Tales Faria *
Caro internauta, vou revelar uma conversa em off de 17 anos atrás. Para quem não conhece o jargão jornalístico, conversas em off são aquelas sobre as quais os repórteres podem até escrever, mas não contam quem são seus interlocutores para não prejudicá-los. Revelo agora porque já não faz mal nenhum contar. E porque ela é extremamente reveladora, para você, eleitor, às vésperas de colocar seu voto nas urnas.
1989, final do governo Sarney. Eu era diretor da Folha de S. Paulo no Rio. Um economista chamado César Maia havia se saído brilhantemente como secretário de Fazenda da primeira administração de Leonel Brizola no estado. Tão bem que o próprio Brizola era apontado pelas pesquisas como favorito na disputa eleitoral pela Presidência da República. Tão bem que o principal adversário de Brizola, Fernando Collor de Mello, havia tentado convencer César Maia a mudar de lado, oferecendo-lhe o Ministério da Fazenda de seu eventual governo. Maia não aceitou. Seria ministro da Fazenda de Brizola, e este tinha, então, maiores probabilidades de se eleger.
Semanalmente, César Maia ia à sucursal da Folha no Rio, na avenida Presidente Vargas, entregar seu artigo para a página 3. Em geral, entregava a mim mesmo, e era a minha oportunidade de ter dez minutos de uma conversa agradável, inteligente e informativa. Numa dessas vezes, perguntei: "Se o Brizola se eleger presidente da República e o senhor for o ministro da Fazenda, como vai ser o governo do ponto de vista econômico?" Ele respondeu o seguinte:
"Serão dois dos anos de maior arrocho fiscal da história do Brasil. Nada será gasto em lugar nenhum. Nos dois últimos anos, estarei com o caixa cheio. Vai haver dinheiro de sobra para construir pelo País afora tantos, mas tantos Cieps (Centros Integrais de Ensino Públicos – escolas de tempo integral inventadas por Brizola e Darcy Ribeiro) que o Brizola será reeleito presidente da República".
Como todo mundo sabe, Brizola não se elegeu presidente. Mas César Maia, tempos depois, foi eleito prefeito do Rio. Sempre da mesma maneira: dois anos de acerto das contas públicas e dois anos de investimentos altíssimos. Com isso, elegeu um poste como Luiz Paulo Conde com seu sucessor na Prefeitura e elegeu-se novamente prefeito. Está lá até hoje, um político de forte expressão no estado.
Contei essa história a Antonio Palocci, no início de sua gestão como ministro da Fazenda e ele respondeu o seguinte: "Aqui é a mesma coisa. Perguntei ao presidente, logo quando ele me convidou se queria que eu acertasse as contas públicas ao longo dos quatro anos de governo, ou logo no início. O Lula preferiu que o remédio fosse dado numa dose só. É o que estamos fazendo. No final do governo, vocês verão como a economia estará indo de vento em popa". Hoje, com tantos desastres políticos, a economia não está fenomenal. Mas está tão bem que Lula tem resistido a todas as denúncias de corrupção.
PublicidadeConto isso tudo para comentar a declaração do assessor econômico do candidato do PSDB à Presidência, Ioshiaki Nakano. Sua proposta de política econômica se baseia em um forte corte de despesas que deixe o déficit nominal zerado. Corresponderia a 3,4% do PIB do Brasil no ano passado. Ele declarou à agência Reuters que, se eleito, Geraldo Alckmin reduzirá os gastos públicos em R$ 60 bilhões ao ano. Para se ter uma idéia, as chamadas "despesas discricionárias da União" no Orçamento, aquelas em que o governo pode efetivamente mexer, somam R$ 82,7 bi. Ou seja, um dos maiores arrochos fiscais de que se tem notícia na história.
Em pânico com os efeitos eleitorais da declaração de seu assessor, Alckmin correu para desmenti-la. Desautorizou o próprio Nakano. Mas posso lhe dizer, caro leitor: o Nakano só falou a verdade. Falou o que fará todo e qualquer ministro da Fazenda nos próximos dois anos. Se for ele, no caso de Alckmin, ou se for Guido Mantega, no caso de Lula vencer. Prepare-se, os próximos dois anos serão de arrasar!
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