A máfia dos sanguessugas começou a ser investigada em 2002, quando o Ministério Público Federal encontrou provas da venda de ônibus superfaturados pela Planam para municípios do Acre. Como a sede da empresa fica em Mato Grosso, foram logo em seguida acionados os procuradores da República naquele estado.
Deu-se início então a uma investigação que seria desenvolvida a partir daí em absoluto sigilo, com a participação da Polícia Federal e a cooperação da Justiça Federal de Mato Grosso. Paralelamente, a Controladoria Geral da República aprofundou-se no exame de irregularidades em convênios do Ministério da Saúde com prefeituras e entidades assistenciais para a distribuição de unidades móveis de saúde.
Esse trabalho resultou na Operação Sanguessuga, deflagrada em maio deste ano. Ela permitiu prender 50 pessoas (empresários, assessores parlamentares, servidores públicos e funcionários das empresas envolvidas) e realizar igual número de buscas e apreensões.
Papel-chave no escândalo foi desempenhado pela Planam. A empresa foi criada em Mato Grosso, em 1993, e funcionou como um modesto escritório de lobby durante os seus cinco primeiros anos de existência, prestando serviços a prefeituras. Em 1998, os donos da Planam descobriram o filão das ambulâncias.
Foi o início da montagem de uma complexa estrutura criminosa, que resultaria na criação de 14 empresas de fachada (todas controladas pela família Vedoin, dona da Planam) e um amplo esquema ilegal, que agia em todo o país e incluía desde prefeitos e funcionários municipais até servidores federais, assessores parlamentares e congressistas.
Com o tempo, a Planam passou a atuar em outras frentes: além de fornecer ambulâncias e equipamentos de saúde, começou a vender ônibus de inclusão digital (na área do Ministério da Ciência e Tecnologia) e veículos adquiridos com verbas orçamentárias dos ministérios da Educação e das Comunicações.
Com base nas investigações realizadas até agora, estima-se que as fraudes com desvio de recursos federais giraram em torno de R$ 110 milhões.
As propinas
Por meio da apresentação de emendas, os parlamentares conseguiam liberar dinheiro para a compra dos veículos. As comissões dos parlamentares eram, em média, de 10% do valor do contrato obtido após a realização de licitações fraudadas (quase sempre por carta-convite e, freqüentemente, com uma “competição” restrita a empresas do próprio grupo Planam).
A propina era geralmente paga em espécie. Em alguns casos, antecipadamente, isto é, antes da contratação dos serviços e liberação dos recursos ou mesmo da apresentação das emendas. Além de valores em dinheiro, a máfia remunerava os políticos com presentes, carros (inclusive um BMW) e até com o pagamento de serviços de garotas de programa.
Depois que o Ministério Público e a Polícia reuniram numerosas e robustas provas testemunhais ou materiais contra os Vedoin, os dois integrantes da família que estão à frente do grupo Planam – Darci José Verdoin e seu filho, Luiz Antônio Trevisan Verdoin – concordaram em contar o que sabiam em troca do benefício da delação premiada.
Mesmo assim, algumas vezes, houve contradições entre os depoimentos deles e de outras testemunhas, como ex-funcionários do grupo Planam e servidores públicos. Segundo um integrante da CPI dos Sanguessugas, embora tenha revelado muita coisa, Vedoin ainda tenta poupar alguns políticos com os quais mantém bom relacionamento.
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