(De Durban) Em julho, escrevi sobre o péssimo atendimento no embarque do terminal 2 do Galeão, com uma demora de duas horas provocada por um gargalo nos detectores de metal e no controle de passaportes. A imprensa vem noticiado fartamente o caos nos aeroportos brasileiros. Há duas semanas, convoquei na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, o ministro dos aeroportos, Wagner Betancourt, que expôs uma série de planos e recebeu várias sugestões minhas para melhorar a situação (propus uma ouvidoria, um “prefeitinho” como gestor de cada aeroporto, uma conexão hidroviária para o Galeão, etc…)
Pois na sexta-feira voltei a ser testemunha (e vítima) da bagunça e roubalheira nos nossos aeroportos. Embarquei de tarde num voo da Gol para São Paulo onde pegaria a conexão para Johanesburgo e Durban. Cheguei cedo, pois o trânsito estava bom. Despachei a mala com minhas roupas e documentos da Conferência. Pedi para a funcionária do check in lacrar a mala com uma tira plástica e pensei premonitoriamente: será que vão perder? Percebi que ela endereçou a mala para DUR e me garantiu que não precisaria retira-la em Guarulhos nem em Johanesburgo. Ao passar para a área de embarque, me chamou atenção o voo da Gol não constar do painel. Um funcionário de disse que era pelo fato de ser um “voo novo”. E daí? Não entendi direito…
Na chegada em Johanesburgo, anunciaram que todos deveriam recolher as bagagens. A minha não apareceu. Em Durban também não apareceu. O funcionário da South Africa Airways (SAA) consultou o computador e me deu a informação de que a mala ficara no Rio! Começou uma via crucis de telefonemas para call services que deixam você pendurado e nunca respondem, funcionários que não informam nada e caras ligações para o Brasil para minha secretária, que passou a receber as informações mais contraditórias. A Gol informou que tinha mandado para a África do Sul e a SAA garantindo que não, que em seu sistema nunca constou o recebimento da mala em SP.
Claramente foi roubada ou no Galeão ou em Guarulhos. Meu colega deputado Mendes Thame chegou aqui com a esposa e as duas malas tiveram seus cadeados quebrados e vários itens furtados. O que está acontecendo nos nosso aeroportos já não são mais roubos ocasionais. Virou arrastão. Arrastão aeroportuário no aguardo da Rio + 20, Copa do Mundo e Olimpíadas.
Kyotinho?
(Durban) As expectativas são tão baixas que a definição de sucesso virou minimalista. Se sair um “Kyotinho” já vai ser considerado quase um triunfo. “Kyotinho”, na definição de um diplomata, seria uma segunda fase de compromissos do Protocolo de Kyoto, em que basicamente a Europa, que hoje responde por 16% das emissões, quando muito, manteria seus compromissos ainda que outros países como Japão, Russia, Canadá e Austrália – que agora formam com os EUA o chamado umbrela group (grupo guarda-chuva, nome sugestivo…) pulem fora. Em troca o Basic, particularmente a China, acenaria com a aceitação de “fazer mais” em termos de mitigação e de aceitar no futuro (2020?) metas obrigatórias desde que os EUA também aceitem.
Mas mesmo isso não está garantido porque, para os EUA, o ideal seria que não houvesse nem Kyotinho, e tem a India fazendo seu jogo. Enquanto isso, continuam aparecendo dados cada vez mais graves sobre os efeitos exponenciais do aquecimento global já ocorrido: liberação massiva de Gás do Efeito Estufa (GEE) no derretimento do parmafrost do Ártico, na recente seca da Amazônia, na acidificação dos oceanos que, além disso, vão perdendo sua capacidade de absorver CO2. São dois mundos a parte: o do que a ciência trata e o que o processo COP negocia.Universos paralelos. Coisa de filme de terror.
Do bom uso de baixas expectativas
(De Durban) O fato de se esperar tão pouco da COP 17 de Durban acaba paradoxalmente jogando a seu favor. É patente que não sairá nenhum acordo com um aprofundamento quantitativo de metas, quer as assumidas pelos países do Anexo I do Protocolo de Kyoto, obrigatórias, quer das voluntárias anunciadas e “anotadas” em Copenhagen e Cancún. Por outro lado, como já mencionamos, o Japão, a Rússia, a Austrália e o Canadá tendem a sair do Protocolo de Kyoto que haviam assinado. Ainda assim, surge um sopro de otimismo impulsionado pelo ativismo brasileiro de conseguir com a União Européia uma segundo período de compromisso do protocolo de Kyoto – ainda que limitado ao tal Kyotinho – seguido de uma negociação séria para um novo acordo geral para o Clima, no marco da Convenção, firmada na Rio 92, com metas obrigatórias para todos, negociadas até 2015, com vigência a partir de 2020. Há indício de que a China se prepara para aceitar esse caminho.
A diplomacia brasileira com os embaixadores Luis Alberto Figueiredo e André Correa do Lago vem tendo um papel importante nesse processo, e o nosso discurso, que na reunião do Basic, em Pequim, havia sido tímido, tornou-se mais firme e afirmativo, criando um efeito positivo na reunião. O Brasil tornou-se um ator central no processo, capaz de fazer a ponte entre o Basic e a UE e também manter um diálogo com os EUA, que todos sabemos não vai se mover até uma eventual reeleição de Obama, em novembro de 2012.
Quem vem surpreendendo pelo seu avanço é a China. No Hotel Royal, participei de um brain storming de um seleto grupo de integrantes ligados à London School of Economics, do Grantham Research Institute, com cientistas e acadêmicos dos países do Basic e da UE. Os professores chineses Wang Ke, Yuan Wei e Jiang Kejun apresentaram estudos de modelagem, onde pela primeira vez mostravam cenários de redução absoluta de emissões, com vistas a 2030. Até agora os chineses sempre apresentam cenários de redução de intensidade de carbono por ponto percentual do PIB, nunca reduções absolutas de emissões. A qualidade dos estudos é impressionante e indicativa de um esforço científico/acadêmico concentrado, refletindo um vontade política.
Claro, nada do que está sendo colocado ainda lida com a distância abissal entre o cenário mais otimista das negociações e o mínimo que os cientistas dizem ser necessário para manter a concentração de GEE em 450 ppm e o aumento da temperatura em 2 graus. Mas, em termos relativos representa, sem dúvida, um avanço dentro do labirinto.
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