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Paulo Kramer*
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A célebre expressão atribuída ao marqueteiro James Carville, que ajudou Bill Clinton a ganhar uma campanha presidencial considerada perdida de Bush pai, já foi parafraseada à exaustão, sempre com alterações do tipo "é o desemprego" ou "é a inflação" para explicar mudanças no humor dos eleitores ou fenômenos políticos. Em todos os casos, toma-se o cuidado de manter o epíteto final. A reversão do clima político favorável ao governo do PT, ocorrida em menos de dois meses, depois da divulgação da fita em que o ex-assessor Waldomiro Diniz surge pedindo propina a um bicheiro, pode ser entendida por meio de mais uma adaptação do original. Só que dessa vez o que está por trás é a microeconomia, aquela parte da economia que trata da interação dos produtores, consumidores e outros agentes com o mercado. O escândalo Waldomiro Diniz e o conseqüente enfraquecimento do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e até mesmo do presidente Lula, acabou servindo de catalisador de uma insatisfação latente, por parte da população, com o andamento do lado mais visível da economia, que não se limita aos juros altos ou ao ajuste fiscal. O que grande parte da população percebeu é que o governo não funciona direito e, com exceção de algumas ilhas de excelência administrativa, as coisas simplesmente não andam. As pessoas tomaram consciência de que existe uma paralisação que também é responsável pelo desemprego e pela recessão. Ou seja, a parte do governo que poderia compensar o severo ajuste fiscal promovido pelo ministro Antonio Palocci não vai para frente. O caso do bicheiro, ao deixar o rei nu na parte que o PT sempre se mostrou mais forte, a ética, precipitou essa tomada de consciência e alterou todas as expectativas de um ano que começou muito bem para Lula e companhia. No réveillon passado, havia um clima de otimismo com a retomada do crescimento econômico depois do severo ajuste fiscal de 2003 e dos sacrifícios que foram impostos à população, cujo símbolo foi a reforma da Previdência. Todos sabiam que o crescimento da economia no primeiro ano do mandato de Lula seria zero e a divulgação oficial do resultado, há poucos dias, não chegou a surpreender. Mas, no momento em que o governo não consegue sair do córner do ringue para se defender de acusações de leniência com corrupção, o crescimento zero e o desemprego fizeram explodir o que até então era um voto de confiança. Existe uma percepção difusa de que a condução da política macroeconômica – juros e ajuste fiscal – tem sido feita com bom senso e que outras iniciativas que poderiam gerar empregos não vão bem. Ministérios como o dos Transportes, o das Minas e Energia, enfim, aqueles que lidam com infra-estrutura, não responderam com a devida rapidez a necessidades urgentes do mercado, tais como marcos regulatórios, papel das agências e parcerias com a iniciativa privada. Uma das conclusões a que se chega ao se constatar a paralisia administrativa é de que o PT não tem quadros suficientes para tocar a máquina e que alojou em lugares estratégicos militantes ou apaniguados sem o devido preparo técnico. Isso foi objeto de um jantar que recentemente reuniu políticos em torno do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Um dos presentes relatou a preocupação do antecessor de Lula com a questão. Fernando Henrique teme que Lula perca o apoio do próprio partido se for obrigado a substituir os cabos eleitorais distribuídos pela administração pública por técnicos. Isso ocorreria, segundo o ex-presidente, em caso de necessidade de um governo de união nacional para salvar o do PT. Só que os petistas que lutaram 20 anos para chegar ao poder não querem nem ouvir falar de semelhante hipótese, daí José Dirceu ter bombardeado o esforço tucano de fazer uma oposição responsável em recente entrevista ao jornal O Globo. Tudo isso tem ainda um agravante: o pensamento, ainda dominante na esquerda brasileira, de que cabe ao Estado promover o crescimento econômico por meio de investimentos. Esse poder não existe mais. Mas isso é outra história. |
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