Esta coluna vai ser uma espécie de mix pessoal e geral de 2011, misturando emoção e razão, fatos subjetivos e ficções verdadeiras, economia doméstica & geopolítica. Cá entre nós, meu novo editor, Pedro Galé (Ed. Barcarola, idem Mirisola e Mário Bortolotto), de trinta e poucos anos mas iradíssimo, por dentro absolutamente de TUDO, zapeando e tangenciando e integrando num click, sem deixar de analisar, numa costura vertiginosa, os universos pessoal, social, político, editorial, nacional & global, como um todo, o acadêmico, em particular e a prática em si – aliás vai editar o Politicamente Incorreta, minha primeira obra de não-ficção classificada como Anti-Ajuda (o leitor que se vire e se foda sozinho, não vou dar mole), saindo no começo de 2012 –, piscou-me dizendo que o Clóvis Rossi da Folha & Adjacências Midiáticas deviam me ler mais!
Editorialmente, é absolutamente não ortodoxo, no sentido publicar de tudo indiscriminadamente (tendo como “sine-qua-non” & parâmetro o alto nível estético) – autores e idéias sejam de esquerda, direita, centro, frente, verso, de lado, de costas, enfim, não importa a posição – mas com uma queda absoluta, pior, paixão, por tudo que é maldito, marginal, outsider, seja lá o nome que atualmente se dá a isso. Isso. A que, pessoalmente, chamo Originalidade. Ou Autenticidade. Talento, talvez, mas é preciso algo mais. E por aí vamos: taí o Pedro Galé, meu novo editor: welcome!
Foi uma das boas surpresas de 2011! Tô escrevendo para ele ficar sabendo em absoluta primeira mão e por escrito. Só teve um cara que fez o mesmo comigo: Paulo Francis.
A outra, simultânea – que incorpora surpresa sempre renovada, ao presente, no sentido de “dom” e à amizade – é minha associação (eu devia dizer conluio) miraculosa – e que persiste no tempo (tipo cinco anos) exatamente como no primeiro dia – ao editor Sylvio Costa que incrivelmente me detona um inusitado ângulo prismático, mistura altamente explosiva (e instável, diga-se) de Realidade e Ficção, onde ambos se fundem – iluminando-se e se aquecendo mutuamente e, de repente, dando outro sentido à vida. No qual ninguém tinha pensado.
Misturando coisas, gente, acontecimentos da cultura e da política (ou geopolítica), que aparentemente nada têm a ver (para a esmagadora maioria) e contudo fulguram sobretudo por isso, quer dizer, em razão do método retro-referido, método que precisamente consiste não existir de modo algum, salvo como cadeia brilhante de insights, resultando numa Via-Láctea, espécie de DNA divinamente inapreensível.
Ele assina o prefácio do Politicamente Incorreta e, sabem? De certa forma, é parecidíssimo com o Pedro: a julgar pela quilométrica relação de colunistas de todos os matizes possíveis (e impossíveis), o Sylvio também inclui tudo, aglutina, acolhe. Seu parâmetro: a informação. Afinal, o leitor precisa saber tudo e de todos os ângulos discerníveis, donde as saias justas. Como a denúncia é uma das suas especialidade, tornou-se um dos editores de site mais processados do país, naturalmente algo que faz parte do jogo quando alguém com poder de fogo editorial decide simplesmente informar o leitor. Ou seja, fazer seu trabalho honestamente.
Ainda não chegamos à denúncia, mas só o fato de fazer e bem seu trabalho, isto é, informar sem interpretar, sem distorcer, sem omitir nem alterar, ou informar pela metade ou faltando partes – quer dizer, “editar”, em geral conforme os interesses do patrão – o que faz a esmagadora maioria sem nenhum constrangimento (tanto quanto senta numa cadeira da ABL e toma seu chazinho), na boa – como quem apenas toca do serviço. Voltando ao Sylvio (e não custa repetir: tanto a puxasaquice pânica quanto a modéstia não são características minhas): informar sem deixar passar batido, sem omitir, simplesmente passar o recado como recebido e pronto, atualmente é terrivelmente subversivo. Desde que informação virou mercadoria.
