Márcia Denser*
Em que pesem as críticas à direita e à esquerda, o governo Lula não pode ser acusado de cercear a liberdade de imprensa, inclusive porque, tanto quanto sabemos, os membros da equipe do governo e seus aliados não possuem jornais, canais de tevê ou emissoras de rádio. Porque a mídia toda – grande, média e pequena – pertence a pefelistas, tucanos, peemedebistas, e demais ricos e poderosos de plantão no país há 500 anos (e fora dele).
Isso significa que a falta de imaginação, de assunto, até de idéias, o vácuo de palavras não ditas, de omissões, de meias-verdades, de mentiras consentidas por redatores, editores e leitores, sem contar a apoteose do besteirol que constitui o grosso do seu conteúdo, resulta do interesse de classe e do capital. Pronto. Está explicado, com a maior simplicidade e clareza de que é capaz um escritor, porque de algumas décadas para cá a mídia transformou-se em merda. Contudo, as coisas não são tão claras nem tão simples assim, é preciso ler criticamente e estabelecer conexões. Eis alguns exemplos.
Em crônica publicada no último dia 22, Clóvis Rossi comenta um assalto a banco na Praça da Sé em Sampa onde, para desviar a atenção da polícia, os assaltantes jogaram para o alto o dinheiro roubado, espalhando a grana pela praça, logo quem passava fez a festa, pegou o quanto pôde. Aí Clóvis obtempera** (vejam só o verbo, pois pelo que vai dizer a seguir, o sujeito só pode estar "obtemperando"): um punhado de brasileiros torna-se cúmplice de assalto a banco! Dá pra suspeitar que, bem lá no fundo, somos todos "mensaleiros", se tem dinheiro caindo dos céus, para que perguntar a origem?
Leitura crítica: para começar, vamos fingir que não sabemos que atualmente os banqueiros é que são os maiores ladrões do país e deviam estar todos na cadeia, e isso dito pelo procurador da República Luiz Francisco em entrevista ao Congresso em Foco, e para terminar, o fato de se apanhar dinheiro jogado fora não tem nada a ver com aquele ganho via mensalão cuja origem tanto o emissor como o receptador conhecem perfeitamente. Pobres bancos, pobres banqueiros, não é mesmo, meu querido Clóvis?
Outra: matéria deste site informa que a OAB quer que o STF priorize inquérito do mensalão, sendo que o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, alerta para o risco de o Judiciário ser alvo da mesma falta de "confiabilidade" com que a população vê o Congresso. Os temores do Sr.Busato nos parecem mais que fundados, sobretudo porque simultaneamente se lê na coluna social da Mônica Bergamo, do último dia 22/4 (FSP), que a ex-primeira-dama paulista Lu Alckmin (aquela das roupinhas) está de superconchavo com o presidente da OAB paulista, o Sr.Luiz Flávio D’Urso, ambos trocando favores em campanhas recíprocas. Ou seja, a eleição para presidente do maridinho dela, o insigne Mágico de Oz, o construtor de presídios, e a reeleição do Amigo Urso para a OAB em São Paulo. Aliás, no seriado Oz, cujo tema é a vida numa prisão norte-americana de segurança máxima, produzido pela HBO e já exibido pelo SBT, existe o personagem de um governador que cairia como uma luva em nosso picolé de chuchu diet!
**Obtemperar= contestar, contrapor, objetar, retrucar, etc.
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