Junho de 1992: o Rio de Janeiro recebe delegados de 178 países, para discutir a preservação do ambiente, resultando na aprovação de duas convenções internacionais: uma sobre biodiversidade, outra sobre mudanças climáticas.
Junho de 2012: 20 anos depois, 193 países vão discutir, novamente no Rio, a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. O momento é de renovação do compromisso político com a sustentabilidade, avaliação do progresso e revisão das lacunas das últimas cúpulas sobre o tema, além do debate sobre novos desafios…
Vou começar de novo, para fazer jus ao título do texto. Mas não se preocupe, caro leitor, porque o ponto de partida é o mesmo.
Junho de 1992: instalada no Congresso Nacional uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o chamado “Esquema PC”, em alusão às iniciais de Paulo César Farias, tesoureiro de campanha do então presidente Fernando Collor de Mello. O braço direito de Collor era acusado pelo irmão do presidente, Pedro Collor, de chefiar um esquema de corrupção, tráfico de influência, loteamento de cargos públicos e cobrança de propina dentro do governo. Por 16 votos a 5, o relatório final da CPI opinou pelo impeachment de Collor. Por 441 votos a favor, 38 contra, 23 ausências e uma abstenção, o Congresso acatou a abertura do respectivo processo de impedimento. A renúncia vem como fato corrente, não a tempo de livrar o “caçador de marajás” da perda do mandato e dos direitos políticos por oito anos, por 76 votos a favor e 3 contra, em julgamento no Senado.
Junho de 2012: Fernando Collor prova que a reciclagem, um dos instrumentos de um mundo sustentável, funciona com perfeição, desde que aplicado no universo da política nacional. Há muito está de volta, como senador da sua Alagoas. E foram dias agitados para o ilustre parlamentar. Pouco tempo depois de sentar-se na primeira fila da Comissão de Ética do Senado, no depoimento do colega em apuros Demóstenes Torres, Collor é homenageado na celebração dos 20 anos da Rio-92, pois era o Presidente da República na época, ainda que já acossado pelos bombásticos testemunhos do irmão.
Em tempo: Collor não integra a tal Comissão de Ética do Senado, mas, sim, a CPI do Cachoeira, agora, em cadeira menos… “ejetável”.
Mais curiosidades: sabe quem estava entre os integrantes daquela CPI de 1992? Roberto Jefferson e José Dirceu. Ambos, membros efetivos. Ambos, então deputados. E sabe quem prestou depoimento na mesma CPI? Ele: Renan Calheiros, que, só para citar, disse à época que Collor tinha pleno conhecimento das atividades ilícitas de PC Farias, pois já tinha sido alertado por ele, Renan, então na condição de líder do governo na Câmara dos Deputados.
PublicidadeRenan, a propósito, estava sentado exatamente ao lado de Fernando Collor, 20 anos depois, naquela mesma reunião da Comissão de Ética do Senado, onde Demóstenes tentava se explicar. Será que comentavam, entre dentes, sobre aqueles áridos tempos?
Enquanto isso, a CPI do Cachoeira para durante a próxima semana, depois de andar em passos trôpegos nos últimos dias. Na versão oficial, a pausa é em função, justamente, da Rio + 20. Na versão “más línguas”, é por causa dos milhares de arraiais Brasil afora, e dos apimentados caldeirões eleitorais de logo mais, já que é tempo de convenções partidárias.
A propósito, já, já estaremos, de novo, nas urnas. O que não está claro é quando chegará o tempo de debatermos alternativas sustentáveis para a nossa política.
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