A diferença entre ambos é que o Pedro edita livros, mexendo com a Segunda Realidade (a tal Realidade Simbólica), vivesse na ditadura tava fudido; mas o Sylvio edita um site de informações, um dos sites políticos mais lidos do Brasil, então ele atua na Primeira Realidade – a que diz respeito à sobrevivência.
Porque tanto informação como dicionários ou ferramentas e instrumentos de trabalho, de utilidades domésticas, meios de transporte, computadores, incluindo armas – do arco & flecha a Uzis – é o que um filósofo centro-europeu chamado Ivan Bystrina chama Primeira Realidade, isto é, aquele conjunto de elementos essenciais à sobrevivência, tais como abrigo, roupas, comida, lata de lixo, válvulas hydra, pochetes, gôndolas de supermercado, alicates – sobrevivência é Primeira Realidade. O resto faz parte da Segunda Realidade ou Realidade Simbólica ou Semiosfera.
O problema é que se o homem não tivesse desenvolvido o poder de “simbolizar” (abstrair a coisa, quando ela não está presente, fazendo-a agir conforme sua vontade) – donde o desenvolvimento da subjetividade, inventividade, imaginação criadora – ou Visualização Estrutural – (sim, no Neolítico já existia a popular Realidade Virtual, só que fazia sentido) – a sobrevivência teria ido para o brejo. Não haveria Civilização, ponto.
De volta à barbárie, significa voltar a sobreviver como na Idade da Pedra. Mas, a julgar como a esmagadora maioria dos seres humanos agem, vivem, pensam (pensam?), sentem atualmente, covardes, abjetos, medíocres, especializados em Imbecilização, Bestialização & Negação. Defendendo sem necessidade bobagens como Religião, Moralismo de Fachada, Costumes Idiotas, Dinheiro, Banco & Propriedade dos Outros, sobretudo os Ricos, aqueles que não precisam de Nada & Ninguém para prosseguir no Poder Absoluto, sejam Nações, Corporações, Idéias e Indivíduos, pregando um Sociedade Excludente e um Individualismo Autista, glamourizando Terror & Violência, negando Coragem, Solidariedade (pra dizer o mínimo), Vivência em Comunidade, Adaptação como Leis (o mesmo que ignorar a Gravidade) – só nos tornamos Humanidade porque fomos corajosos, audazes, solidários, sábios – muito antes disso seremos Extintos.
Uf, um ano e tanto! E os filmes de tevê refletem isto: literalmente um ano aterrorizante, mix de hipermediocridade geral com autismo coletivo. Esperamos um 2012 mais calminho (e, repetindo a dose ou overdose, é dose: vêem aí as predições dos Maias para 2012, como se não bastasse). Bobagem, o terror hollywoodiano (e a Globo como triste sub-repetidora) encheu até arrebentar nossa subjetividade com um besteirol subfantasioso de quinta – contramedidas para nos manter “distraídos” – donde o status quo se manteve e “a realidade” (essa coisa absurda sem a qual não sobreviveríamos meio minuto na natureza) prosseguiu igual, igual, isto é, sem incomodar “ricos, chics e famosos” – que ficaram ainda mais ricos, chics e famosos em 2011 (esses caras têm um lobby incrível! VOCÊ não teria se fosse um deles?Essa “esmagadora maioria” de 1% da “humanidade”? ) – que já vai tarde!
A mediocridade é tanta em todos os níveis que merecemos ser extintos. Nosso inconsciente cultural CLAMA pela própria autodestruição! Lembro uma frase de Jung:”O inconsciente não se engana, nós é que nos enganamos.” Podem apostar!
PS: eu IA continuar escrevendo a (Im)Pietá, mas fui devidamente embargada. Por razões familiares que só me dizem respeito. E editoriais. Afinal, não sou nenhum despachante literário, mas tenho que pensar que não seria estratégico publicar todo o conto na rede: vocês leram uma parte, mas querendo saber o resto, será preciso comprar o Politicamente Incorreta, ou seja, publicar em livro. Aliás, esse conto será a única concessão que farei à ficção. E, de uma forma obscura, à verdade. Doa a quem doer. Que primeiro vai doer em mim.
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