Arlete Salvador*
Desde que o filme Cleópatra, do diretor Joseph L. Mankiewicz, foi lançado, em 1963, a atriz Elizabeth Taylor simboliza e personifica a última rainha do Egito. É quase impossível pensar em Cleópatra sem dar-lhe os olhos azuis e os longos cabelos negros de Liz. Já Cleópatra imortalizou Liz, mas aquela Liz de 1963, jovem, linda e sedutora.É quase impossível pensar em Liz Taylor sem vê-la com as vestes egípcias de Cleópatra, embora a atriz tenha outros desempenhos estupendos no cinema.
Simbiose tão grande se explica pela dose de fantasia que envolve as duas mulheres. A Cleópatra representada por Liz Taylor não existe. A verdadeira rainha do Egito era feia, perdeu a guerra contra Roma, os amantes, o trono e a vida sem romantismos. A imagem congelada de Liz em Cleópatra também era falsa. A realidade parecia feia demais para os fãs. Quem sonharia com a Liz das últimas décadas? Não. Elizabeth Taylor seria sempre aquela Cleópatra deslumbrante do filme de 1963.
Nos dois casos, a questão da beleza física revela como o mundo pouco mudou em relação às mulheres. Acredita-se que Cleópatra tenha sido tão linda quanto Liz Taylor por que só a beleza explicaria seu poder de sedução dos amantes Júlio César e Marco Antônio. Os relatos da época não mencionam a beleza da rainha, mas destacam seu charme e inteligência. E Liz? Não poderia envelhecer. Todas as atrizes deveriam morrer na idade de Marilyn Monroe para que nos lembrássemos delas jovens.
Há ainda um componente de Eva nessas mulheres. Ambas eram consideradas más, astutas, sem o ar de mocinha dócil e cordata que a sociedade ainda gosta de ver nas mulheres e nas rainhas. Por isso mesmo, como Eva, as duas foram responsabilizadas pelas besteiras cometidas pelos maridos. De Cleópatra dizia-se que enfeitiçou Marco Antônio para levá-lo a trair Roma. De Liz, que colecionava homens e roubava maridos das amigas. Os homens, coitados, como Adão, eram vítimas delas.
Elizabeth Taylor e Cleópatra viveram com a diferença de mais de 2000 anos entre elas, mas, céus, como não parecem.
*Arlete Salvador é jornalista especializada em política e há dois anos pesquisa a vida da rainha do Egito, que acaba de resultar no livro Cleópatra, Editora Contexto, 160 páginas
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