Ronaldo Brasiliense*
No Brasil, como na Revolução dos Bichos, de George Orwell, todos são iguais, mas os porcos – claro – são mais iguais. A Justiça é extremamente injusta e destina-se, como já alertava Heleno Fragoso, aos pobres, aos pretos e às prostitutas. Criou-se no imaginário nacional – e é a pura verdade – que rico não vai para a cadeia.
Cada vez mais, avolumam-se os casos de abastados cidadãos que saqueiam os cofres da Nação, roubam merenda escolar das crianças, a aposentadoria dos velhinhos e os empregos dos jovens e continuam impunes.
A senha da impunidade é mais ou menos a seguinte: dê um golpe milionário, faça remessa ilegal de dinheiro para paraísos fiscais no exterior, fuja enquanto puder e, depois, com um bom advogado na defesa da sua causa, empurre o processo com a barriga até a prescrição. Nelito Cardoso, irmão do ex-governador mineiro Newton Cardoso – candidato ao Senado pelo PMDB de Minas que tem o apoio do presidente-candidato Lula – mandou matar o advogado de posseiros Gabriel Pimenta, em 1982. Fugiu e agora, ao ser preso, foi beneficiado com a decisão de uma desembargadora do Pará que sentenciou que seu crime estava prescrito. Está livre e rico.
A advogada Jorgina Maria de Freitas Fernandes, uma das 15 integrantes da quadrilha que fraudou em mais de US$ 500 milhões o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) entre 1990 e 1991, está presa (uma exceção à regra), em vias de ser libertada sem que o governo brasileiro tenha conseguido repatriar o seu, o meu, o nosso dinheirinho desviado para o exterior. Quando ganhar liberdade, Jorgina terá muito tempo livre para gastar o que roubou.
Salvatore Cacciola quebrou o Banco Marka, deu um prejuízo superior a US$ 1 bilhão aos cofres da Nação, fugiu para a Itália depois de se valer de um habeas-corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), e está livre, e rico, curtindo as delícias da Europa, com incursões a Paris sempre que possível.
Só para ser chato: vocês sabem o que fazem Marcos Magalhães Pinto e Ângelo Calmon de Sá, banqueiros que quebraram os bancos Nacional e Econômico durante os mandatos do imperador Fernando Henrique? Estão soltos… E ricos, como sempre foram. Calmon de Sá ainda se dá ao luxo de ser latifundiário no sul do Pará, região onde eclodem diuturnamente os conflitos pela posse da terra e os assassinatos no campo proliferam, inclusive em seu latifúndio.
Para não dizer que não falei das flores, o que comentar sobre políticos como o ex-senador Ernandes Amorim, de Rondônia, que me processou quando fiz matéria mostrando seus mais de 20 processos que tramitavam no STF (formação de quadrilha e tentativa de homicídio, entre outros)? E o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que não vive sem mandato para não perder a impunidade (ops, desculpem… é imunidade!) parlamentar e o foro privilegiado, e que agora é do "conselho político" da campanha à reeleição do presidente Lula?
O que mais entristece é saber que boa parte dessa turma – incluindo mensaleiros, vampiros, sanguessugas e políticos sem currículo mas com prontuário – vai se eleger em outubro e voltar ao Congresso Nacional. Políticos do tipo daquele ex-bispo Rodrigues, da Igreja Universal, que, "flex", além de mensaleiro foi sanguessuga e se envolveu em outras tantas falcatruas.
Aguardem: Jader Barbalho, Antonio Palocci, Valdemar Costa Neto e companhia estarão de volta ao Parlamento, participarão ativamente do futuro governo – seja de Lula ou de Alckmin -, continuarão sendo "fonte" de informação para muitos coleguinhas e integrarão a lista de "políticos mais influentes do Congresso Nacional" que o Diap divulga anualmente e que, nas campanhas eleitorais, serve de trunfo para essa raça, como diria o Jorge Bornhausen.
No Brasil, a impunidade é a mãe da corrupção. Até quando?
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