Marcos Magalhães*
Boas idéias deveriam trafegar em faixas exclusivas, longe dos sinais vermelhos e da burocracia. Especialmente se for para facilitar a mobilidade de brasileiros cansados de engarrafamentos aéreos e terrestres. Ainda não há solução à vista para o caos dos aeroportos. Mas duas idéias – uma nascida na Europa e outra por aqui mesmo – poderiam servir de inspiração aos administradores brasileiros.
A idéia européia trafega sobre duas rodas. Recebeu o nome de Velib em Paris e Bicing em Barcelona. Nas duas cidades, como em diversas outras que estão aderindo ao modelo por toda a Europa, os governos colocam milhares de bicicletas à disposição da população, espalhadas em pontos estratégicos das cidades – como junto a estações do metrô, por exemplo.
Cada pessoa interessada se inscreve no sistema e pode usar as bicicletas como meio de transporte complementar ao metrô ou aos ônibus. Depois de usar, deixa a bicicleta no ponto de entrega mais próximo de seu destino. O custo? Em Paris, a primeira meia hora é gratuita, e a segunda meia hora custa 1 euro. Nada menos que um milhão de pessoas se inscreveu no sistema, que cobra uma taxa anual de 29 euros.
No Brasil, a idéia recentemente anunciada não é exatamente nova e nem trafega sobre rodas. Desliza sobre colchões magnéticos que eliminam o atrito e permitem um deslocamento rápido sobre trilhos. Trata-se de um trem magnético urbano, com custo de implantação bem inferior ao do metrô, emissão zero de poluentes e, o que é mais relevante, alimentado por uma tecnologia totalmente nacional.
O projeto foi desenvolvido pela Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para começar a colocá-lo em prática, a universidade solicitou R$ 4,1 milhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O dinheiro seria utilizado na construção de um protótipo e de um pequeno trecho de testes, com apenas 114 metros. Se tudo der certo, a UFRJ espera montar um trecho experimental de três quilômetros até 2010, ligando o hospital da universidade à reitoria, a 70 km/h.
O preço é um dos principais argumentos utilizados pelos pesquisadores em defesa de uma futura implantação de linhas urbanas de trens magnéticos em cidades brasileiras. Enquanto um quilômetro de metrô subterrâneo custa R$ 100 milhões, o quilômetro do Maglev Cobra – como seria chamado o veículo – sairia por R$ 33 milhões. Embora o foco do momento sejam trens urbanos de baixa velocidade, a mesma tecnologia desenvolvida no Rio de Janeiro poderia um dia ser aplicada a trens interurbanos mais rápidos. O percurso entre o Rio e São Paulo, por exemplo, poderia ser feito em uma hora e meia.
O transporte entre grandes cidades e, principalmente, dentro das grandes cidades ainda não conquistou um lugar de destaque nos debates dentro do governo e do Parlamento. A maneira como as pessoas se deslocam, porém, está ligada a temas tão importantes como a saúde pública, o meio ambiente e a qualidade de vida. Nas ruas de Paris, a bicicletas já são usadas até de madrugada por jovens franceses e por turistas que buscam o charme tranqüilo das ruas silenciosas.
PublicidadeEm uma realidade mais próxima, Bogotá tem emitido outros sinais de que é possível se buscar maior qualidade de vida também nas cidades do Terceiro Mundo. Corredores expressos de ônibus ligam os principais pontos da capital colombiana. Ciclovias também se esparramam pela cidade. Melhor: conectadas a uma rede de bibliotecas públicas que atraem milhares de pessoas por dia.
As capitais brasileiras podem repetir Bogotá ou Curitiba, cidade que também inovou com suas estações em forma de tubo e ônibus articulados. Podem construir milhares de ciclovias, conectadas aos grandes meios de transporte, e oferecer bicicletas à população por meio de esquemas semelhantes aos de Barcelona e Paris. Podem até sonhar com trens de levitação magnética como o desenvolvido pela Coppe. Tudo isso, porém, requer uma visão de futuro para as nossas cidades. Uma visão de qualidade de vida, de respeito ao meio ambiente e, se Bogotá pode ser um exemplo a ser seguido, de estímulo à cultura.
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