Reginaldo Gonçalves*
Ao contrário do que se tem observado na opinião de lideranças empresariais e agentes do mercado, é necessário encarar com mais responsabilidade os riscos para o Brasil relacionados à grave crise fiscal nos Estados Unidos e na Europa. O cenário internacional aponta situações críticas, inclusive para o nosso mercado. Em momentos de adversidades, os países emergentes, de maneira mais ou menos intensa, conforme as condições de sua economia, sofrem impacto imediato, em virtude da diminuição das exportações, queda das bolsas de valores, redução de investimentos produtivos, refreamento do crédito, abalo na confiança dos consumidores e aumento do dólar em relação à moeda nacional. Tais sintomas já se apresentam em nosso país.
No Brasil, passamos por uma crise séria em 2008/2009, mas que não foi tão sentida em virtude da estabilidade econômica que apresentávamos. Com isso, houve pequenos problemas, solucionados de maneira que não houvesse impacto na inflação e no câmbio. Confirmou-se, na prática, a tese da “marolinha”, à época defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, a crise agora tem outros atores no contexto da globalização. O problema é mais sério e exige pulso firme e precisão no manejo das ferramentas monetárias, fiscais e de gestão econômica. Tudo é muito sensível.
Por exemplo: o aumento cambial do dólar, a intervenção do Banco Central e os reflexos na economia dos problemas no mercado externo poderão ser sentidos de maneira imediata nos índices inflacionários, a começar pelo fato de os produtos que importamos encarecerem a cesta básica consumida pela população de menor renda.
Uma das políticas da presidenta Dilma para controlar a inflação refere-se à Petrobras, no sentido de que não majore os combustíveis. Isso, contudo, inviabiliza novos investimentos da empresa no mercado competitivo. Como alternativa, a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) foi reduzida em um patamar de R$ 0,04 por litro de gasolina, para que o consumidor não seja apenado e não haja grandes perdas das empresas que importam o produto. A estatal, contudo, importará o combustível pagando mais, já que as promessas do pré-sal são de longo prazo.
Em virtude de toda essa conjuntura, o BC, que trabalhava com uma inflação de 4,5% com margem de mais 2%, já está efetuando novas análises e aceita a possibilidade de que o teto de 6,5% seja ultrapassado, justificando o cenário internacional não previsto dentro de suas estatísticas.
A preocupação elementar, além do aumento da inflação, é que, com a previsão de queda do PIB, poderá haver uma aceleração do desemprego, pela desindustrialização em curso, cujo maior sintoma foi o déficit da balança comercial das manufaturas em 2010, superior a US$ 70 bilhões. É verdade que a economia brasileira está mais preparada do que outras para enfrentar a crise. Porém, o discurso da “marolinha”, desta vez, precisa ser substituído por um prudente choque de realidade.
*Mestre em contabilidade pela PUC/SP e consultor empresarial, é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina
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