Olympio Barbanti Jr.*
Chamou atenção a forma incisiva como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu em defesa do senador José Sarney (PMDB/AP), logo no início da atual crise no Legislativo.
“Eu penso que o Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como uma pessoa comum”, disse Lula que, não contente, articulou a blindagem de Sarney no Senado.
Os motivos que Lula tem para defender Sarney devem ser muito valiosos, posto que os custos de tal movimentação política são elevados diante da opinião pública.
Há dois principais motivos políticos para este apoio. O primeiro é a presunção de que Sarney mais agrega do que desagrega entre seus pares no Senado. Nesse sentido, Lula aumenta suas chances de conseguir estabilidade no Congresso tendo Sarney à frente da Casa Legislativa.
Há também a avaliação feita por José Dirceu de que o apoio dado a Sarney aproxima o PMDB da candidatura de Dilma Rousseff ao Planalto, em 2010. Peça-chave no quebra-cabeças eleitoral, o PMDB será, sem dúvida, bem tratado por Lula.
Porém a relação Sarney-Dilma vai um pouco além do apoio político. Há quatro peças fundamentais no desenvolvimento econômico do Maranhão que contam muito para uma campanha de Dilma.
1) PAC, Política e Energia
A “mãe do PAC”, como foi chamada Dilma, certamente buscará dividendos políticos no investimento de aproximadamente R$ 646 bilhões que o Programa de Aceleração do Crescimento realiza no Brasil.
Para o Maranhão, estão previstos no PAC R$ 54,7 bilhões de investimento total, sendo R$ 11,2 bilhões até 2010 e R$ 43,5 bilhões após esta data, ou seja, depois das eleições.
Para um dos estados mais pobres do Brasil, senão o mais pobre, esses recursos significam o azeite que lubrifica as engrenagens da máquina política local.
Baseada em relações coronelistas do tipo patrão-cliente, a máquina política maranhense é sustentada por eleitores que esperam “receber pronto” do governo: no lugar de empreendedorismo, vale o particularismo clientelista e, invariavelmente, patrimonislista.
Peça fundamental do PAC Maranhense são as usinas de geração de energia elétrica. Devem ser construídas sete hidrelétricas e três termoelétricas. Somando-se as redes de transmissão, o estado espera atingir a universalização do acesso à energia elétrica.
2) Agroindústria
Associados aos investimentos em energia e logística, vêm junto fortes investimentos no agronegócio de larga escala e na agroindústria. Além do Maranhão, esses também vão chegar ao Piauí, que irá se beneficiar de parte da geração de energia elétrica.
As terras maranhenses (e piauienses) estão entre as mais baratas do país. Na região de Balsas (sul do estado), os cerrados já deram lugar à soja, que continua se expandindo rumo ao leste.
Na região de Açailândia, as terras estão tomadas por florestas de eucalipto para produção de carvão destinado às fábricas de ferro-gusa.
Essas florestas devem se ampliar com a instalação, naquela região, de uma fábrica de papel e celulose da companhia Suzano, um investimento de US$ 1,8 bilhão. Igual valor em dólares estadunidenses será destinado pela empresa para uma segunda fábrica, no Piauí.
Essa produção vai poder escoar com facilidade, em função dos investimentos em transporte.
3) Logística de Transporte
O eixo entre Imperatriz e Açailândia, na região Sudoeste do estado, vai se tornar um pólo de logística.
Ali está o entroncamento das estradas de ferro Carajás e Norte-Sul, esta última concebida no governo do então presidente da República José Sarney.
Em Estreito, município onde uma hidrelétrica encontra-se em construção, haverá a ligação da Norte-Sul com a Transnordestina. Essa ferrovia conduz ao porto de Suape, em Pernambuco, o qual também está sendo modernizado.
Cerca de R$ 500 milhões estão sendo gastos na recuperação das precárias estradas maranhenses. Naquela região, uma ponte ligando Imperatriz ao Estado do Tocantins vai expandir o tráfego rodoviário.
Completando a infra-estrutura rodoviária e ferroviária, a região será beneficiada pela hidrovia do Tocantins, já em implantação.
Por fim, o porto de Itaqui, próximo à capital São Luís, será modernizado e ampliado, devendo receber investimentos dos estaleiros Mauá e Eisa, para fabricar navios e plataformas.
4) Refinaria da Petrobras
Distante apenas 20 km da capital do estado, o pequeno município de Bacabeira, com cerca de 15 mil habitantes, vai receber uma refinaria da Petrobras. Chamada de “refinaria Premium”, ela deverá ser uma das maiores e mais modernas do país. Seu custo de instalação é calculado em aproximadamente US$ 20 milhões.
A instalação, que deverá estar pronta em 2013, deve levar o Brasil a uma posição de exportador de diesel, combustível que ainda hoje é importado pela estatal.
Segundo o governo do Maranhão, a refinaria irá gerar cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos e irá gerar uma movimentação de 112 navios por mês no Porto do Itaqui.
Uma pessoa incomum
Sarney não é de fato uma pessoa comum. Seu grupo conseguiu retirar do poder o governador Jackson Lago (PDT), cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e retomar o poder no estado justamente na época em que obras começam a ser inauguradas.
O desenvolvimento que o Maranhão deve experimentar deverá ser proporcionalmente maior do que aquele a ser verificado em diversos outros estados. Blindar Sarney traz ganhos para a estabilidade política em Brasília, e para a campanha presidencial do próximo ano – quer seja pela lógica das alianças, quer seja pela lógica dos ganhos políticos advindos do PAC.
Lula e Dilma ganham com a bonança do desenvolvimento e esperam colher uma boa safra entre os pouco mais de 4 milhões de eleitores maranhenses registrados no Maranhão – fora aqueles eleitores que a pobreza local expulsou do estado ao longo dos anos.
*Jornalista e consultor, é PhD em Políticas Sociais e Gestão pela London School of Economics.
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