Miguel Ignatios*
O ex-primeiro ministro da Inglaterra Winston Churchill costumava dizer que a guerra é uma "coisa muito séria para ser deixada exclusivamente nas mãos dos militares". Outra frase que também ganhou fama entre os aliados, no transcorrer da Segunda Guerra Mundial, garantia que a "primeira vítima da guerra é sempre e necessariamente a verdade".
Essas duas frases servem, ainda hoje, ditas fora do contexto bélico, para tentar entender algumas "verdades" e "previsões", ditas e repetidas, por alguns economistas, como se fossem "mantras", e que, decorrido certo tempo, são sistematicamente desmentidas pelos fatos.
Para atualizar o contexto daquelas duas frases famosas, vamos começar dizendo que, parafraseando Churchill, a "economia é uma coisa muito séria para ser deixada exclusivamente nas mãos dos economistas". Quanto à segunda, não é exagero afirmar que, quando se trata de previsões, em matéria econômica, a verdade, geralmente, passa ao largo delas.
Quantas vezes o leitor não ouviu, ao longo das duas últimas décadas, absurdos do tipo, "se o salário mínimo for reajustado acima de certo nível, o país quebra". A bem da verdade, tal sofisma foi dito e repetido por diversos governos civis, desde o primeiro deles, a administração Sarney.
Pois bem, o governo Lula teve a coragem de elevar o valor do salário mínimo em 60%. O que aconteceu com a economia?
Absolutamente nada, pelo menos, em termos de "catástrofes". Ao contrário, isso ajudou a ampliar o mercado interno, ao fortalecer o poder de compra de assalariados de menor renda.
Além disso, o mínimo maior melhorou o caixa do INSS, que é de onde saem os recursos para custear as aposentadorias dos empregados do setor privado. Tal fato é minimizado, quando não negado, até mesmo por alguns representantes do governo Lula, seduzidos pelo discurso de que a expectativa de vida do brasileiro vem crescendo etc. e tal.
Também, a bem da verdade, é preciso dizer que a política de diminuir o déficit público, às custas do setor produtivo da economia, da classe média assalariada e dos trabalhadores, foi inaugurada, no primeiro mandato de FHC, mas foi mantida e, em alguns casos, até ampliada, na gestão de Lula.
Embora petistas e tucanos, por motivos semelhantes, neguem o arrocho fiscal, ele se mantém há 12 anos e, quando Lula terminar seu segundo mandato, ter-se-ão passados 16 anos de tal política. O caixa único da União foi implantado pelo ex-ministro Pedro Malan, mas até hoje não foi revogado.
É verdade que as contas públicas, desde então, melhoraram muito e que continuam a melhorar. Mas a que preço? Em razão das baixas taxas de crescimento nos dois governos, o ainda hoje elevado índice de desemprego só fez crescer o contingente de pobres e miseráveis do país.
Além das carências sociais, vieram ainda os apagões logístico e aéreo. Por sua vez, saúde e educação também não melhoraram significativamente.
Se FHC não fez questão de cortar custos, nem de diminuir a máquina pública, Lula fez pior: ampliou-a para nada menos do que 37 ministérios e secretarias especiais. Corte nas despesas, nem pensar. O discurso oficial mantém a mesma ladainha: a questão não é diminuir o tamanho do Estado, mas, sim, ampliá-lo.
A Receita Federal não se cansa de anunciar mensalmente novos recordes de arrecadação tributária. Apesar disso, o governo não abre mão de nada e ainda quer prorrogar até 2011 a CPMF, que de provisória passou a permanente, e que, como todos sabem, não melhorou em nada a saúde pública, finalidade para a qual foi criada.
Outro mito está prestes a cair: trata-se da política conservadora do corte gradual dos juros básicos. Atualmente, no patamar de 12,25% ao ano, já há quem diga, no Planalto, que, se, ao invés de reduzi-los, na base do atual 0,25 ponto percentual a cada 45 dias, eles caíssem dois pontos percentuais ou mais, de uma vez só, não haveria qualquer impacto mais grave na economia.
A pergunta que se impõe é a seguinte: por que tanta demora oficial em admitir algo que o setor produtivo e a sociedade civil já sabem e sentem na carne, há muito tempo? Quem ganhou com essa demora insana? Com certeza, o capital especulativo (nacional e estrangeiro), que, mensalmente, embolsa polpudos juros, por comprar títulos da dívida pública.
Mas e o que aconteceria à nossa moeda se, de repente, os juros despencassem, perguntar-se-ão os cautelosos de plantão. A inflação sairia de controle? Não necessariamente.
O primeiro efeito, com certeza, seria a valorização do dólar. Uma maneira inteligente de não mexer no câmbio, mantendo-o flutuante, e, ao mesmo tempo, fazer com que a moeda americana se valorize, em benefício das exportações.
O que não dá mais para agüentar é a combinação perversa de juro alto (real valorizado) e dólar baixo.
Acontece que, para (bem) administrar a economia, é preciso ter bom senso. E isso é um artigo em falta no mercado.
*Miguel Ignatios é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB).
Deixe um comentário