(Elza Fiúza/ABr)
Edson Sardinha
O Conselho de Ética do Senado decidiu adiar de hoje para a próxima terça-feira (19) a votação do parecer que absolve o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), da acusação de que ele teria despesas pagas por um lobista de uma construtora.
A iniciativa teve o apoio do próprio Renan, que viu o cenário que até então lhe favorecia mudar substancialmente após veiculação ontem de reportagem do Jornal Nacional que pôs sob suspeita as provas apresentadas por ele em sua defesa ao Conselho.
Temendo ser derrotado, o peemedebista se reuniu com diversos senadores e participou, por telefone, de maneira decisiva da reunião do colegiado, que se estendeu por quatro horas. O seu porta-voz foi o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). Além de evitar uma derrota, o adiamento da decisão acabou amenizando o desgaste que o eventual arquivamento do processo traria ao senador.
Em uma de suas intervenções, pediu ao Conselho que ouça na segunda-feira o advogado Pedro Calmon Filho, que defende a jornalista Mônica Veloso, mãe de uma filha de três anos do senador, e o lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Junior. “A circunstância política mudou”, disse Jucá, ao anunciar o pedido do colega.
O relator do caso, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), manteve seu parecer pela absolvição, alegando que a denúncia de irregularidade na defesa foi apresentada após a conclusão de suas investigações. Inconformado com o adiamento da votação, Cafeteira ameaçou renunciar à relatoria, criando um impasse. "Não ficarei desmoralizado", disse.
O petebista resistiu durante mais de uma hora ao apelo dos senadores para que aceitasse o adiamento da votação. Cafeteira só voltou atrás após telefonema de sua mulher, que lhe contou ter recebido uma ligação de Renan pedindo que o marido revisse sua posição.
“Vou concordar, em homenagem à minha esposa, a quem eu devo a vida. Mas eu não modifico uma linha, uma vírgula do meu parecer [pelo arquivamento]”, ressaltou.
Perícia e voto em separado
Os senadores também decidiram fazer uma perícia sobre a documentação arrolada pelo presidente do Senado. Os resultados da auditoria devem ser apresentados na próxima terça-feira. “As denúncias colocam em xeque documentos apresentados. Se foram falsos, já é quebra de decoro", disse o líder do DEM, José Agripino (RN).
Divergindo do parecer do relator, os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO, foto), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Jefferson Peres (PDT-AM, foto) apresentaram voto em separado, defendendo a continuidade das investigações (confira a íntegra dos votos de Demóstenes, Perillo e Jefferson).
Antes do início da reunião, Renan se reuniu reservadamente com parlamentares da base aliada e da oposição para reforçar sua defesa. "Fiz questão de fazer visita a todos os senadores não para formar a cabeça, mas para trazer a verdade. Eu não estou pedindo o direito da dúvida, mas trazendo a certeza da verdade”, declarou.
O senador disse ter apresentado aos colegas notas fiscais, comprovantes de depósitos e cheques e guias de transferência de animais que comprovariam a legalidade de todas as negociações de gado feitas por ele nos últimos quatro anos.
“Não há nada o que esconder. Renan está muito tranqüilo”, afirmou Romero Jucá, logo na abertura da sessão do Conselho de Ética. “Todas as operações foram realizadas com cheque nominal, do Banco do Brasil, do Bradesco e do Banco de Boston. Tem o depósito feito na conta de Renan referente a esses cheques, que são nominais, comprovando a operação”, acrescentou.
Denúncias distintas
Jucá e a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), defenderam o desmembramento das investigações. Os dois argumentaram que o Conselho de Ética deve votar na terça-feira o parecer de Cafeteira, independentemente do resultado da perícia.
“Esse assunto, se tiver de ser tratado, deve ser investigado à parte da denúncia do Psol, porque estão comprovadas todas as operações”, declarou o líder do governo em referência à denúncia de que um lobista teria pagado contas de Renan.
A líder do PT denunciou o que chamou de distorção do ônus da prova. "A gente tem de parar de correr atrás desse procedimento absurdo. Nossa democracia pressupõe o ônus da prova sempre a quem acusa. Esse pilar tem sido aviltado", reclamou Ideli.
Coube ao vice-líder do PMDB Wellington Salgado (MG) a defesa mais explícita a Renan. Segundo ele, a demora de mais quatro dias vai “sangrar” ainda mais o seu companheiro de partido. “Sou o pior político aqui. Sabe por quê? Porque não tenho coragem de participar do que está acontecendo. Não tenho coragem de transferir para terça-feira o sangramento desta Casa. Porque o que estão fazendo é sangrando o presidente da Casa”, afirmou. “Não vou fazer política no Conselho de Ética. Amanhã pode ser que esteja sentado aqui. Sou um idiota politicamente”, emendou.
Confira a íntegra dos votos em separado apresentados pelos senadores Demóstenes Torres, Marconi Perillo e Jefferson Peres.
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