Edson Sardinha
O começo das investigações
A prisão de sete suspeitos nas primeiras quarenta e oito horas após o assassinato do senador Olavo Pires (PTB-RO), em 16 de outubro de 1990, apontava para o rápido desfecho de um caso. Dezoito anos e quatro meses depois, porém, tornou-se um flagrante exemplo de impunidade.
O histórico das investigações do crime se caracteriza por jogo de empurra, versões contraditórias, três mortes misteriosas de testemunhas, omissão do Senado e falta de competência do Estado para revelar e punir os culpados. Quase duas décadas depois, ninguém responde a processo na Justiça pela morte do senador.
A Polícia Civil de Rondônia, responsável pelas apurações iniciais, prendeu cinco homens no dia em que Olavo era velado, em Porto Velho, e outros dois quando era enterrado em Goiânia. Com os suspeitos, os policiais apreenderam armamentos pesados e dois Gols brancos furtados, semelhantes ao utilizado na fuga pelo assassino.
Dois desses homens chegaram a ser reconhecidos por testemunhas – um como autor dos disparos, e outro como condutor do veículo usado na fuga. Ninguém, porém, confessava a autoria do crime. Uma perícia realizada em Rondônia identificou uma das submetralhadoras apreendidas com um dos presos como a arma do crime. Meses depois, essa comprovação foi derrubada por nova análise, feita em São Paulo, até hoje não aceita pela família de Olavo.
Carlos Leonor de Macedo (à dir.) foi reconhecido por testemunha como autor dos disparos que mataram o senador. Foto registra momento da prisão, dois dias após o crime
As suspeitas de que o senador teria ligações com o tráfico de drogas, intensificadas durante a campanha eleitoral, puxaram a primeira das três linhas de investigação abertas pelos policiais civis. Olavo teria morrido em virtude de um acerto de contas entre traficantes. Os investigadores também trabalhavam com a possibilidade de o crime ter sido motivado por dívidas de campanha, vingança pessoal ou disputas políticas locais.
A hipótese que envolvia o narcotráfico era veementemente refutada pela família e fez o Senado querer se ver livre do fantasma do parlamentar. Além de Amir Lando, que assumiria sua vaga, apenas um suplente de senador foi ao enterro de Olavo na capital goiana. Uma comissão de três senadores – Odacir Soares (PFL-RO), Márcio Lacerda (PMDB-MT) e Ronaldo Aragão (PMDB-RO) – foi destacada para acompanhar as apurações. Mas nada concluiu.
O jogo de empurra começou já no dia seguinte após a morte de Olavo, quando seus assessores divulgaram para a imprensa o requerimento apresentado por ele menos de um mês antes, em 19 de setembro, pedindo ao então ministro da Justiça, Bernardo Cabral, e ao então diretor-geral da Polícia Federal, Romeu Tuma, a proteção da PF.
Bernardo Cabral voltara à Câmara no dia em que Olavo foi assassinado, após assumir seu romance com a então ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Melo. No alvo da imprensa por causa do ”affair", negou ter recebido o pedido.
No dia seguinte, o Ministério da Justiça, já sob o comando de Jarbas Passarinho, confirmou a existência do Ofício 54/90. No texto encaminhado pelo presidente em exercício do Senado, Alexandre Costa, ao Executivo, Olavo reclamava do “clima hostil” da campanha eleitoral e pedia a proteção da PF como “providência imediata”, porque “seu retardamento poderia ser fatal”.
Agência Brasil
Ministério da Justiça contradisse o ex-ministro Bernardo Cabral (à esq.), que negara ter recebido pedido de proteção encaminhado por Olavo
O Ministério da Justiça informava que o pedido havia sido despachado para Tuma, que teria, acionado a Polícia Federal em Rondônia para colocar policiais federais à disposição de Olavo. A assessoria de Passarinho também sustentava que o senador havia recusado a oferta de ajuda, alegando se sentir protegido com a segurança privada que lhe acompanhava.
Essa versão, porém, não era confirmada pelo então superintendente da PF em Rondônia. Em entrevista à Folha de S. Paulo, em 18 de outubro de 1990, Alberto Lassere disse desconhecer que o parlamentar tenha voltado atrás no pedido. Lassere afirmava ter orientado o senador, dois meses antes, a procurar o ministro da Justiça para pedir proteção. “Após essa conversa, não recebi mais nada”, relatou na época.
Encoberto por contradições, o caso ganhava mais nuvens com as declarações dadas pelo então diretor-geral da Polícia Federal. Segundo Romeu Tuma, o assassinato do senador seguia os “moldes de ação terrorista”.
“Foram tarefas compartimentadas”, declarou, numa referência a um modelo de crime praticado por grandes organizações criminosas. “Quem furtou o Gol de onde saiu o matador não sabia para que ele seria utilizado, nem quem seria o pistoleiro. Quem contratou o pistoleiro não sabia quem dirigia. E assim por diante”, afirmou em entrevista coletiva no dia 23 de outubro, ao anunciar que mandaria dois homens de sua confiança para colaborar com as apurações conduzidas pela Polícia Civil.
A hipótese de crime político não ganhava impulso nas investigações da polícia e do Ministério Público estadual. Apenas com a aparição de indícios que apontassem nessa direção, a PF entraria no caso.
Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Diretor-geral da PF na época, Tuma disse que assassinato do senador seguia moldes de "ação terrorista"
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