Não lembro o ano, mas faz mais de 20 anos, estivemos (eu e minha companheira de então) na “Prainha”, no litoral do Ceará, não muito longe de Fortaleza. Era passagem de ano, de 31 de dezembro para primeiro de janeiro. Hospedamo-nos numa pousada de frente para uma praça (creio que, na época, a única do local). Naquela noite, ocorreu, na praça, um show para comemorar o fim de mais um ano e o começo do ano novo.
Naquela noite, não sei quem se apresentou e tampouco se era mais do que um artista ou mais do que uma banda. Sei que, após assistir da sacada da pousada ao modesto show, nos preparamos para dormir. Era uma noite muito quente que sequer permitia que as janelas e a porta fossem fechadas.
Terminado o show, os que assistiram foram, aos poucos, embora. Os trabalhadores que organizaram o show retiraram os instrumentos do palco e parte da aparelhagem do som foi recolhida. Em seguida, os trabalhadores também se retiraram e pairou, por curto espaço de tempo, o silêncio. O silêncio não era completo porque algumas pessoas permaneceram conversando na praça. Esse curto “silêncio” não chegou a dar tempo para que eu dormisse.
Alguns minutos depois do final do show, um cidadão estacionou seu carro ao lado da praça, abriu o porta-malas e colocou a música no mais alto volume. Ficou o resto da noite até o dia clarear tocando repetidamente o ultimo lançamento de Reginaldo Rossi. Não gosto de música brega e não gostava de Reginaldo Rossi, e a partir dessa data passei a não suportá-lo. Sei que Reginaldo não tem culpa, mas o que posso fazer?
Essa mesma vontade, de atirar (no sentido figurado, pois jamais faria isso) numa caixa de som, voltou muitos anos depois num passeio a Bonito, Mato Grosso do Sul. Essa cidade no fim das tardes se torna insuportável, pelo menos é assim que me senti na ocasião em que lá estive.
Em Bonito, no final do dia, vários irresponsáveis, ou quem sabe arrogantes, estacionam seus carros, maioria deles caminhonetes (SUVs) com potentes altos falantes, e colocam as músicas no volume máximo. Não sei como se mede qualidade de música, mas sei que desses tipos nunca ouvi Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso, Adoniram Barbosa, João Bosco, Aldir Blanc, Gal Costa, só para ficar em alguns. Por que será que quem tem esse comportamento só ouve musicas de qualidade questionável?
Em Pirenópolis e Caldas Novas, ambas em Goiás, e em muitas outras cidades, principalmente do litoral brasileiro, não é diferente. É um barulho infernal. Afirmo que é infernal sem saber como é o barulho no inferno. O cidadão e/ou a cidadã vai para a praia ou para qualquer região para descansar e lá se depara com várias poluições, sendo uma delas a do som. Não importa onde esteja, ela vai até você.
Escrevo essas observações hoje (15 de novembro), na cidade de Maceió, após voltar da praia. As praias de Maceió, pelo menos aquelas pelas quais passei hoje, são barulhentas.
Na praia, há carrinhos anunciando repetidamente: “palito e sorvete Caicó”. Também, a pouca distância um do outro, há carrinhos puxados ou empurrados por homens, geralmente jovens, emitindo músicas de péssima qualidade. São os vendedores de CDs pirateados.
Entre a rua e a praia há barracas, e cada uma delas tem um sistema de alto falante transmitindo alguma música. Na beirada da calçada, há vários carros parados com o porta-malas abertos e dentro portentosos aparelhos de som. Cada um toca música o mais alto possível porque tem que superar o som de outro que está estacionado ao lado.
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