Paulo Castelo Branco*
Os estranhos movimentos políticos para a escolha do novo presidente da Câmara dos Deputados solapam a confiança do povo e, novamente, colocam a instituição no centro das discussões sobre o comportamento dos parlamentares.
No ano que passou, a Câmara sofreu danos quase irreparáveis por ter em postos de destaque figuras que acabaram sendo identificados pelo procurador-geral da República como membros de quadrilhas.
As melancólicas decisões que absolveram politicamente alguns dos acusados possibilitaram, com o poder do dinheiro e a venda de ilusões aos eleitores, a volta de políticos que deveriam ter sido excluídos da vida pública.
Agora, para a eleição que se avizinha, voltam as práticas obscuras, e até o PSDB, por seu líder, aprofunda a descrença na qualidade da oposição. O episódio da consulta aos parlamentares tucanos mostra o tamanho do bico com que querem recolher as migalhas do poder. Como acreditar na política se até os oposicionistas correm para os braços do governo em busca de cargos? Se não bastasse o PMDB que, em nome da governabilidade, tomou posse de espaços e, hoje é, na sua maioria, a base do governo, agora quase não resta ninguém para fazer a oposição crítica e fundamental ao fortalecimento da democracia.
Num passe de mágica, diante das acusações feitas pela oposição e comprovadas pelas diversas CPIs que funcionaram em 2006, a oposição se calou, as notícias minguaram, e os opositores, constrangidos com a volta de vários dos deputados que renunciaram para não serem cassados, ficam esbarrando nos corredores com os acusados que derramaram lágrimas de crocodilo e exigem seus lugares como representantes do povo.
Se a presidência da Câmara ficar nas mãos de um deputado comprometido com o governo, é possível que as reformas políticas possam, finalmente, sair; no entanto, com quem estará o poder se o governo voltar às práticas escusas que imperaram no primeiro mandato? Será que a independência do Congresso Nacional permanecerá com tantos parlamentares comprometidos? Não, o Parlamento será conduzido pelos donos do poder e só restará ao povo a possibilidade de que o presidente da República não seja envolvido e mantenha o espírito democrático que o formou e o levou ao cargo, com 56 milhões de votos.
As promessas de Lula de formar um governo de coalizão, abrindo espaços para todos que se submetam ao programa que pretende implantar, poderá resultar na primeira vitória política do novo mandato. A disputa entre os deputados Arlindo Chinaglia, do Partido dos Trabalhadores, e o presidente, Aldo Rebelo, do PCdoB, ainda não se encerrou e poderá ser concluída com a degola dos dois como já aconteceu no caso da escolha de Severino Cavalcanti. A diferença é que, agora, parlamentares considerados exemplares se articulam para apresentar uma candidatura alternativa e comprometida com os princípios da ética, da moral e do respeito às normas constitucionais.
A vitória de um parlamentar com a história de Gustavo Fruet, para a presidência da Câmara, representará a volta de políticos preocupados especialmente com a imagem da Câmara dos Deputados e com a importância para o Brasil da existência de um parlamento forte, independente e não envolvido em escândalos freqüentemente. A Câmara, que já foi presidida por figuras como Marco Maciel, Ulysses Guimarães, Célio Borja, Bilac Pinto, Adaucto Cardoso, Pedro Aleixo, Michel Temer, Ibsen Pinheiro, Luiz Eduardo Magalhães e Aécio Neves, não pode ficar à mercê de mercenários que vendem projetos e não se incomodam de aparecer nas televisões como peças de galhofas.
Os dois candidatos que estão disputando a presidência da Câmara, durante suas vidas, mantiveram comportamento democrático e conduta ilibada; porém, na corrida pela vaga, estão desgastando suas imagens e oferecendo espetáculo digno das disputas inferiores ao utilizarem tramas que poderão levá-los para o fundo da enorme cratera que se abriu pelo peso de composições nebulosas, anistias, cargos para incompetentes e lama, muita lama.
*Paulo Castelo Branco é advogado e ex-secretário de Segurança Pública do DF.
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