Antonio Vital
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O Rio de Janeiro é o cartão postal do Brasil. A essa altura não importa se existem cidades mais agradáveis, praias mais belas, temperatura mais amena, gente mais simpática. Para o estrangeiro, Rio e Brasil se confundem em uma mesma imagem. Por isso, guerra de traficantes na favela, assassinatos brutais, balas perdidas e chacinas em penitenciárias são uma tragédia nacional. Como pouca gente pensa assim, o resultado é que o Rio – e o Brasil -, aos olhos dos estrangeiros, é uma espécie de Iraque com mulatas. E mais uma vez desperdiçamos oportunidades. O mundo pós-11 de setembro, com a sombra de medo jogada sobre a Europa, os Estados Unidos e o Oriente Médio, parecia sorrir para o turismo brasileiro. Temos uma moeda relativamente estável, uma situação política idem, um eficiente sistema de transporte de passageiros, boa rede hoteleira mas… o Brasil, apesar de toda a riqueza cultural e da natureza privilegiada, atrai um número quase ridículo de turistas de outros países. Para efeito de comparação: o turismo movimenta U$S 5 trilhões por ano no mundo. Dessa bolada, só a França fica com U$S 72 bilhões; a Itália fica com U$S 60 bilhões, a Espanha com U$S 45 bilhões e os Estados Unidos com U$S 80 bilhões. Já o Brasil fica com apenas U$S 7 bilhões, dez vezes menos que a França, que recebeu 71 milhões de turistas no ano passado, contra apenas 5,5 milhões. A Itália fatura mais com o turismo que o Brasil com a soma de suas exportações. Para entender o impacto de carnificinas como a ocorrida na Casa de Custódia de Benfica, basta outro dado: de cada 100 turistas que desembarcam por aqui, 90 ficam no circuito Rio de Janeiro-Nordeste. O Anuário Estatístico e Demanda Turística 2002, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), é mais preciso e mostra a preferência dos estrangeiros, pela ordem: Rio de Janeiro (38,58%), São Paulo (20,84%), Salvador (12,76%), Foz do Iguaçu (9,28%) e Recife (8,24%) são as cinco cidades mais visitadas. O estudo é mais revelador ainda quando aponta as principais reclamações dos turistas. Segurança pública (10,26%), limpeza pública (10,21%) e sinalização turística (8,3%) são os pontos fracos do país, de acordo com os próprios turistas. Ou seja, o Rio ainda é o lugar que mais atrai estrangeiros, mas a violência assusta. Por causa disso, a cidade tem perdido clientes, como mostra pesquisa semelhante feita em 1995. Naquele ano, a cidade era o destino de 42% dos que chegavam ao Brasil a passeio. Existe outro dado que mostra o efeito multiplicador de qualquer ocorrência policial no Rio de Janeiro. Ao contrário do que muita gente pensa, a cidade não é a mais violenta do país. Exibe uma estatística de 35,5 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, enquanto o mesmo índice é de 63,2 em Vitória (ES), 58,7 em Porto Velho (RO), 49,6 em Recife (PE) e 49 em São Paulo (SP). O problema é que a visibilidade dos casos de violência no Rio implica em um decréscimo do número de turistas. No ano passado, o total de visitantes que chegou ao Brasil caiu 20,7% em relação a 2002. Parte dessa queda é creditada à crise econômica na Argentina. Mas o fato é que o Brasil não aproveitou o momento conjuntural favorável e está afugentando potenciais visitantes. E o que fazem as chamadas autoridades? Tratam o caso como um problema local, quando na verdade é nacional. A pretensão carioca de sediar as Olimpíadas é tratada como megalomania provinciana. Programas integrados de segurança também não vão adiante porque o secretário da pasta, lá, é candidato declarado à Presidência da República, o que coloca qualquer decisão na classe de disputas políticas. No Congresso Nacional, projetos esparsos tratam do tema. Um deles, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 221/03, está para ser votado no plenário. De autoria do senador César Borges (PFL-BA), a proposta prevê a possibilidade de as Forças Armadas cooperarem na repressão ao crime organizado no país. Outro projeto (PL 514/03), este do deputado Custódio Mattos (PSDB-MG), cria regime disciplinar diferenciado, com maior rigidez nas penitenciárias para os detentos que cometam crimes violentos ou que pertençam ao crime organizado. Como essas duas, existem dezenas de propostas em tramitação. Mas o problema é estrutural e, se o governo Lula não passar a considerar o Rio uma espécie de território federal onde poderiam ser colocados em prática projetos-piloto de combate à violência, nada vai acontecer. Porque não concentrar no Rio propostas alternativas ao nosso trágico sistema penitenciário? Faltam 110 mil vagas nos presídios brasileiros e é surrealista pensar em solucionar o problema a nível nacional de uma só vez. Porque não começar resolvendo o do Rio, nossa vitrine, o espelho pelo qual somos julgados aos olhos do mundo? Termino com uma pergunta, dirigida ao terceiro andar do Palácio do Planalto. |
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