Quando criança, ficava fulo da vida quando alguém me chamava de boçal. Não sabia o significado da palavra, mas notava que as pessoas, inclusive alguns adultos, usavam a palavra (boçal) quando queriam xingar alguém.
Portanto, sabia que não era coisa boa. Tampouco na época sabia o que era fulo. Escrevi fulo para não escrever puto da vida. Mas eu ficava mesmo era puto da vida.
Antes que alguém já venha com qualquer boçalidade para cima de mim, já esclareço: digo “puto da vida” no sentido de “com muita raiva; irritado, furioso, danado”.
Como em casa, lá no interior da roça, não havia dicionário, demorei muito tempo para saber o significado, tanto da palavra boçal, como de fulo. Só fui saber quando frequentava o colegial.
Lendo a matéria que informava da agressão feita ao (grande) Chico Buarque de Holanda, me veio a palavra (boçal) e em voz alta, falei: “são uns boçais”. Boçais no sentido de estúpidos, grossos e toscos. Foi só um desabafo pessoal, pois imediatamente senti que errei. Para esse tipo de gente e seus assemelhados de comportamento, é mais adequado outra palavra: fascistas.
Muitos escreveram e se manifestaram em solidariedade ao Chico Buarque, mas também me sinto na obrigação de me manifestar em solidariedade a ele e em condenação aos malfeitores.
Comparados com Chico, são malfeitores. Todo malfeitor, no atual momento estimulado pela mídia, pelos Aécios (never da vida) e pelos partidos de oposição (PSDB, DEM e PPS) ao governo do PT, sentem-se à vontade para agredir pessoas em qualquer lugar.
Eric Nepomuceno, que acompanhava Chico no momento em que foi vítima da agressão, escreve que três coisas o preocupam: “Primeiro, a extrema fúria dessa direita desgarrada que acaba de sair do armário embutido. Segundo, a facilidade com que repetem o que dizem os grandes meios de comunicação. E terceiro, a incapacidade para qualquer gesto minimamente civilizado”.
Concordo com Nepomuceno. Como essa gente estava no armário, nunca teve formação política. Foi doutrinada, e todo doutrinado é burro e, por ser de direita, é um burro perigoso. Não tem argumento para debater. Sabe xingar em voz alta e tem ouvidos moucos para qualquer argumentação contrária ao que pensam. Será que sabem o que é mouco?
Assim como Chico Buarque, muitos já fomos vítimas desses (qualificados) fascistas. E todos sabemos que qualquer reação inteligente não será compreendida, pois não têm inteligência para compreender e, como escreve Nepomuceno, são covardes. Portanto, o melhor é continuar caminhando e deixar o boçal gritando.
Se Chico tem o berço da família Buarque de Holanda, os agressores identificados têm o berço de família de moral questionada. Um dos agressores é “Alvarinho”, Alvaro Garnero Filho, o outro é “rapper” Túlio Dek.
“Alvarinho” é Alvaro Garnero Filho, filho do empresário paulista Álvaro Garnero e neto de Mario Garnero, dono do Brasilinvest, um banco de negócios que em 1985 foi liquidado extrajudicialmente pelo Banco Central. Em 2012, Paulo Roberto Costa depois de ter sido demitido por Dilma Rousseff da Petrobras se tornou dirigente da Brasilinvest para a área de petróleo e gás.
Segundo pesquisa no Google, feita por Jean Wyllys, o tal “rapper” Túlio Dek é neto de Jairo Andrade Bezerra, que morou no sul do Pará no final dos anos 1960, onde roubou terras dos indígenas, posseiros e dos colonos assentados pelo Incra no assentamento Agropecus. Sempre praticou o trabalho escravo nas suas terras griladas e foi acusado de contratar pistoleiros para matar o ex-deputado e advogado de posseiros Paulo Fonteles e inúmeros trabalhadores rurais.
Sabendo do berço de ambos, o extraordinário Chico deu a deixa no Facebook, postando o nome de sua música: “Vai trabalhar, vagabundo”.
Como este é o último artigo deste ano de 2015, eu desejo a todos que o 2016 seja melhor e que todos os golpistas deixem Dilma trabalhar. E, para os golpistas, outra do Chico: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”.
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