Nas últimas décadas, verificou-se a redução significativa do analfabetismo no Brasil – de acordo com o IBGE, temos apenas cerca de 10% de analfabetos, sendo que um terço deles são pessoas com mais de 60 anos de idade e habitantes das regiões mais pobres do país. Nessa medida, podemos confiar que, em breve, chegaremos à erradicação do analfabetismo no Brasil.
Não obstante esse fato, sem dúvida de suma importância, é imperioso também analisarmos outra questão fundamental para o desenvolvimento de fato de nosso país: o analfabetismo funcional. Trata-se de condição de alfabetização incompleta ou improdutiva, que se traduz na incapacidade do indivíduo pretensamente alfabetizado de apreender os conteúdos lidos e interpretá-los. Dito de outro modo, a pessoa consegue ler, mas não entende o que lê.
O Instituto Paulo Montenegro e Ação Educativa, que há mais de dez anos pesquisa a capacidade de leitura, escrita e cálculo da população brasileira adulta, avaliou que, enquanto em 2001 o percentual da população funcionalmente alfabetizada era de 61%, em 2012 tal percentual chegou a 73%. A melhora nos índices, porém, não oculta o fato de que, hoje, apenas um em quatro brasileiros domina plenamente as habilidades mencionadas.
Não é preciso muito para entender o que isso significa. Em pleno terceiro milênio, em um mundo altamente tecnológico e economicamente globalizado, em que as sociedades e os indivíduos dependem totalmente do acesso generalizado à informação, o analfabetismo funcional adquire proporções muito graves. Significa alienação em relação ao bem mais precioso – o conhecimento – quando a ausência dele é simplesmente inconcebível. E isso não se limita apenas ao nível pessoal, mas também no reflexo que o fato produz na própria sociedade e no desenvolvimento nacional.
Diante desta realidade, todos os esforços dos governos federal, estaduais e municipais devem convergir para qualificar a alfabetização de crianças até oito anos, considerando-se que esse é o período em que o processo de letramento e aquisição das habilidades cognitivas se consolida. O investimento nas escolas de ensino fundamental deve abranger a distribuição de melhor material didático, a revisão das dinâmicas em salas de aula, o incentivo prioritário à leitura, à discussão e à elaboração das ideias. Além, é claro, da capacitação do professor.
O principal investimento público no momento atual, portanto, deve ser a efetividade no processo de alfabetização, do qual dependerá toda a vida posterior do estudante e do profissional e, em longo prazo, a própria capacidade do país em participar do cenário internacional com independência e autossuficiência tecnológica.
*Deputada federal em segundo mandato. Foi reeleita em 2010 pelo Partido Progressista
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