Mais um Natal… Felizmente, aqui estamos para festejar a data, que, mesmo depois de 2013 anos, mantém a beleza, independentemente da mudança por que o mundo passou ao longo do tempo. Aliás, o Natal fica mais bonito a cada ano. Ao contrário dos saudosistas, eu acho natural todo esse frenesi que o acompanha, com multidões nos shoppings, em busca de presentes; as pessoas envolvidas nos cuidados com a preparação da ceia; as famílias se reunindo para o brinde e a troca de lembranças; aquela maravilhosa comilança perto da meia-noite…
Em uma deliciosa crônica – com o perdão do trocadilho –, o querido escritor Luís Fernando Veríssimo descreveu muito bem os sentimentos e sensações que experimentamos no Natal: “Acordo cedo e saio a caminhar pela casa. Entro na sala de estar, que ainda tem os destroços da festa. Papel de embrulho descartado, restos da algazarra que fizemos abrindo os presentes na noite anterior. Os cheiros da festa também ainda estão no ar. Bebida, peru assado. Lembro que os presentes também tinham cheiro. Bola de futebol nova, por exemplo. As bolas eram de couro mesmo, com a cor natural e o cheiro do couro, e com cadarço. Você não sabia se já saía chutando a bola ou se guardava aquela preciosidade a salvo de chutes e arranhões, só para cheirar.”
Mas é claro que o Natal é muito mais que isso. Como católico que sou, o que mais me toca é o sentido de religiosidade. A veneração do nascimento de Cristo, que veio ao mundo para, com o seu sacrifício, salvar a humanidade do mal e do pecado, é o que temos de mais belo e mais importante na comemoração natalina. É uma bela noite, pela tradição que nos legou a mágica da estrela guia orientando os reis magos até a manjedoura de Belém, onde o menino recém-nascido vivia suas primeiras horas em berço de palha.
Machado de Assis, o mestre de todos os nossos escritores, também falou do Natal de forma muito especial. Tão especial que escolheu o soneto para se expressar, embora não fosse poeta por excelência, e sim o maior de todos os nossos romancistas. Já no seu tempo, tão distante de nós, o escritor detectava as mudanças que mencionei no início deste texto. E eternizou uma pergunta que a cada Natal muita gente se faz:
Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Se Machado pudesse me ouvir, eu diria a ele: “O Natal não mudou, querido escritor. Nós, sim, é que mudamos, geração após geração. O Natal permanece o mesmo, e a cada 365 dias ele retorna ao nosso dia a dia com toda a sua força e o seu significado espiritual e simbólico de fé em um poder superior à nossa mera mortalidade.”
Comemorar o Natal faz parte da tradição e da fé cristã. Mas acredito que a data transcende o aspecto meramente religioso e por isso se tornou universal. Mesmo os não cristãos entendem e respeitam essas horas tão especiais. Para mim, é como se os relógios de todo o mundo entrassem no mesmo fuso à meia-noite de 24 para 25 de dezembro, e em todos os cantos do mundo alguém dissesse para outra pessoa “Feliz Natal!”.
Esta é a minha mensagem para todos vocês que me acompanham neste espaço a cada semana. Sei que o sonho de todos os concurseiros, pelo qual cada um de vocês pedirá as bênçãos do Natal, é a aprovação em um dos próximos concursos públicos. Que assim seja! Faço votos de que vocês voltem a estar comigo nesta mesma época, no próximo ano, mas para comemorarmos juntos um novo Natal e o seu feliz cargo novo.
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