Carol Ferrare
Incentivadora de políticas de apoio à população homossexual desde o tempo em que era deputada, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, em parceria com a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) e a Associação Brasileira de Turismo GLS, lançou no último fim de semana uma campanha para atrair turistas de todo o mundo para a 11ª Parada Gay de São Paulo, que ocorrerá no próximo dia 10.
Batizada de Love Land (ilha do amor, em inglês), a campanha fala em um Brasil que respeita a diversidade e reúne mais de 3 milhões de pessoas para celebrar as diferenças. A campanha não menciona, contudo, que, em 2006, 88 homossexuais foram assassinados no Brasil em crimes decorrentes de discriminação.
Internacionalmente, há dois grandes estereótipos para o país. O mais positivo dá conta de um Brasil receptivo e alegre, repleto de belezas naturais e exuberância estética. É justamente essa visão que a campanha se esforça para realçar. O flyer eletrônico (veja aqui) e o hotsite reúnem casais improváveis (como um dropes de confeito de menta e um refrigerante que, segundo um texto que circula pela internet, podem ser fatais se consumidos juntos) e se esforçam para divulgar a imagem de um país tolerante.
O outro modelo internacionalmente conhecido do país – o da desigualdade social e da violência – não recebe menção na campanha. Mas é justamente esse cenário que pode pôr em risco os planos da ministra Marta Suplicy.
Segundo dados da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis (ABGLT), 63% dos homossexuais brasileiros já sofreram algum tipo de preconceito. Desses, 20% já foram agredidos fisicamente. A discriminação, explica Igo Martini, um dos coordenadores da associação, pode ser vista principalmente nas classes mais pobres.
Mas não é só. Há exemplos claros de preconceito sexual também nos altos escalões do poder, especialmente o Legislativo, apontado pelos militantes da causa como o mais conservador. O Executivo, tido como o mais liberal dos três poderes, coordena, inclusive, uma campanha que tem como um de seus objetivos reduzir a homofobia entre as autoridades políticas.
Lobby religioso
A própria ministra tem em sua carreira política um exemplo do poder da discriminação contra os homossexuais. Ela apresentou na Câmara, em 1995, um projeto de lei que legaliza a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Doze anos depois, a proposta não foi além das comissões de mérito. O motivo, aponta Igo Martini, é só um: preconceito, principalmente por parte das bancadas religiosas.
Com cerca de seis anos de tramitação no Congresso, uma proposta que transforma a homofobia em crime, punido com até cinco anos de prisão, foi aprovada na Câmara no fim da última legislatura. No Senado, enfrenta forte resistência justamente dos grupos religiosos, que temem ficar impedidos de dizer, em cultos e missas, que consideram a homossexualidade um pecado.
“Nós estamos em uma sociedade majoritariamente cristã, que não entende e não concorda com isso. Então, o que a gente acha é que a minoria tem que aceitar a posição da maioria em uma democracia”, defende o deputado Bispo Rodovalho (DEM-DF), fundador da Igreja Sara Nossa Terra.
Alto poder
O objetivo da campanha do Ministério do Turismo é atrair homossexuais de alto poder aquisitivo. Esse grupo, segundo Igo Martini, não está acostumado a sofrer preconceito. O risco não está propriamente na Parada Gay de São Paulo, conhecida como um movimento pacífico, que em 2006, reuniu 3 milhões de pessoas e sem qualquer registro de violência.
As dificuldades podem surgir quando esses turistas – o ministério ainda não fez nenhuma estimativa – decidirem seguir o conselho do flyer e aproveitar para conhecer “as outras atrações que há por aqui”. O problema é que o Ministério do Turismo não preparou qualquer estrutura especial para recebê-los nos tradicionais pontos turísticos. Portanto, há, como acontece com os homossexuais brasileiros, risco de serem vítimas de preconceito.
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