Sylvio Costa e Soraia Costa
Ser empresário, ter ocupado cargo público e ser parente ou cônjuge de políticos são as características comuns mais marcantes dos recém-chegados ao Congresso Nacional. Dos 206 parlamentares que chegaram ao Parlamento federal pela primeira vez em 2007, 141 haviam exercido antes outros cargos eletivos (desde vereador até senador e governador).
Dos 65 restantes, os supercalouros do novo Congresso (que jamais exerceram mandato eletivo antes), 41,5% têm algum tipo de atividade empresarial, 34% já ocuparam cargos públicos – desde secretário ou assessor municipal até ministro de Estado – e 34% são parentes ou cônjuges de políticos.
Os dados estão no livro O que esperar do novo Congresso – perfil e agenda da legislatura 2007/2011, que o Congresso em Foco lançará amanhã (quarta, 16), no 10º andar do Anexo IV da Câmara dos Deputados. O trabalho foi desenvolvido em parceria com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), em projeto patrocinado pela Brasil Telecom.
Pôr em circulação uma ferramenta útil para entender o Congresso e distinguir seus integrantes é a principal intenção da iniciativa. O objetivo final é possibilitar à sociedade ter mais informações para acompanhar a ação dos agentes políticos e assim exercitar a cidadania de modo mais ativo e consciente. Com 400 páginas, cartaz com a atual composição partidária da Câmara e do Senado e perfil de todos os parlamentares, o livro estará à venda neste site a partir de amanhã (por R$ 45 a versão mais simples e R$ 55, o exemplar com capa dura em caixa especial).
Tendências reveladoras
Compreender o caminho que leva novatos na política ao Congresso é revelador por várias razões. Primeiro, porque, como demonstra a história recente do país, políticos que chegam lá em início de carreira costumam voar alto (o ex-presidente e atual senador Fernando Collor, PTB-AL, e o governador Aécio Neves, PSDB-MG, são dois dos muitos exemplos possíveis). Segundo, porque os supercalouros, em vários casos, foram brindados com retumbante sucesso eleitoral.
Há entre eles diversos campeões nacionais ou estaduais de voto. Quatro exemplos: Clodovil Hernandes (PTC-SP), quarto deputado federal mais votado no país; e os mais votados em Minas Gerais (Rodrigo de Castro, PSDB), Rio Grande do Norte (Fábio Faria, PMN) e Sergipe (Eduardo Amorim, PSC).
Em terceiro lugar, porque os supercalouros apresentam, de modo amplificado, certas tendências observadas no conjunto do Legislativo. O grande contingente de empresários (41,5% contra 35% no conjunto total dos 618 parlamentares pesquisados, entre titulares e suplentes que exerceram o mandato de fevereiro a abril de 2007) ou de parentes (34% contra 20% no conjunto do Congresso) são demonstrações disso.
Acontece o mesmo em relação aos apresentadores de rádio e TV, artistas e radialistas. Eles representam 6% do total de parlamentares. Entre os supercalouros, correspondem a 17%. Os bispos e pastores evangélicos também têm maior peso relativo no grupo de congressistas que estreou no Parlamento este ano sem jamais ter ocupado antes nenhum cargo eletivo. Eles formam 7% do universo global pesquisado e 14% dos supercalouros.
Mais um dado emerge desses números: a importância que a presença na mídia e a capacidade de mobilização das igrejas evangélicas podem ter na disputa eleitoral. Os supercalouros apresentam, no entanto, duas diferenças marcantes em relação ao conjunto do Congresso, além da inexperiência em funções eletivas: a idade (quase 70% têm até 49 anos, contra menos de 50% no total dos parlamentares); e o baixo índice de acusações criminais (5% contra 16% para os 618 congressistas).
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