Amilcar Faria *
O castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus
(Platão)
Se o desenvolvimento sustentável é uma necessidade mundial, e se as necessidades mundiais são a soma das nacionais, para contribuir com o desenvolvimento sustentável do mundo precisamos começar pelo nosso.
Segundo o professor e pesquisador Ricardo Abramovay, no tocante ao desenvolvimento sustentável, o maior desafio da governança contemporânea é fazer mais e menos, ao mesmo tempo.
Para ele, apesar do avanço científico e das inovações tecnológicas terem permitido fazer mais com menos, os ganhos em eficiência são contrabalançados pelo incremento no consumo e na produção, e não há governança do desenvolvimento sustentável sem atacar as desigualdades: de renda e de uso de recursos naturais.
Ele diz ser preciso fazer mais (educação, saneamento, acesso à água e energias modernas) e também fazer menos (consumo; emissões; carros; alimentos não saudáveis), e que a governança atual tem aprendido a fazer mais, mas não menos.
É difícil não concordar.
Contudo, talvez a governança ainda não tenha aprendido a fazer menos porque nós ainda não tenhamos aprendido a fazer melhor e pior ao mesmo tempo. Precisamos fazer melhor governança (governo) assim como precisamos fazer pior desinteresse por política.
Precisamos fazer melhor (política, educação, ciência, saúde, segurança) e fazer pior (politicagem, idolatria, militantismo). No Brasil se faz excessivamente bem a politicagem, futebol, carnaval, religião, militantismo, falta de valores, e excessivamente mal a educação, ciência, política, saúde, transporte e segurança.
Para fazer mais e menos é preciso investir em educação; para fazer melhor e pior é preciso investir em política!
Se na economia temos vivido, desde a revolução industrial, a ditadura do consumo, na política estamos vivendo, desde a retomada da democracia, a ditadura da corrupção, como se vê no número crescente de escândalos políticos.
Tal corrupção não depende mais de corrente ideológica, raça, credo, idade ou partido. Ela é fruto de uma generalizada falta de politização da população, que pode ser explicada, em parte, pelo longo período de ditadura militar que desfavorecia à tortura as iniciativas políticas.
Mas é muito importante lembrar que o império da corrupção termina onde começa o império da punição.
Tão importante quanto fazer mais e menos é fazer também melhor e pior, e algumas ações frutificam em ambos, sendo a principal delas a educação.
Só a educação (mais e melhor) pode tornar o Brasil um país desenvolvido, com qualidade de vida para todos nós! E não adianta querer um país melhor para mim, porque enquanto ele não for melhor para todos, ele não será melhor para ninguém!
Por isso algumas ações precisam ser tomadas para gerar a mudança necessária, enquanto não se concretiza a democracia direta:
1) ampliar os investimentos em educação: da educação de base até a superior, incluindo a profissionalizante (aproximar escola e indústria);
2) fomentar o interesse por política: conscientizar o cidadão da importância de se interessar pela política, de apoiar os bons, de rechaçar os maus, de candidatar-se;
3) ampliar a participação popular na política: homologar o uso das novas tecnologias;
4) acompanhar o mandato dos candidatos eleitos: cobrar ações efetivas em prol do que diziam acreditar;
5) revogar o mandato parlamentar: em caso de descumprimento do programa que ensejou a candidatura, por iniciativa de qualquer eleitor junto ao tribunal eleitoral;
6) acabar com o voto secreto em votações parlamentares: cobrar transparência dos representantes. O controle social (do eleitor) é imprescindível para que os políticos se mantenham fiéis aos representados;
7) aumentar a pena de perda de direitos políticos: para 24 anos, em caso de corrupção, por ser um crime mais que hediondo e que mata quem mais necessita do Estado;
As redes sociais são a Vanguarda de uma Nova Política. Encurtam distâncias entre os que pensam, os que agem, os que são!
Mobilizemo-nos então para fazer mais e melhor (educação e política) e menos e pior (consumo e apolitismo)!
* Amílcar Faria é servidor público federal, diretor de Programas de Controle Social do Instituto de Fiscalização e Controle, membro do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e ativista autoral da rede sustentabilidade.
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