Após reunião no início da noite deste domingo (4) com a presidenta Dilma Rousseff, Carlos Lupi pediu demissão do cargo de ministro do Trabalho. Ele não resistiu a uma série de denúncias contra ele e contra a pasta nos últimos meses. Também pesou na decisão a recomendação da Comissão de Ética Pública para sua exoneração. “Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o Trabalhismo não contagie outros setores do governo”, disse Lupi em nota. Assume de forma interina o secretário-executivo Paulo Pinto.
Na nota publicada no Blog do Trabalho, ele afirmou ter sido alvo de uma “perseguição política e pessoal da mídia” nos últimos dois meses. O pedetista questionou também a recomendação da Comissão de Ética Pública. Lupi disse ter sido “condenado sumariamente com base neste mesmo noticiário sem me dar direito de defesa”. “Saio com a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal e confiante por acreditar que a verdade sempre vence”, disse.
Ele é o sétimo ministro a não completar o primeiro ano do mandato da presidenta Dilma. Antes dele, já deixaram o cargo: Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Nelson Jobim (Defesa), Pedro Novais (Turismo), Wagner Rossi (Agricultura) e Orlando Silva (Esportes). Com exceção de Nelson Jobim, todos os outros pediram demissão após suspeitas de irregularidades nas suas pastas e na conduta política.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, Lupi ocupou simultaneamente, por quase cinco anos, dois cargos de assessor parlamentar em órgãos públicos distintos, a Câmara dos Deputados, em Brasília, e a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A “acumulação remunerada de cargos públicos” é proibida pela Constituição e pode levar a ações judiciais por improbidade administrativa e peculato, com cobrança da devolução dos recursos recebidos de maneira irregular.
Na quarta-feira (30), a Comissão de Ética Pública da Presidência da República recomendou à presidenta Dilma Rousseff a exoneração do ministro do Trabalho por conta das recentes acusações de desvio de verba pública e cobrança de propina feitas em sua pasta. Trata-se de uma sugestão. O procedimento de apuração foi aberto no início do mês e a decisão foi anunciada pelo presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, que considerou as explicações de Lupi ao Congresso e à própria comissão como “inconvenientes a um ministro”.
De acordo com a matéria, o mecânico Irmar Silva Batista tentava criar o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo (Sirvesp) em 2008. Na ocasião, relata a revista, o então secretário de Relações do Trabalho, Luiz Antonio de Medeiros, o apresentou a um assessor, Eudes Carneiro, que lhe pediu R$ 1 milhão para liberar o registro. Irmar se recusou a pagar e o registro não saiu até hoje.
Leia a íntegra da nota:
“Tendo em vista a perseguição política e pessoal da mídia que venho sofrendo há dois meses sem direito de defesa e sem provas; levando em conta a divulgação do parecer da Comissão de Ética da Presidência da República – que também me condenou sumariamente com base neste mesmo noticiário sem me dar direito de defesa — decidi pedir demissão do cargo que ocupo, em caráter irrevogável.
Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o Trabalhismo não contagie outros setores do Governo.
Foram praticamente cinco anos à frente do Ministério do Trabalho, milhões de empregos gerados, reconhecimento legal das centrais sindicais, qualificação de milhões de trabalhadores e regulamentação do ponto eletrônico para proteger o bom trabalhador e o bom empregador, entre outras realizações.
Saio com a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal e confiante por acreditar que a verdade sempre vence.
Carlos Lupi
Ministro do Trabalho e Emprego”
Nota atualizada às 20h27
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