Jura o PSB que os acontecimentos em Belo Horizonte, Fortaleza e Recife não sinalizam um rompimento futuro com o PT e a opção por um voo solo já a partir de 2014, na tentativa de reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Diz o partido que se tratam de três casos localizados. Vamos primeiro aos argumentos dos socialistas para depois comentá-los.
Em Recife, diz a turma do PSB, quem se enrolou foi o PT. Ali, o plano conveniente para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, era apoiar a candidatura petista de Maurício Rands. Tudo degringolou por conta da briga com o prefeito de Recife, João da Costa. Ele se impôs, venceu Rands na prévia, a direção nacional do PT interveio. Como a confusão petista não se resolvia, Eduardo Campos resolveu exonerar da sua secretaria de governo eventuais candidatos próprios. Precisava fazer isso dentro do prazo de desincompatibilização ou ficaria sem alternativa eleitoral diante da confusão petista. Depois disso, a intervenção do PT não levou à candidatura de Rands, mas à candidatura do senador Humberto Costa. Humberto, entende o PSB, não foi capaz de pacificar o PT internamente. Eduardo Campos não quis ficar associado a essa confusão, e lançou seu próprio candidato, Geraldo Júlio.
Em Fortaleza, a prefeita petista Luizianne Lins nunca se entendeu com o governador Cid Gomes, do PSB. A possibilidade de entendimento ali, diz o PSB, nunca foi concreta. Assim, o PT vai de Elmano de Freitas, e o PSB vai com Roberto Cláudio.
Em Belo Horizonte, o problema está relacionado à aliança nas eleições proporcionais. O PT argumenta que o acordo com o PSB previa que a aliança se desse não apenas na eleição de prefeito, mas também nas eleições para vereador, e o PSB teria descumprido tal acordo, gerando o rompimento. Um rompimento aos 45 do segundo tempo, porque o PT chegou a participar da convenção do PSB que homologou a candidatura à reeleição de Márcio Lacerda – na foto final da convenção, o prefeito aparece de braço dado com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. A candidatura de Patrus Ananias apareceu como solução no meio de uma confusão, apenas na segunda-feira, quando o prazo de homologação de candidaturas já tinha até acabado. Como isso foi possível? Quando se deu a confusão no dia 30, prazo final do calendário eleitoral para a homologação de candidaturas, o vice-prefeito de Belo Horizonte, Roberto Carvalho, do PT, registrou seu nome para a disputa. A possibilidade jurídica de Patrus virar candidato depois da convenção dependia de Roberto Carvalho renunciar à sua candidatura para que o PT pudesse, assim, fora do prazo, trocar seu candidato. Carvalho retirou sua candidatura ontem (4). Patrus, assim, lança-se candidato atrasado, no meio dessa confusão.
Diz o PSB que são três problemas isolados, que não mudam a disposição do partido nem de seu líder principal, Eduardo Campos, de continuarem aliados do PT em nível nacional. Uma fonte do partido faz, diante disso, alguns raciocínios. Garante ele que seria uma grande precipitação de Eduardo Campos romper com isso agora, imaginando tornar-se já uma opção para a Presidência da República em 2014. Diz que o PSB avalia que a política do café-com-leite (que marcou a República Velha brasileira) na prática ainda não acabou no Brasil. Por esse raciocínio, seria quase que eleitoralmente impossível para um candidato à Presidência viabilizar-se sem ter um suporte forte em São Paulo ou em Minas Gerais. Se Minas Gerais é um domínio de Aécio Neves, Eduardo Campos só consegue viabilizar-se se buscar um suporte em São Paulo. E o suporte possível para ele em São Paulo é o ex-presidente Lula. Em 2014, Lula estará com a reeleição da presidenta Dilma. Não dá para brigar contra isso. Assim, diz a fonte do PSB, o horizonte de Eduardo Campos é 2018: apoiar Dilma em 2014 para tentar obter quatro anos depois a contrapartida de Lula.
E é aí que se concentraria hoje o problema. Para se viabilizar como opção em 2018, como deseja, Eduardo Campos precisa fazer com que o PSB cresça em termos de relevância política. Ao crescer, o PSB provoca ciúmes em outros parceiros, especialmente no PMDB. O multifacetado PT também não aceita tais planos pacificamente: há uma parcela do partido que sempre se opôs à opção de ter o PSB como parceiro preferencial. Depois das eleições de 2012, quando o PSB pulou de três para seis governadores e multiplicou também sua participação no Congresso, Eduardo Campos interrompeu a comemoração de seus pares para dizer o seguinte: “Vocês hoje comemoram, mas preparem o lombo, que vão vir firmes pra cima da gente”.
Bem, essa é a versão do PSB. Para o PT, hoje, porém, há três fatos concretos. O rompimento das alianças em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte cria problemas para o partido nas eleições municipais. O quadro atual não parece nada bom para o desempenho petista nas capitais este ano. Vai ser preciso gastar-se muita sola de sapato para revertê-lo. Hoje, o PT não parece capaz de vencer em São Paulo. É preciso saber como vai evoluir essa candidatura atrasada em Belo Horizonte. O domínio de Eduardo Campos certamente vai atrapalhar os planos de Humberto Costa em Recife. Para aumentar o rolo, Maurício Rands deixou o PT e vai apoiar o candidato do PSB. O mesmo quadro pode se dar com o domínio de Cid e Ciro Gomes em Fortaleza. No Rio, o partido não tem candidato próprio, está dividido quanto ao apoio ao prefeito Eduardo Paes, do PMDB, e parte diz que vai apoiar Marcelo Freixo, do Psol.
Enfim, pelo menos no quadro do momento, o PT vai ficando fora do comando das principais capitais do país. É bastante improvável que, depois, ao deglutir as derrotas, o partido vá admitir publicamente que elas se deram por seus próprios erros. Vai procurar outros culpados. E o discurso de agora – quando critica os rompimentos – já é no sentido de, pelo menos em parte, responsabilizar o PSB.
É uma situação que pode precipitar os planos de Eduardo Campos. E, nesse sentido, o governador de Pernambuco revela uma impressionante capacidade de ao mesmo tempo manter variadas pontes. Ao mesmo tempo em que tenta preservar seus contatos com o PT e com Lula, ele não desfaz aproximações com Aécio Neves, do PSDB. Mantém na manga – a ideia está longe de ser descartada – a possibilidade de fazer uma frente com o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, na Câmara, o que transformaria a união das duas legendas na maior bancada. E achou um jeito de se aproximar até do PMDB – o senador peeemedebista Jarbas Vasconcelos vai apoiar seu candidato a prefeito.
Resta saber até onde Eduardo Campos será capaz de levar esse jogo múltiplo. Política é disputa e, no final, só há lugar para um. Alguém vai perceber que será descartado no meio do caminho. Essa é hoje a sensação do PT. “É legítimo que o PSB queira crescer. Mas é legítimo que o PT não queira que esse crescimento se dê em cima de tudo o que o partido construiu ao longo do tempo”, disse ontem (4) Humberto Costa a respeito dessa encrenca toda. Enfim, para que seus planos deem certo, Eduardo Campos precisa combinar os lances com os adversários, como diria Garrincha. E os adversários sempre podem não topar.
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