A média da Câmara que votou no domingo a favor do impeachment é exatamente a mesma que o governo Dilma tentou cooptar com favores, verbas e nomeações para cargos federais nas últimas semanas. E muito parecida com a que deu suporte ao governo lulopetista nos últimos 13 anos.
Lula e Dilma, com e sem mensalão, se refestelaram com o Congresso. Esse aí que mandou beijos e praguejou ao votar no domingo. E os que o antecederam também.
Não me lembro de ver os incautos e espertos de hoje tão ofendidos, à época. Síndrome do levar vantagem? Esperteza?
Daí, como Cabral, alguns brasileiros, sobretudo os que querem diminuir a votação democrática deste domingo, apenas porque discordam dela, dão a impressão que descobriram o Brasil. Mas depois de 516 anos? Não estão um pouco atrasados, ó gajos?
O “choque” de se dizerem surpresos com a “qualidade” dos deputados beira o falacioso. Não convencem na sua precária tentativa de altruísmo seletivo ao criticar os parlamentares que justificaram pouco seu voto a favor do acolhimento do impeachment sem discorrer acerca dos desmandos fiscais de Dilma.
E era necessário depois de intermináveis discursos e debates? Por isso, dá para parar de sofismar? Isso cansa.
Ignorar que, ali, o deputado é um político que se mostra para seus eleitores e, seja qual for a posição, vai fazer seu show, é não querer entender como a política funciona, o dia a dia do voto. É o convencimento exercido da maneira que se pode.
Vocês se lembram das aberrações históricas e histriônicas de Lula no palanque com uma enormidade de erros de português e de ofensas à história? Dilma e Lula condenaram Marina a ser uma elite econômica que “vai tirar a comida do prato do povo brasileiro” que ela nunca foi. E Aécio a um ser nazista, que, meu santo, a comparação ofende os milhões de vitimados pelo Nazismo real na Europa. Sem a leveza dos “beijos para meus filhos”, pegaram pesado e os incomodados de hoje se aquietaram como fazem os ausentes de coragem e verdade.
O “sim” ou o “não” de qualquer parlamentar é o que vale numa votação que é nominal e deveria se restringir apenas a isso. Debates e argumentos pró e contra foram intermináveis antes da sessão. Votar sim ou não é o dever e o direito de cada deputado ali – ressalvadas as abstenções, atos de covardes.
E se agrada ou não ao seu gosto intelectual, ele, o deputado, não é um extraterrestre que caiu de paraquedas no Congresso. Foi eleito por alguém. Muitos “alguéns”. Por certo que a maioria absoluta sabia dos argumentos fiscais da tese do impeachment, com capacidade ou não de sofisticar o raciocínio. Não vamos perder muito tempo com isso. E se entenderam mais ou menos são a média da representação da sociedade. Você faz exatamente o que para melhorar seu entorno e a discussão de pedaladas fiscais ou em ciclovias honestas ou superfaturadas?
Com a experiência de ter levado um filme independente, que discute o Brasil de forma aberta e direta, pelo Brasil e o mundo, já te conto: dói pra caramba se envolver. Mas é quando um dever se transforma num direito. Eu me dei a esse trabalho e me orgulho disso.
Mesmo assim, se o voto “Xuxa”, com excessos de abraços e beijos a familiares e correligionários, incomodou, o que dizer do raivoso voto-discurso-do-apocalipse do Psol, do PT e do PCdoB em favor da presidente?
Estes parlamentares governistas, em sua maioria, também não defenderam Dilma de seus atentados fiscais, argumento premente do impeachment, embora eu creia que conhecessem o assunto.
Na tática do convencimento, do marcar posição, iam ao microfone para falar do lunático “golpe” que só eles enxergam, das conquistas sociais dos governos do PT, do “Bolsa Família”, do “Minha Casa, Minha Vida” e até da prisão de Dilma na ditadura quando ela, sejamos sinceros e honestos com a história, não lutava pela democracia, como eles tentaram convencer.
A atual presidente, como assessora adjacente de segundo escalão de movimentos revolucionários, ajudava a criar um regime centralizador comunista que, retomando a história novamente, resultou, em todas as tentativas bem-sucedidas mundo afora, em regimes ditatoriais e sangrentos. Se o caso brasileiro seria esse com o grupo de Dilma, não nos é possível afirmar. O regime militar de exceção tomou para si esse horrendo atentado contra os direitos humanos e de opinião.
Ver que a direita ou a esquerda radical só resultou em fascismo, despotismo e sangue dos direitos humanos é necessário antes de avançarmos no debate.
Fato é que evoluímos depois disso, mesmo com muitos querendo retroceder ao tentar melar o ato democrático de acolhimento do impeachment, mesmo com a necessidade ciosa da Constituição de 342 votos, no mínimo, e de toda a regulamentação ritual inequívoca pelo Supremo Tribunal Federal.
Então, essa síndrome de “Cabral”, de descoberta do Brasil ante as revelações da sociedade brasileira que se tornou deputado ou deputada – convenhamos que eles são brasileiros como nós -, sobretudo essa espertamente seletiva para desmerecer a conquista do outro lado, reúne tudo o que a inteligência e o respeito à história não reconhecem como válidos.
O sofisma é o recurso pretensamente intelectual de quem perdeu o argumento. E é triste.
Posso me juntar a vocês ou vocês se juntarem a mim, porque já estou nesta luta por fazer um país – e um parlamento – realmente melhor há muito tempo. O que não significa ser exatamente do meu nem do seu jeito.
Se você entender isso e revogar do seu âmago a vaidade dos golpistas da pseudoesquerda que detestam a democracia quando ela impõe derrotas legítimas, seja bem-vindo.
Deixe um comentário