A Polícia Federal começa oficialmente a acompanhar as investigações sobre a morte misteriosa do ex-assessor da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB).
Marcelo Oliveira Cavalcante, 41 anos, foi encontrado morto nas águas do Lago Paranoá, em Brasília, no último dia 17. Segundo a deputado Luciana Genro (Psol-RS), ele seria ouvido pelo Ministério Público Federal (MPF) para tratar de um esquema de caixa 2 na campanha eleitoral de 2006, que elegeu a tucana.
O superintendente da PF gaúcha, delegado Ildo Gasparetto, tinha desembarque previsto para a noite de ontem (3)
“Tendo em vista que o Marcelo [Cavalcante] foi investigado pela Operação Rodin e tinha elos com o pessoal da Rodin, queremos saber se ele houve alguma pressão”, afirmou Gasparetto ao Congresso
Apesar de a Polícia Civil do DF trabalhar com a hipótese de suicídio de Marcelo, Gasparetto não elimina de pronto a possibilidade de “queima de arquivo”, hipótese tratada com muito cuidado pelos investigadores. “A gente não descarta nenhuma hipótese. Por isso, queremos trocar informações com a Polícia Civil.”
A assessoria do Ministério Público Federal gaúcho não confirmou nem negou que Marcelo fosse prestar um depoimento aos procuradores. Mas a deputada Luciana Genro afirma que o próprio Marcelo lhe disse que seria ouvido no dia 4 ou 5 de março. “Ele estava negociando uma delação premiada.”
Assessores da confiança da deputada tiveram acesso a vídeos e áudios em poder do MPF, segundo Luciana Genro. As imagens e áudios mostrariam Lair Ferst – um dos coordenadores da campanha de Yeda – entregando dinheiro supostamente desviado dos cofres públicos para o ex-marido da governadora e para o próprio Marcelo, que foi chefe da Representação do Rio Grande do Sul em Brasília.
A deputada do Psol afirma que o material, somado ao depoimento de Ferst, mostra o envolvimento do governo tucano com caixa dois, por meio do Detran e compra de uma residência para Yeda e de contas pessoais da governadora.
Por isso, entende Luciana, o depoimento de Marcelo seria fundamental para confirmar o material e vincular, ou não, as denúncias à pessoa da governadora.
Ontem, Yeda atacou seus acusadores. Disse que as acusações partem da “direita golpista”, em referência ao DEM gaúcho, e da “esquerda pseudorrevolucionária”, criticando o Psol. Afirmou ainda que as denúncias são “requentadas” e já foram apuradas.
Suicídio
Marcelo Cavalcante deixou a Representação do Governo gaúcho em Brasília depois que Lair Ferst afirmou ter enviado uma carta a ele se queixando de isolamento no esquema no Detran. O documento deveria ser entregue a Yeda, mas Marcelo afirmou que nunca o remetera à governadora.
Fora do governo, o ex-assessor foi trabalhar no gabinete do deputado Cláudio Diaz (PSDB-RS), onde estavam amigos desde a época em que atuou nos gabinetes de Nelson Marchezan (PSDB-RS) e da própria Yeda, quando esta era deputada.
Passadas duas semanas da localização do corpo de Marcelo, a investigação da Polícia Civil está em fase preliminar. O delegado Antônio Cavalheiro informa que sequer recebeu os vídeos das câmeras de segurança da Ponte JK, onde foi encontrado o cadáver boiando. Também aguarda o exame cadavérico, o exame do local e uma autorização judicial para quebrar o sigilo telefônico da vítima.
Por enquanto, o delegado aposta na tese de que o ex-assessor se matou. A filha de Marcelo recebeu uma mensagem de celular em que o pai dizia que iria “para o outro mundo”. “O quadro é sugestivo de suicídio mesmo”, afirma Cavalheiro.
Mas o delegado disse ao Congresso em Foco que não leu o depoimento da esposa de Marcelo, Magda Koenigkan. Amigos e parentes sustentam que ela defende a tese de morte encomendada por conta do depoimento que prestaria ao MPF.
A reportagem entrou em contato com Magda e familiares dela, mas eles preferiram não se manifestar sobre o assunto.
Colegas de trabalho não acreditam nem na tese de suicídio nem de execução. Para eles, Marcelo era uma pessoa “que amava viver”. Contam que estava com muitos problemas financeiros e brigou com a mulher na sexta-feira anterior à morte (14). No sábado, passou o dia bebendo num pagode. “O Marcelo nunca faria isso. Eu acho que foi uma fatalidade, que ele bebeu demais e acabou caindo da ponte”, diz um amigo que o conhece desde 2001.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do governo do Rio Grande do Sul ontem, mas não obteve retorno.
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