Creio que não há um adolescente que não sonhe em ser rico. Mas o que é ser rico na concepção de um adolescente? A resposta depende da origem, de onde vive e qual escala social se encontra. Mas isso pouco importa para o (adolescente) sonhador. Na maioria das vezes ele não tem consciência social e só deseja ter mais (dinheiro) do que tem. E ter mais do que tem pode parecer, para ele, ser rico.
Não vou pegar exemplo de ninguém a não ser o meu próprio. Na adolescência, eu era rico ou pobre? Depende de que lado estava o observador. Meu pai, junto com seus irmãos e meu avô e avó, trabalhavam numa propriedade rural familiar. Para quem, na época, trabalhava para eles, ou seja, era empregado, minha família era rica. Para um fazendeiro que olhasse de fora, era pobre. E para minha família, o que éramos?
Nunca ouvi ninguém da família falar que éramos ricos. Pobres, sim. O que mais ouvia dizer é que éramos remediados. E por falar em remédio, sempre ouvia o comentário que o importante é ser rico de saúde para poder trabalhar e que trabalhando não faltaria a comida. Crianças, adultos, mulheres e idosos, sem exceção, trabalhavam. E todos trabalhávamos muito.
Hoje, alguns de nós, adolescentes daquela época, nos formamos em algum curso superior. Sonho de nossos pais, fazer os filhos estudarem. Outros não conseguiram esse objetivo. Mas, com nível superior ou não, muitos continuam vivendo com muita dificuldade econômica. Rico de verdade, daquela época e que vivia naquela localidade, acho que só tem um. Mas mesmo esse rico não está entre os mais ricos do mundo, nem do Brasil. Não sei se está entre os mais ricos do Paraná. Creio que não.
Meu pai dizia que trabalhando é possível conseguir viver bem e com dignidade, mas ficar rico, rico mesmo, não era possível através do trabalho. Ele dizia que só era possível ficar rico explorando os outros. Informo: ele não conhecia Karl Marx e tampouco sabia o que era socialismo ou comunismo.
Faço essas observações porque, em janeiro deste ano, a imprensa divulgou que a fortuna das 300 pessoas mais ricas do mundo tinha aumentado em 2013. Chegou a US$ 3,7 trilhões. Deste montante, US$ 78,5 bilhões eram do Bill Gates. Desde que idade Bill Gates “sua a camisa” no trabalho duro de sol a sol? Acho que meu pai tinha razão.
As notícias de janeiro informavam que essas 300 pessoas acrescentaram, em 2013, US$ 524 bilhões em suas fortunas, provavelmente “suaram muito a camisa” para ganhar esses míseros trocados. Só o Bill Gates ganhou a miséria de US$ 15,8 bilhões só com o aumento das ações da Microsoft.
Outro que “suou muito a camisa” em 2013 foi um cidadão de nome Sheldon Adelson, que aumentou a sua fortuna em US$ 14,4 bilhões. Aumentou explorando justamente aqueles que desejam ser ricos como ele. O senhor Adelson é dono de cassinos. Este dá mais razão ao meu pai. Fez a fortuna explorando os outros.
Há de ser ter “pena” é do senhor Carlos Slim. Até o final de 2013, ele era considerado o homem mais rico do mundo. Perdeu essa posição para Bill Gates. O “infeliz” perdeu, no ano passado, a fortuna de US$ 1,4 bilhão. Mas creio que isso não deve ser um grande problema, pois ainda sobraram para o “coitado” alguns trocados, cerca de US$ 73,8 bilhões.
Os países da União Europeia vivem uma grave crise econômica. O desemprego em geral anda em torno de 20%, chegando, em algumas regiões, como na Espanha, a 60%, principalmente entre os jovens. Estes sequer sonham em ficar ricos. Sonham em trabalhar para garantir o pão nosso (deles) de cada dia. Mas essa crise não impediu um sujeito, o espanhol Amancio Ortega, de aumentar sua fortuna em US$ 8,9 bilhões e ser dono de US$ 66,4 bilhões. Mas parece que o senhor Amancio não é o único da família que “sua a camisa”. Sua filha, Sandra Ortega, tem uma fortuna avaliada de US$ 7,3 bilhões. Ê família “trabalhadora!”.
Não só os gringos trabalham muito. No Brasil também temos aqueles que “suam a camisa”, como o cidadão Jorge Paulo Lemann, o segundo homem mais rico da América Latina. O primeiro é o Carlos Slim. O sr. Lemann “trabalhando e muito”, só o ano passado aumentou sua riqueza em US$ 1,4 bilhão, sendo dono no final do ano de US$ 22,8 bilhões.
Mas rico também sofre, e sofre de se ter pena. É o caso do senhor Eike Batista, que perdeu mais de US$ 12 bilhões durante o ano de 2013. Coitado, vai ter que “suar” a camisa para reconquistar o que perdeu.
Mas não para por aqui: em março deste ano, a revista Forbes trouxe a lista dos mais ricos. A revista informa que a fortuna dos 65 brasileiros (ricaços) que mais “suaram a camisa” chegou a US$ 220 bilhões.
Na lista do ano passado, constavam 64 brasileiros, agora são 65, a maioria banqueiros, ou da construção e serviços, como vender cerveja e desinformar o povo. Quando falo construção, não é o pedreiro e tampouco o mestre de obras e o engenheiro. Esses, pelo jeito, não suam a camisa.
Na lista, está Jorge Paulo Lemman, que entre outras coisas, mesmo não sendo dono de bar, vende cervejas. Joseph Safra, banqueiro. A família Marinho e Edir Macedo que “vendem” desinformações através de suas redes de TVs. A família Marinho, dona da TV Globo, tem a fortuna de US$ 29,9 bilhões e é suspeita de calotes fiscais. Já Edir Macedo, da TV Record, tem só US$ 1,1 bilhão.
O que posso dizer aos adolescentes que sonham em ficar ricos: (1) que suem a camisa; e (2) que, enquanto suam a camisa trabalhando, não se esqueçam de ler Karl Marx. Vocês vão entender por que meu pai tinha razão.
Veja a lista dos 65 brasileiros bilionários da lista da Forbes
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