Terminou melancolicamente o 5º congresso do PT, com o apego ao poder e suas benesses prevalecendo sobre o próprio nome do partido (pois não são mais os trabalhadores que ele representa), a coerência, a dignidade e a vergonha na cara.
A maioria decidiu que as ressalvas à guinada neoliberal de Dilma 2 apareceriam no documento final da forma mais velada e evasiva possível, a ponto de um cidadão comum mal conseguir perceber que elas existiram:
“É preciso conduzir a orientação geral da política econômica para implementação de estratégias para a retomada do crescimento e defesa do emprego, do salário e dos demais direitos dos trabalhadores que permita a ampliação das políticas sociais.”
Do rascunho do documento constava a exigência de “alteração da política econômica”, mas o vento levou…
Também ficou decidido, com a rejeição da emenda que caracterizava o PMDB como “sabotador do governo”, que a aliança com a fisiologia explícita vai ser mantida enquanto os fisiológicos assim o desejarem.
Se, portanto, sobrevier adiante alguma iniciativa para desfazer o pacto com o demônio, ela partirá de Mefistófeles. Fausto desistiu de recuperar sua alma.
Resumo da opereta: na pior recessão da história brasileira recente, com forte possibilidade de se tornar depressão, o PT se manterá alinhado com os exploradores e seu receituário neoliberal que tem fracassado miseravelmente em tantos outros países.
Contando com os préstimos sempre interesseiros do PMDB para aprovar no Congresso as medidas de austeridade e assim poder socá-las goela dos brasileiros adentro. [Novos mensalões e petrolões à vista?]
E o governo do PT, claro, vai continuar mentindo descaradamente ao povo quanto à duração do arrocho, para fazê-lo crer que durará pouco, embora saiba e (quando fala com os caras pálidas das finanças internacionais e não conosco, pobres bugres) reconheça que comeremos o pão que o diabo amassou pelo menos durante 2015 e 2016 inteiros.
Isso não quer dizer, nem de longe, que a coisa melhorará a partir de 2017. Desde quando acreditamos cegamente em previsões calcadas na ortodoxia econômica de Milton Friedman, o messias desse office boy do FMI e dos grandes bancos que atende pelo nome de Joaquim Levy?
Enfim, se ainda havia esperanças na esquerda do PT, ela agora está reduzida a uma só: a de que os inconformados com a direitização do partido finalmente com ele rompam a venham engrossar as fileiras dos que ainda resistem ao neoliberalismo.
O PT já decidiu qual trincheira vai ocupar durante o período turbulento que atravessaremos como consequência da submissão incondicional do Brasil às imposições capitalistas. E não é a nossa.
* Jornalista, escritor e ex-preso político. Edita o blogue Náufrago da Utopia.
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