De “candidata que não decola nas pesquisas”, como no início da campanha eleitoral, e “candidata monotemática”, que só pensa em aquecimento global, para “Marina fenômeno” e ícone “Cult” da política brasileira. Chega a ser patético como as pessoas são colocadas no mais alto pedestal e no mais enfadonho tamborete em tão pouco tempo.
A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, é a derrotada nas urnas mais vitoriosa dos últimos tempos. De terceira opção para a “noiva” mais cortejada. Marina, que perdeu no primeiro turno, é colocada como a chave da vitória alheia no segundo. Reflexos de uma eleição insossa e sufocante.
Insossa porque essas eleições – até domingo último – haviam sido mais do mesmo. Como dizem os tailandeses: same same but different. A pouca novidade ficou por conta do núcleo aparentemente coadjuvante nas eleições: o Plínio de Arruda Sampaio, com suas tiradas clássicas, e a onda de esperança verde provada pela candidatura de Marina.
Sufocante porque, nunca antes na história deste país, um presidente da República forçou tanto a barra para emplacar um sucessor, atuando como cabo eleitoral 24 horas, tirando vantagens de sua popularidade para convencer o eleitor de que “eu sou ela, ela sou eu, troque seis por meia dúzia e seja feliz”.
E sufocante também porque, depois de oito anos de governo de um e de oito anos de governo do outro, eram esperadas novas idéias, novas perspectivas. Mas, não. As idéias continuam as mesmas e as promessas também. “Se eu for eleito (a), vou erradicar a pobreza… Vou melhorar a educação… Vou investir em saúde… Vou combater a violência… Vou construir isso, vou construir aquilo…”
Agora, Marina é colocada como a “chave do negócio”, o segredo da conquista da vitória, a escada para alcançar a Presidência da República. Como disse Zuenir Ventura, todo mundo quer “tirar casquinha da onda verde”. “Agora, todos são verdes desde criancinha, todos são povos da floresta”.
O coordenador da campanha do tucano José Serra, Xico Graziano, deu uma cartada. Soltou a lista das “21 ações ambientais concretas do governo Serra”. (21? Seria a Agenda 21 de Serra?). “A valorosa senadora do Acre sabe que o governo de Serra em São Paulo tomou medidas efetivas, com bons resultados, na defesa ecológica”. O governo Serra fez: “Fim dos lixões municipais, aprovação da lei de mudanças climáticas, projeto ‘Criança Ecológica’, apoio ao ecoturismo” e etc.
E Marina sabe mesmo. A senadora do PV, em entrevistas – inclusive para a pessoa que lhes escreve – chegou a elogiar ações e posicionamentos tucanos, não só no governo paulista, como também em votações de tucanos no Senado. O tom era sempre de surpresa e admiração. Marina, por várias vezes, sinalizou com simpatia para opiniões dos tucanos “verdes” e chegou a refletir se os peessedebistas não estariam mesmo começando a compreender o que é sustentabilidade.
Mas, como apostam os petistas, o coração de Marina, antes de verde, era vermelho, e o primeiro amor, a gente nunca esquece. Os articuladores da campanha da candidata petista, Dilma Rousseff, apostam que Marina não vai esquecer-se de sua história e das lutas sociais que juntos tiveram. E vão jogar pesado. Ao invés de listinha de ações sustentáveis – até porque seria difícil Dilma encontrar uma listinha do tipo –, a campanha do PT vai partir pros amigos e companheiros de luta de Marina.
Leonardo Boff é um deles. Boff foi um grande incentivador da candidatura de Marina à Presidência. Quando ninguém falava em Marina presidente, Boff já insistia que a amiga seria a terceira via necessária. No Fórum Social Mundial de Belém, em fevereiro de 2009, por exemplo, Boff estava junto com Marina quando ela foi ovacionada por participantes do evento e chamada, em coro, de “Marina presidente do Brasil”. Mas Boff também é amigo de Dilma e de Lula e não vai abandoná-los nesta hora.
Marina prometeu definir seu apoio – se houver –, somente após a convenção do partido, no dia 17. E, enquanto todos tentam decifrar quem Marina fenômeno vai apoiar, os eleitores da candidata curtem o momento que os deixou por cima para surfar na onda verde do “quem dá mais pelo meu voto decisório”. Mas não é “um quem dá mais” desqualificado. É, por um lado, quem dá mais propostas, por outro, quem dá mais esperança e, para outros ainda, quem dá mais segurança moral. É um fantástico quebra-cabeça democrático. Nós merecíamos este segundo turno.
Deixe um comentário