Márcia Denser*
Escritores são, sobretudo, grandes leitores, e se passo uma imagem displicente-desatenta-indiferente, na verdade essa é uma autodefesa, desenvolvida ao longo dos anos, com o propósito de manter a concentração e funcionar, ao mesmo tempo, como uma espécie de blindagem contra o bombardeio midiático no sentido de reduzi-lo a mero ruído branco desconexo. Ficasse ligada o tempo todo há muito teria enlouquecido ou ficado besta, uma vez que é bobagem prestar atenção quando TUDO ESTÁ ERRADO.
Contudo, segunda-feira tipo oito da manhã no dentista não houve como escapar de abrir a revista Veja (sabia que se começasse a ler, ato contínuo estaria pensando em seguir o maravilhoso conselho da escritora Dorothy Parker, que prescreve: “este não é o tipo de leitura para você deixar de lado, displicentemente, é para você jogar fora, com toda a força!”) e nas páginas amarelas de abertura, o espaço nobre da revista, encontrar uma entrevista com o cantor Fagner e o que dizia o nosso brilhante Fagner espertamente editado e maquiado pela Veja?
Entre outras coisas: “Fiquei louco quando vi aquele monte de artistas posando de anjinhos ao lado do SIM (hum, até aí, nada de especial, eu e mais 63% do eleitorado também optaram pelo NÃO). Adiante: “Eles (os artistas) deveriam era botar a cara na televisão para exigir explicações do presidente. Afinal, foram eles que botaram o Lula lá (não foi não, mas deixa para lá…). E agora não têm coragem de dizer que estão decepcionados com ele. Artista é vaidoso demais para dizer que errou (ou estúpido demais? Afinal, o histórico do homem inteligente não é o histórico de suas certezas, mas de suas dúvidas). Pérolas e mais pérolas do pensamento fagneriano: “Você já pensou no impacto que ia ter uma carta pública do Chico Buarque ao Lula ? (sic) Ou do Zezé Di Camargo? (SIC). Tive de parar por aí porque começou a dar vertigem.
Mas quem se importa com o que diz um sujeito que nessa mesma entrevista se confessa alienado, sem embasamento intelectual até para fazer música de protesto e desinteressado de política, “pois em 1967 quando morreu o ex-presidente Castelo Branco, que era de Fortaleza, o Ceará ficou de luto (sic). Nem tomei conhecimento da morte dele (sic). Na noite do acidente, fazíamos uma serenata quando passou um camburão do Exército e os soldados começaram a atirar. Quando viram que éramos uns imbecis (SIC), nos deixaram em paz.” Quem se importa com quem se confessa um imbecil?
Parece que a Veja se importa e, absurdamente, em suas páginas mais nobres.
Por que será? A quem importa veicular reportagens idiotas? (Quiz forever…)
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