Eduardo Militão
O ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP), a deputada Sandra Rosado (PSB-RN), a deputada Tonha Magalhães, o deputado José Genoino (PT-SP), o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), o primeiro secretário, Rafael Guerra (PSDB-MG), o deputado Paes Landim (PTB-PI), a deputada Iriny Lopes (PT-ES). Aparentemente, nenhum deles parece ter se importado em cortar seus cabelos com a moça de longos e exóticos cabelos louros que atende pelo apelido de “Barbie”. Todos eles, porém, correm o risco de trocar de cabeleireira. Barbie, ou Rozália da Cunha Marcos, deverá deixar de atender no salão que funciona no subsolo do anexo IV da Câmara. A baiana de 43 aos, divorciada e mãe de duas filhas, reclama que está sofrendo assédio moral de seus patrões no salão, que repetidamente afirmam que ela, por conta de seu visual exótico, não deveria trabalhar na Câmara.
A razão do assédio, seria, segundo reclama Rozália, seu aspecto, considerado “pouco distinto” para os padrões do Congresso. Por ali, já circulou uma deputada que pintava os cabelos para combinar com a cor de seus vestidos (a ex-deputada Ester Grossi, do PT do Rio Grande do Sul). Circula um deputado que, por questões regionais, de vez em quando trabalha de bombachas (Pompeu de Mattos, do PDT do Rio Grande do Sul). E outro que, também por questões regionais, vai ao Congresso com chapéu de vaqueiro (Mão Branca, do PV da Bahia).
Mas, desgostosa, Rozália afirma que, por conta do seu visual, tem tido conflitos com sua patroa. Outra razão para sua saída é que ela não tem carteira assinada.
“Ela diz que eu não tenho perfil para trabalhar na Câmara, que eu nunca deveria ter saído da Ceilândia, que eu pareço um travesti. Diz que a porta da rua é a serventia da casa”, afirma Rozália. A patroa nega qualquer conflito com a cabeleireira. Os sindicatos patronal e dos profissionais da beleza esclarecem que não possuir carteira não significa necessariamente uma irregularidade, porque o salão possui contratos de parceria com as 22 pessoas que lá trabalham, o que é previsto na convenção coletiva da categoria.
Uma ex-funcionária do salão disse ao site que presenciou o resultado de uma conversa de Barbie com a patroa. Ela não ouviu os diálogos, mas teve que ajudar Rozália a se recompor, pois ela chorava muito depois da conversa. Pedindo para não ser identificada, a ex-funcionária diz que deixou o salão porque a patroa exigia que os produtos de beleza – comprados pelas parceiras – fossem de marcas mais caras, o que reduziu os lucros dos empregados no subsolo do anexo IV.
A patroa de Rozália, a empresária Andréa Falcomer, se disse surpresa com as críticas. Afirmou ao Congresso em Foco que nunca foi procurada por Rozália e nem por qualquer “parceira” — “elas não são funcionárias”. Falcomer nega qualquer assédio moral e a exigência de uso de produtos de beleza mais caros por suas colaboradoras.
A dona do HD Salão de Beleza Ltda., que paga 3 mil por mês de aluguel à Câmara e cujo contrato vence em julho, lembra que possui contrato de parceria com as 22 pessoas que lá. Os parceiros repassam a ela 50% do que ganham. Com o restante, têm que arcar com a compra de produtos de beleza e com as despesas de transporte e alimentação.
O sindicato patronal disse à reportagem que os contratos do HD foram atestados. O sindicato dos empregados afirmou que têm diversos pedidos de fiscalização contra fraudes, mas nenhum contra o HD.
“É meu estilo”
Dona de uma rotina que começa às 4h30 da manhã, Rozália faz uma leitura da Bíblia, toma café e gasta cerca de 30 minutos ajeitando seu penteado, que chama a atenção de quem anda na Câmara e, segundo ela, incomoda sua patroa. “No caso do meu cabelo, é mais um penteado, é um estilo, eu uso alguns rabos de cavalo, mas você tem que estar sempre mudando, pra não ficar todo dia naquela mesma coisa.”
Rozália pega um ônibus em Ceilândia, cidade mais populosa do Distrito Federal e chega à Câmara pouco antes das 8h, quando começa seu expediente no salão. Deixa o local às 18h e chega em casa até as 21h.
Nesse período, o cabelo de Barbie chama a atenção. É o seu estilo. “Isso tudo está dentro do meu padrão de cultura, da minha arte, da minha profissão. Faz parte do meu eu, meu ego, meu sentimento”, explica.
O estilo exótico de Rozália já atraiu a atenção dos deputados, como Clodovil Hernandes (PR-SP), o falecido estilista e apresentador de programas de televisão. “Já ganhei clientes assim, normalmente pessoas que gostam desse estilo são pessoas do mundo da moda. O Clodovil gostava muito do meu cabelo, mas ele nunca quis cortar. Ele só visitou o salão.”
A cabeleireira chegou a escrever uma carta a Clodovil pedindo um salão de beleza de presente. Mas o deputado faleceu sem receber a correspondência.
Para a maioria dos deputados que atende, Rozália faz cortes tradicionais. A cabeleireira simpatiza com a personalidade alguns. Sobre Sandra Rosado: “Uma mulher maravilhosa, já escovei muito o cabelinho dela”. Aldo Rebelo: “Desde quando ele era presidente, eu ia lá na residência oficial cortar o cabelinho dele, uma pessoa muito humana, que eu respeito muito”.
A cabeleireira chegou a conversar com a então deputada Ester Grossi, conhecida por seu cabelo colorido, por encontrar semelhança no seu estilo com o da parlamentar. Apesar da simpatia, Rozália, nascida na Bahia e moradora do Distrito Federal, nunca votou em nenhum dos congressistas com que tem ou teve contato.
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