Alexandre Braga*
Um tapinha não dói. Por causa dessa falácia, milhares de mulheres estão sendo trucidadas por companheiros e familiares, através do assédio sexual e moral, pelo qual o feminino na sociedade regride ao nível da barbárie. Na África, como é o caso do Sudão, Líbia, entre outros, alguns dos vários episódios que acontecem de violência corpórea contra a mulher são amplificados em número e grau por influência do fator teológico. Isto é, cultores da religião mulçumana discriminam, impõem humilhantes códigos morais e estupram meninas ainda crianças sem qualquer punição. No Brasil, como é o caso de Pernambuco e Ceará, entre outros estados da Federação, campeões de violência doméstica contra mulheres, alguns dos vários episódios dessa violência são amplificados em número e grau por influência do fator socioeconômico. Aliás, de maneira geral, é o fator econômico que mais impulsiona, para o bem e para o mal, as relações humanas. Desde que surgiram a divisão social do trabalho e a propriedade privada, a humanidade nunca mais foi a mesma.
Claro, a mulher conseguiu certa mobilidade no mundo do trabalho, no lar e no consórcio amoroso. Essa ascensão veio somar energia sofisticada à força produtiva, cujo resultado é o aumento das doenças no trabalho e a piora da sua qualidade de vida. No resto, para ambos, macho e fêmea, o desemprego, a desestruturação familiar, a exploração da mão de obra e o sofrimento social repercutem-lhes de maneira diferenciada. Tudo isso acontece com a mulher de maneira mais intensa: há contra as mulheres o racismo e o machismo, que são disseminados pela indústria cultural a serviço de uma ideologia que visa a perpetuar a dominação de uma classe, a burguesa, sobre os demais grupos da sociedade. Portanto, é preciso contabilizar a questão de classe na violência cotidiana contra as mulheres. É necessário levar em conta tantos fatores que, juntos, amalgam o desrespeito pela mulher na nossa sociedade, dita urbano-ocidental, e na sociedade secular, como a africana. Também é muito bom para o avanço da emancipação feminina a eleição da primeira mulher presidenta e a segunda a comandar o Brasil, Dilma Rousseff. Antes, o país já havia sido dirigido pela princesa Isabel, nos anos dourados da nossa Monarquia, conforme registra a historiografia oficial, e por Barbara Alencar, durante o governo revolucionário pernambucano na época dos acontecimentos de 1817.
Mas o caminho para a igualdade de gênero de fato ainda é longo. Em que pesem intensas programações para a superação do feminocídio, os dados concretos das delegacias e órgãos de defesa dos direitos da mulher apontam uma escalada paulatina dessa violência. E os períodos de férias e o Carnaval indicam que haverá aumento nas estatísticas. Mas o que realmente piora tudo isso, e nesse caso a própria posição de destaque de Dilma Rousseff presidenta pode não conseguir extirpar, é a participação da cultura e da indústria cultural, que ainda não têm uma visão societária correta da mulher na sociedade. Os exemplos do baixo papel exercido pelas mulheres, no Ocidente quanto no Oriente, dão uma pista da enorme tarefa que temos para lutar pela emancipação humana.
* É coordenador de comunicação da Unegro-MG, conselheiro municipal de Igualdade Racial de Belo Horizonte e tesoureiro do Fórum Mineiro de Entidades Negras. Email: bragafilosofia@yahoo.com.br.
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