Ia faltar paredão. No Brasil ninguém sabe de nada, e o assessor é quem paga o pato sempre.
Em Belo Horizonte os bandidos abriram uma delegacia de mentira que funcionou de verdade uns cinco dias. No Rio de Janeiro, bandidos trajando uniformes e usando carros falsos da Polícia Federal assaltaram um bingo. Se você pensou em chamar o ladrão, esqueça, ele já está instalado.
Instalada de verdade também está a corrupção. O PT se comporta como os outros partidos. Para aquele que se autoproclamava o arauto da moralidade, a realidade se mostra cruel. O partido que não rouba e não deixa roubar, como disse o ex-tesoureiro Delúbio Soares, virou o símbolo da roubalheira que tomou conta do país. O raciocínio é o seguinte: se Lula e o PT se comportam assim, todos podem fazer o mesmo. O resultado é catastrófico. O país está sem norte. O Brasil sumiu.
Quando Lula foi eleito, em 2002, o New York Times saudou o novo presidente com um editorial louvando a democracia e o surgimento de um grande líder latino-americano. Passados quatro anos, as eventuais visitas de Lula a Nova York são simplesmente ignoradas ou ganham as páginas sempre acompanhadas da palavra corrupção. A esperança caiu na vala comum do estereótipo do político latino-americano. O presidente preferiu jogar sua biografia na lata de lixo da Praça dos Três poderes.
Lula aliado a Orestes Quércia, a Newton Cardoso e ao Bispo Crivella… Dá para entender? Não, não dá. Foi o que sobrou para o presidente e o seu partido. E o que sobrou para o Brasil? Praticamente nada.
Esta é a eleição mais sem graça da nossa história. Deve ser o efeito Alckmin, ou Geraldo, como custaram a descobrir os marqueteiros do PSDB. Ele não convence nem os colegas de partido. FHC e Serra são mui amigos do Geraldo. Aécio, o amigo de Lula, de olho em 2010, finge que apóia o candidato dos tucanos.
Cristovam não desceu da cátedra e muito menos conseguiu subir no palanque. É uma pena. Poderia pelo menos ter elevado o nível do debate.
Heloísa Helena é um arroubo, quase um Collor de saias. Promete o que sabe ser impossível de cumprir.
Mensalão, dólar na cueca, sanguessugas, vampiros, saúvas, bandidos, corruptos, venda de dossiês fajutos, funcionários do Palácio do Planalto envolvidos em maracutaias… A lista não pára. Somos todos culpados por um motivo ou por outro. A nossa capacidade de indignação está no nível zero. Por onde anda a tal sociedade civil organizada? Parece que a única coisa organizada no Brasil é o PCC e o crime. O país está como a bandeira da foto que ilustra a capa deste site, esfarrapando-se.
Lula perdeu uma oportunidade histórica. Não precisava ter feito nada, era só não deixar fazer. O que Lula fez e está fazendo é muito feio. Como diria o próprio, tudo isso é muito abominável. Lula se transformou num monstro, o abominável homem de Garanhuns.
O chamado país da esperança transformou-se no país da desesperança graças ao comportamento muito abominável de Luiz Inácio Lula da Silva e de seu partido, aquele do sem medo de ser feliz. Pura ironia, o Brasil é hoje um país triste.
PS: Voltei para Nova York e desembarquei no terminal mais antigo do aeroporto JFK. Nem táxi tinha, me senti em casa. Isso aqui é uma zona. E para piorar as coisas, ainda temos dois anos de Bush. Em tempo, o Brasil continua sendo o melhor lugar do mundo, pelo menos pra uns, incluindo aí os banqueiros. Pelé tinha razão, Tom Jobim também. O Brasil é um mistério, ninguém entende ou explica, muito menos Freud.
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