Marcos Magalhães*
Oito anos depois que o primeiro-ministro Tony Blair inaugurou uma das mais longas fases no poder do Partido Trabalhista, o tradicional e trabalhista diário inglês The Guardian abriu suas páginas, nas últimas semanas, para simpáticos comentários a respeito do nascimento de uma nova liderança. Não, não se trata de ninguém filiado ao mesmo partido do carismático, mas desgastado, primeiro-ministro. A nova estrela da política, ironicamente apelidado de herdeiro de Blair, é o jovem político conservador David Cameron.
"Se os conservadores querem ter uma séria chance de voltar ao poder", escreveu recentemente o colunista Timothy Garton Ash no Guardian, "eles devem embarcar no Camerair" – apelido que deu ao político conservador que disputará em breve a liderança de seu partido, passaporte para se tornar candidato ao cargo de primeiro-ministro nas próximas eleições. Camerair é uma mescla de Cameron com Blair, em quem se inspira o conservador, segundo Ash, para construir a imagem de um político moderno. Cameron quer fazer os britânicos se sentirem "mais uma vez" confortáveis ao serem conservadores.
No Brasil, a direita nunca chegou a ser exatamente popular, como foi na Inglaterra no período áureo de Margaret Thatcher. E, onze anos depois do início do período de regência de tucanos e petistas, variantes nacionais da social-democracia, aqueles que se sentem à direita do centro ainda não encontraram um novo rosto como o de Cameron – como pôde ser constatado no programa nacional de televisão apresentado há poucos dias pelo PFL. Boa parte do programa foi ocupada por políticos que permanecem na ativa desde o período militar.
Depois de 64, a direita brasileira foi inicialmente representada pela Arena, que se transformou depois no PDS. Daí surgem dois troncos. Um deles foi trocando de feições até se transformar no atual PP, cuja imagem acabou atingida em cheio pelo escândalo do mensalão. O outro se transformou em uma dissidência do regime militar, assumiu o nome de PFL e ajudou o PMDB a eleger Tancredo Neves presidente no Colégio Eleitoral, há vinte anos.
De lá para cá, o partido esteve no poder com o próprio PMDB e, depois, ao lado do PSDB, em oito anos de aliança. Ensaiou um vôo próprio há quatro anos e enfrentou problemas. Lançou neste ano a pré-candidatura do prefeito do Rio, César Maia, à Presidência da República. Mas o próprio Maia tem acenado a tucanos com uma nova aliança eleitoral em 2006. A renovação pode estar a caminho, nas bancadas do Congresso Nacional, ou nas eleições para governadores. Mas não há ainda à vista nenhum tipo de Cameron tropical.
No seu programa de televisão, o PFL bateu duramente no atual governo, pelo que este teria de corrupto e ineficiente. Ajudou a desconstruir um pouco mais a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ficou devendo uma mensagem mais clara do que defende para o país. O mote estava ali: menos impostos e mais empregos. Em outro momento, deverão aparecer os detalhes.
O fato é que nem o PFL nem qualquer outro partido assumidamente de direita ou centro-direita têm apresentado ao eleitorado uma opção clara de governo à atual dicotomia PSDB-PT. Desde a ditadura, a própria palavra direita ganhou uma conotação perversa. Quem se sente um pouco mais conservador vota PSDB, um partido que traz no nome a social-democracia.
Os empresários brasileiros, segundo recente pesquisa da revista Exame, apostam, por exemplo, na candidatura a presidente do atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Talvez até por ser ele herdeiro político do também governador paulista Mário Covas – o mesmo que decretou em 1989, para espanto de muitos companheiros da centro-esquerda, que o Brasil precisava de um "choque de capitalismo".
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