Antes de qualquer coisa, assista ao vídeo abaixo. Isso levará menos de 58 segundos. Aumente o som (mas nem tanto) e curta a música.
E aí, gostou?
Bem, se não gostou, saiba que as quatro frases da banda brasiliense Galinha Preta, repetidas efusivamente e aos gritos, levam muitos ao delírio. No último domingo (22), por exemplo, amantes do rock brasiliense bateram cabeça e fizeram subir a poeira no gramado do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) ao som de “Saco de plástico”, cantada pelo hilário vocalista do Galinha, Frango Kaos, que subiu ao palco a convite da banda Móveis Coloniais de Acaju.
“O saco de plástico é a nova bomba nuclear/ o saco de plástico com o mundo vai acabar” foi cantado pelo público – em sua maioria, adolescentes – aos gritos. A letra, ácida e irreverente, causou no público uma reação, no mínimo, interessante: depois da música, corriam comentários do tipo: “Cara, eu uso muito saco plástico. Vou pegar menos no supermercado”.
Conscientização ambiental por meio da música? Talvez. O fato é que o som pesado e as letras “de protesto irônico” do Galinha Preta – banda conhecida por provocar risadas hilárias em quem os assiste – passou uma mensagem pra lá de ambientalmente correta ao público: o mundo vai pro saco, se a gente continuar consumindo tanto saco plástico.
Intencional ou não, a empreitada musical do Galinha Preta vai ao encontro da tendência mundial de ampliar o consumo consciente. Governos de diversos países, inclusive do Brasil, têm feito campanhas intensivas para reduzir, por exemplo, o consumo de plástico, especialmente, o consumo das famosas sacolinhas plásticas.
No Brasil, cerca de 15 bilhões de sacolas plásticas são produzidas por ano. Isso corresponde a mais de 1 bilhão de sacolinhas distribuídas em supermercados e outros estabelecimentos comerciais todo o mês, o que, em média, representa aproximadamente 70 sacolas consumidas por brasileiro mensalmente.
O consumo de sacolas plásticas no mundo vai de 500 bilhões a 1 trilhão por ano. E os problemas ambientais causado pelo plástico não se resumem às famosas sacolinhas. Embalagens de alimentos e outros produtos, mesas, copos plásticos, garfos, pratos e demais utensílios de plásticos, tudo isso causa impacto. A maioria dos plásticos leva anos para se degradar.
Segundo o Instituto Plastivida, 20% do lixo produzido no país é composto por plásticos. Esses plásticos, juntamente com outros resíduos, são embalados em sacolas plásticas, o que aumenta ainda mais a participação desse material no lixo resultante. E o que não vai para o solo, ou para o ar, vai parar nos oceanos. De acordo com o projeto The Plastiki, 70% do lixo encontrado nos oceanos é plástico. Esse dado é alarmante.
Talvez tenha sido por essas e por outras, que a banda Galinha Preta, influenciada por essa onda cult ambiental, tirou da cartola a máxima: o saco de plástico é a nova bomba nuclear. Ou seja, se usado indiscriminadamente, como vem sendo feito, o saco de plástico tem um “poder destrutivo imenso”, capaz de arrasar quarteirões, literalmente, e provocar desastres como alagamento nas grandes cidades.
Mas é preciso lembrar que plásticos e suas embalagens têm inúmeras vantagens. Por causa das embalagens plásticas, é possível transportar alimentos com menos desperdício. Então, não seria o caso do mundo ir pro saco por causa da existência dos sacos plásticos. Seria o caso de ir pro saco devido ao consumo desvairado. Então a solução é diminuir esse consumo frenético, ter consciência que quanto menos usar melhor, quanto mais reutilizar melhor e quanto mais reciclar melhor.
Na verdade, é nessa direção que estamos caminhando, no sentido de ampliar o consumo consciente. A campanha Saco é um Saco, por exemplo, já comemora os seus primeiros resultados. Neste último ano, o país evitou consumir 800 milhões de sacolas plásticas. Foram sacolinhas recusadas em supermercados ou mesmo recipientes plásticos que foram substituídos pelos comerciantes por embalagens retornáveis.
Aliás, um dia desses, num supermercado de Brasília, fui comprar um refrigerante. A pessoa do caixa foi logo embalando o objeto, mas eu disse que não precisava de sacola plástica. A caixa deu um risinho do tipo “que besteira, pega logo”. Mas eu não quis. Fiquei orgulhosa por gastar uma sacola a menos. Mas quando cheguei em casa, vi que o velho hábito da sacolinha plástica ainda faz parte de mim: fiquei enlouquecida, não havia nenhuma sacola plástica pra eu embalar o lixo. E assim caminha a humanidade, a passos de formiga, não é mesmo?
Deixe um comentário