Marcos Magalhães |
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Uma conclusão bem sucedida da troca de antigos papéis por novos títulos da dívida argentina poderá marcar o início de um tortuoso caminho de volta ao mercado financeiro internacional, três anos após a moratória decretada pelo governo de Buenos Aires. Enquanto isso, no Brasil, estradas, portos e ferrovias se preparam para receber investimentos de aproximadamente R$ 9 bilhões, ao longo dos próximos três anos. Aparentemente desconexos, os movimentos dos dois maiores sócios do Mercosul indicam a disparidade dos desafios políticos e econômicos que têm pela frente no futuro próximo. Assim que concluir a troca de títulos, a Argentina deverá começar uma dura negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil, por sua vez, recebeu o aval do organismo para investimentos na infra-estrutura e ensaia uma despedida do FMI. O cenário visto de Buenos Aires inclui, além das negociações com o Fundo Monetário, o acompanhamento detalhado dos índices de inflação – que indicaram 1,5% em janeiro – e um esforço concentrado pelo aumento das exportações. A retomada da economia já promoveu o aumento das importações argentinas, e novas compras de máquinas e equipamentos podem complicar a balança comercial. Em Brasília, o céu não é exatamente de brigadeiro. Mas as exportações continuam a bater recordes, mesmo com o dólar barato, e os primeiros números de 2005 apontam para mais um superávit na balança de pagamentos. A inflação começa a ceder e a economia poderá repetir o desempenho de 2004, se não ocorrerem muitos novos aumentos das taxas de juros. As altas taxas de crescimento obtidas recentemente pela Argentina animaram muitos opositores da política econômica, mesmo dentro da base aliada do governo no Congresso Nacional, a cobrar uma postura mais agressiva a favor do crescimento. Os bons resultados obtidos pela economia argentina foram usados no fogo amigo contra o Banco Central e a sua ortodoxia no combate à inflação. A escolha do novo líder da bancada do PT na Câmara demonstrou que, apesar do otimismo do Executivo, a base governista ainda vê com muita desconfiança a política econômica e, em especial, as taxas de juros praticadas pelo Banco Central. O novo líder, Paulo Rocha (PA), só foi escolhido depois de assumir o compromisso de se posicionar contra o projeto de autonomia do BC que está em elaboração no Ministério da Fazenda. A alternativa argentina, marcada por uma postura de maior enfrentamento do sistema financeiro, foi desaconselhada recentemente pelo próprio ministro da Economia, Roberto Lavagna, ao lembrar o alto preço pago por seu país pelo calote da dívida. A futura assinatura de um acordo com o FMI e o lento retorno da Argentina à comunidade financeira internacional deixarão os autores dos disparos feitos à esquerda com um pouco de munição a menos. A Argentina precisa do FMI. O Brasil, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não precisa mais (embora a renovação do acordo não esteja completamente descartada). Os momentos são diferentes. E os dois países terão que buscar um caminho para harmonizar suas economias no futuro. Por enquanto, segundo o cenário econômico desenhado ao longo das últimas semanas, Buenos Aires vai concluir a reestruturação de sua dívida, buscar um acordo com o FMI e montar um calendário de reformas que dêem sustentação ao crescimento de longo prazo. O Brasil poderá dizer um até breve ao fundo, levar adiante suas próprias reformas e retomar, com o aval do organismo, os investimentos em infra-estrutura necessários ao aumento das exportações e à expansão da economia. Um diz hello, o outro goodbye. |
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